Projeto do IFCE em Juazeiro do Norte desenvolve protótipo para monitorar
Soldadinho do Araripe
Espécie em perigo de extinção e exclusiva do cariri cearense completa 28 anos
neste domingo (15).
1 de 1 O soldadinho-do-araripe foi descoberto em 1996 na Chapada do Araripe,
região Nordeste do Brasil. — Foto: Andrei Arrais/Arquivo Pessoal
O soldadinho-do-araripe foi descoberto em 1996 na Chapada do Araripe, região
Nordeste do Brasil. — Foto: Andrei Arrais/Arquivo Pessoal
Símbolo do cariri cearense e espécie de ave exclusiva do Estado, o
soldadinho-do-araripe, completa 28 anos desde sua descoberta. Em 15 de dezembro
de 1996, ele foi encontrado pela primeira vez na encosta da Chapada do Araripe.
Conhecida também como lavadeira-da-mata (fêmea) ou lavadeiro (macho), a ave está
na lista da plataforma “Salve”, do Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade (ICMBio) como “criticamente em perigo” de extinção.
O desmatamento e a diminuição das fontes naturais dentro da Floresta Nacional do
Araripe têm preocupado pesquisadores e ONGs que realizam monitoramento do
soldadinho-do-araripe.
Pensando em uma melhor forma de colaborar com o monitoramento do pássaro,
estudantes do IFCE-Campus Juazeiro desenvolveram um projeto para verificar a
presença da ave dentro da floresta. O SIMBA (Sistema Integrado de Mapeamento
Brasileiro de Aves) é um protótipo ainda em fase de testes que faz um
reconhecimento sonoro da espécie.
Para rastrear a ave, são instaladas estações na floresta que detectam e
reconhecem o som produzido pelo soldadinho-do-araripe, assim fica mais fácil
mapear os locais onde os pássaros estão.
“A gente começou a ideia de monitoramento do soldadinho-do-araripe porque a
gente via que tinha um intervalo muito grande entre os censos, mais de cinco anos. Isso, de certa forma atrapalha as ações que os órgãos ambientais vão ter
na preservação dessa ave. Então montamos o sistema. Pegamos o canto dessa ave
com alguns ruídos de fundo e treinamos para quando a estação detectar o canto do
soldadinho envie essas informações para outra estação por uma rede de longo
alcance. Essas informações são enviadas para uma estação de outro tipo que
chamamos de “coleta e transmissão”, que recebe esses dados com horário, data e
estação, e envia por meio de wi-fi para o site do projeto”, explica a estudante
Cínthia Sobral.
“Com nosso sistema de monitoramento a gente poderia ver em tempo real se esse
pássaro voltou a viver onde ele não vivia mais ou se ele desapareceu de outro
lugar. Por exemplo, se uma estação que sempre detectava o soldadinho deixar de
detectar em algum momento significa que algo de errado aconteceu ali, e isso
facilitaria a atuação dos órgãos ambientais”, enfatiza a estudante.
Também no projeto, o estudante Joédson Maia, teve dificuldade na busca pelo
quantitativo da espécie.
“O SIMBA veio justamente para auxiliar nessa questão populacional, saberíamos se
aumentou ou diminuiu, caso ele tenha aparecido ou não em uma certa estação”,
relata o estudante.
O protótipo já foi apresentado em algumas feiras de ciência e recebeu
premiações, como o 1° lugar no Prêmio Ecossis de Inovação e Sustentabilidade. O
professor e orientador do projeto, Maurício Almeida, afirma que o intuito
principal é que esse conhecimento chegue até a população.
A ideia que a gente tem é disponibilizar esse conhecimento de forma gratuita
para que professores e alunos da rede estadual, municipal e particular possam
também começar a desenvolver esse sistema e assim aplicar o conhecimento do
teórico ao prático, para o problema local, de suma importância que é a
preservação do soldadinho-do-araripe. Então a nossa ideia é juntar o nosso
conhecimento científico com a necessidade que nós precisamos da preservação da
espécie e assim popularizar mais ainda a importância de trabalhar na preservação
da ave”, explica o professor.
De acordo com o último censo realizado pela ONG Aquasis, que trabalha para
evitar a extinção da espécie Antilophia bokermann (soldadinho-do-araripe), em
2022, foram contabilizados 213 casais da ave nas cidades de Barbalha, Crato e
Missão Velha, únicos municípios que têm registro do pássaro.
Como a espécie se alimenta de plantas nativas da região e prefere locais com
água corrente, a preservação da Chapada do Araripe é de suma importância para a
sobrevivência da mesma.
“A gente precisa que o habitat dele seja preservado. A característica do
soldadinho é viver exatamente nessa condição climática que a nossa chapada
permite. Então qualquer alteração nas condições da Chapada o compromete
diretamente. O monitoramento identifica de fato qual é a região que ele vive, as
condições climáticas que ele vive e que são favoráveis para perpetuação da
espécie. Então a gente precisa sim da preservação da Chapada para que isso seja
possível”, reforça o professor.