Imagens raras restauradas pelo Arquivo DE Cidade do Rio de Janeiro revelaram um dos episódios mais marcantes e controversos da história urbana da capital: a destruição do Morro do Castelo, considerado o berço da cidade.
Entre o fim do século 19 e as primeiras décadas do século 20, a colina onde surgiram as primeiras igrejas, escolas e prédios administrativos do Rio foi desmontada para abrir espaço ao projeto de modernização do Centro, em um processo que removeu centenas de famílias, apagou construções coloniais e transformou a paisagem da cidade para sempre.
O material revelou também que a primeira opção para a modernização do Centro era a demolição do Pão de Açúcar, ideia que acabou abandonada.
O Morro do Castelo ocupava uma área de cerca de 184 mil metros quadrados, o equivalente a 25 campos de futebol, e chegava a 63 metros de altura. Foi ali que nasceram as primeiras estruturas do Rio de Janeiro: igrejas, casas, escola, Câmara e cadeia.
Durante séculos, o morro foi um dos endereços mais valorizados da cidade, ocupado por membros da elite e por instituições religiosas.
A partir da segunda metade do século 19, o Morro do Castelo entrou em um processo de decadência. A área passou a ser associada a problemas sanitários, epidemias e à dificuldade de circulação de ar no Centro da cidade.
Pouca gente sabe, mas antes da destruição do Morro do Castelo, chegou-se a cogitar o desmonte do Pão de Açúcar. A informação aparece no documentário e foi destacada por Sinai Sganzerla.
O primeiro ataque ao Morro do Castelo aconteceu no início do século 20, durante a reforma urbana do prefeito Pereira Passos. A intenção era abrir a então Avenida Central, hoje Avenida Rio Branco.
A derrubada do Morro do Castelo não foi apenas uma decisão urbanística. Por trás do discurso de modernização e higiene urbana, havia uma complexa rede de interesses políticos e econômicos que ajudou a acelerar o fim de um dos lugares mais antigos da cidade.
Além da destruição física, o Morro do Castelo também carregava um imaginário que atravessou gerações. Entre becos, igrejas e casarões coloniais, surgiram histórias que misturavam fé, mistério e denúncia social, algumas delas registradas em documentos, outras preservadas pela memória oral dos antigos moradores.
Para especialistas, a destruição do Morro do Castelo foi também um ritual de despedida de um dos lugares mais simbólicos da história do Rio. Contudo, antes que as escavadeiras concluíssem o trabalho, a cidade assistiu a um último gesto de preservação da memória.




