Pombeba: criada artificialmente a partir de despejo, ilha acumula 80 ton de lixo na Baía de Guanabara
ONGs que monitoram a ilha alertam para o excesso de lixo, principalmente plástico. Colchão, sofá, lâmpada, boneca e ‘mar’ de pneus – até de avião – tomam conta da areia.
Ilha artificial é destruída pelo despejo de lixo
Ilha artificial é destruída pelo despejo de lixo
Uma ilha artificial, criada pelo homem com despejos de materiais de dragagens do porto do Rio, agora está sendo destruída… pelo homem. A vegetação da Ilha da Pombeba perde espaço para os plásticos e todo tipo de resíduo: cerca de 80 toneladas de lixo ocupam esse pedaço de terra verde na Baía de Guanabara.
Em fevereiro de 2024, participantes de duas organizações não governamentais estiveram na ilha localizada em frente ao Cais do Porto do Rio para uma visita técnica. Na época, estimaram haver cerca de 80 toneladas de resíduos sólidos no local.
Dez meses depois, ao retornarem em uma força-tarefa com mais de 10 voluntários, foi recolhida mais de meia tonelada de lixo em cerca de 30 minutos de trabalho. Uma tartaruga morta também foi encontrada.
O que era para ser apenas faixa de areia some no meio de tanto lixo.
“Tem o lixo que desce pelos rios quando chove, o lixo que é deixado nas margens da Baía de Guanabara e quando chove ou venta ele vem para a água, tem o lixo da indústria da pesca. Tem o lixo da indústria portuária e tem o lixo do consumo das pessoas embarcadas que estão curtindo o dia num barco e jogam na água”, explicou Bruno Campos, fundador da ONG Limpeza de Praias.
Colchão, sofá, lâmpada, boneca e um “tsunami” de pneus, que incluem de avião, compõem o cenário desolador.
A força das marés leva para a ilha o lixo descartado pelas pessoas na Baía de Guanabara. “Muito pneu e quando a maré baixa pra caramba assim, (aparece) mais ainda”, afirma Juliana Poncioni, engenheira ambiental e fundadora da organização Nas Marés.
A água que chega na ilha é turva e com cheiro bem forte. A Secretaria de Estado de Ambiente e Sustentabilidade (Seas-RJ) e o Inea afirmam que, duas vezes por semana, monitoram a qualidade da água de 119 pontos da Baía de Guanabara, principalmente, na saída de rios e canais.
O Inea diz ainda, em nota, que, em 2023, instalou 17 ecobarreiras em rios e canais que desembocam na baía e que foram retiradas, nos últimos dois anos, 155 toneladas de resíduos sólidos do canal do mangue, que tem ligação com a Ilha da Pombeba.
“Essa ilha é apenas um retrato da Baia de Guanabara. Se a gente for pelas centenas de quilômetros de margem de baia e de mangue, eles provavelmente estão todos assim. E aqui é um pouco mais desafiador porque é uma ilha, então não tem como chegar de carro, nem de caminhão. Tudo teria que ser feito através de barcos. O trajeto é muito assoreado, tem muito lixo então precisaria de uma operação robusta com barcos grandes de apoio para poder fazer a retirada desse lixo. apoio em terra para poder receber esse lixo”, explica Bruno.
“Dá um nó na garganta, principalmente quando a gente vai buscar ajuda e não consegue. A gente compartilha isso aqui com as autoridades, com as empresas, com outras pessoas e a gente tem dificuldade de conseguir ajuda, dificuldade de conseguir suporte financeiro, suporte logístico para resolver uma partezinha desse problema. Todos nós fazemos parte do problema e todos nós temos que fazer parte da solução. seja no nosso bairro, seja na nossa casa, na nossa escola, no nosso trabalho, na nossa igreja, no nosso clube. A gente tem que fazer parte da solução”.
O Instituto Estadual do Ambiente, o Inea, afirma que fez, só em 2024, 150 vistorias no entorno da Baía de Guanabara e aplicou 172 multas por danos ambientais. Diz ainda que, entre as atividades fiscalizadas, estão o Porto do Rio, estaleiros, indústrias e areais.