Imbecil motivado: perigo para a democracia brasileira

Diário do Estado

Nada é mais perigoso do que um imbecil motivado

O competente colunista do Jornal do Commercio, Igor Maciel, definiu como “imbecis motivados” os quatro oficiais do Exército e um policial, presos pela Operação Contragolpe, suspeitos de arquitetar um plano terrorista que incluía na trama criminosa, os assassinatos do Presidente Lula, o Vice-Presidente Alckmin e o Ministro do STF Alexandre de Moraes.

Nada é mais perigoso do que um imbecil motivado, equivalente, talvez, ao “burro ativo” ambos sob o pálio da estupidez humana. O mais grave é o crescimento desses personagens movidos pelo destrutivo sentimento do ódio que se alimenta da “polarização afetiva”, assunto que abordarei no final do artigo. A resposta é fazer valer, plenamente, os processos estabelecidos pelas instituições democráticas.

Estes fatos mudaram o rumo do que imaginara escrever sobre a reunião do G2 (grupo de países que representam 85% da economia global 75% do mercado internacional e 2/3 da população do planeta), com ênfase na positiva participação do Presidente Lula que fez valer a nossa importância estratégica como potência ambiental (parceria com o Reino Unido de investimentos para triplicar a capacidade instalada de fontes energética limpas até 2030) e, ao mesmo tempo, na condição de uma grande nação produtora de alimentos lançar, juntamente, com 148 membros fundadores (82 países), a Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza. Agora, o desafio é tirar do papel os compromissos assumidos.

Pois bem, o choque dos eventos acendeu as fatídicas lembranças do mês de novembro, ao longo de nossa história, o que põe em xeque os mitos da afabilidade e cordialidade do povo brasileiro. A rigor, os comportamentos coletivos dependerão, sempre, de causas complexas, profundas e circunstâncias mobilizadoras.

No dia 15 novembro de 1889, o povo assistiu “bestializado” (apático, excluído, não-cidadão, na excelente interpretação da obra de José Murilo de Carvalho) uma quartelada (a Proclamação da República), liderada pelo Marechal Deodoro da Fonseca. Foi o golpe de misericórdia na cambaleante monarquia constitucional e pôs fim a um reinado quase cinquentenário do Imperador D. Pedro II. Estadista, o exemplar monarca deixou como legado um Brasil unificado, graças à sabedoria, firmeza, austeridade e equilíbrio com que conduziu a gestão governamental.

No dia 5 de novembro de 1897, ao recepcionar tropas que massacraram os rebeldes de Canudos, o primeiro presidente civil, eleito pelo voto direto, e o primeiro a cumprir um mandato completo (1894-1898), Prudente de Moraes (1841-1902), sofreu um atentado cometido pelo jovem praça de infantaria Marcelino Bispo de Melo que resultou na morte do marechal Carlos Machado de Bittencourt, Ministro da Guerra, ao proteger o Presidente do punhal assassino.

O 11 de novembro de 1955 passou para história como o dia do Contragolpe ou Golpe Preventivo liderado pelo General Henrique Lott. Após o trágico desfecho do suicídio de Vargas, o país vivia tensões de recorrentes crises políticas e um tumultuado período eleitoral. A chapa vitoriosa JK/Jango na eleição de 1955 despertou o furor golpista da oposição udenista somada aos receios do esquerdismo janguista, incitados pela oratória brilhante e contundente de Carlos Lacerda.

O Presidente interino, obedecida a linha sucessória, o Deputado Carlos Luz, (em substituição ao Presidente Café Filho, afastado por motivo de saúde) no minúsculo mandato de três dias, demitiu o Ministro da Guerra, o General Lott, oficial de incontestável liderança entre os militares que, imediatamente, mobilizou as tropas. Paralelamente, foi votado o impeachment de Carlos Luz, e com o afastamento definitivo de Café Filho, assumiu a Presidência da República, o Senador Nereu Ramos, completando-se o que o próprio o legalista Lott referiu como o “retorno aos quadros constitucionais vigentes” com a posse dos eleitos em 31 de janeiro de 1956.

Na noite da quarta-feira, dia 13 de novembro do ano em curso, Francisco Wanderley Luiz, morreu após disparar uma série de explosivos em frente ao Supremo Tribunal Federal e detonado um deles junto ao próprio corpo. Cenário de horror: a autodestruição em nome do aniquilamento de um dos poderes que compõe a institucionalidade. Com palavras mais cruas: morte à democracia e todos os que nela acreditam com imperfeições, mas com a grandeza e o vigor político de resistir e triunfar sobre seus inimigos.

Em menos de uma semana, dia 19, a sociedade brasileira tomou conhecimento do gravíssimo relato de um “plano de golpe”, não bastassem o episódio dramático de oito de janeiro de 2023 e todo um processo político que aprofundou a radicalização, a retórica populista e gestos de inegável desapreço pelas instituições democráticas. Os fatos revelam uma violência multifacetada. A questão central: que tipo de tipo de violência é esta que toma corpo e invade coração e mentes (doentias?) das pessoas?

Respeitável cientista político e colunista Folha, Marcus André Melo é um destacado estudioso da relação entre o fenômeno da polarização afetiva com a violência política e atitudes antidemocráticas. Obedecendo ao rigor científico de suas análises, baseadas em pesquisas realizadas nos EUA, Melo não estabelece uma relação de causalidade.

Entretanto, distingue a polarização afetiva da polarização ideológica e/ou programática. A polarização afetiva atua na esfera da animosidade percorrendo o que denomina de “rota das emoções” e nela encontra o líder que é percebido e introjetado como um símbolo, ou seja, representa o que é e não o que faz ou deixa de fazer. Não importa a efetividade ou entrega de resultados das políticas públicas. A responsabilização é difusa e debitada ao “sistema”. Nutre, assim, a nova direita radical.

Embora os atos extremos sejam fenômenos com dinâmicas próprias e distintas, a intolerância e a polarização afetiva, crescentes, criam um ambiente propício para calar o debate público e, no limite, usar o argumento bomba como recurso para disseminar o caos e aniquilar a democracia.

Gustavo Krause foi ministro da Fazenda.

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Round 6: Segunda temporada amplia conflitos e humaniza os vilões em jogos sádicos

Round 6: segunda temporada amplia conflitos e humaniza os vilões

Com diversos recordes batidos, Round 6 volta para a segunda temporada com o
humor ácido e com os jogos sádicos da primeira

A espera acabou! A segunda temporada de Round 6 chegou ao catálogo da Netflix. Dirigida e escrita por Hwang Dong-hyuk, a produção chega credenciada pelos números como um dos grandes lançamentos do streaming para o ano.

Na nova leva de episódios, o protagonista Gi-Hun, ou jogador 456, (Lee Jung-jae) desiste de viajar aos Estados Unidos e volta à Seul, na Coréia do Sul, para descobrir quem está por trás dos jogos e acabar com o sádico esquema dos ricos. Entretanto, algo sai errado e ele se vê tendo que encarar as disputas novamente.

Lee Jung-jae volta à trama, mas agora com um comportamento bastante diferente. Se na primeira temporada ele estava assustado e com medo por conta dos jogos, agora ele volta mais confiante para as disputas. Lee foi forçado a alterar a personalidade de Gi-Hun, que surge como “herói”, e alterna entre os lados fortes e frágeis do protagonista.

Como muitos personagens morreram, o diretor Hwang Dong-hyuk optou por explorar personagens que ficaram vivos, como Gong Yoo, o recrutador; o policial Jun-ho, que leva um tiro nos capítulos finais; e o líder (front man), “responsável pelos jogos”.

Apesar aparecerem pouco na primeira temporada, o trio assume protagonismo e surgem em momentos-chave para a produção. O Líder, por exemplo, é responsável por manipular o jogo e dá aquele ar de “indignação”. Tom Choi, responsável pela interpretação, passa um ar muito confiante, assustador e que, em certos momentos, acalma com a voz mansa.

Além das já conhecidas figuras, muitas outras surgem, e é evidente que o diretor e roteirista optou por colocar pessoas mais jovens e com personalidades bastante diferentes. E é interessante ver cada uma performando “em seu mundo” e como colaboram para o todo. Tem o rapper “famoso”, a menina popular, o queridinho da mamãe, os maus-caracteres, entre outros e traz um ar de comédia em muitos momentos.

JOGOS SÁDICOS E CONFLITOS

As mortes e a plasticidade, que são a alma de Round 6, entretanto, continuam presentes e até seguem um roteiro semelhante à primeira temporada. O primeiro jogo, por exemplo, conta com a mesma sequência: o Batatinha Frita 1, 2, 3 começa, a primeira pessoa morre e o caos toma conta, com diversos tiros sendo disparados.

É here que Lee Jung-jae passa de um simples jogador à herói da produção e é visto com outros olhos pelos demais participantes. Ele se junta a novos personagens para ganhar os jogos e conta, assim como na temporada 1, com um conhecido.

Se você é fã da série, vai lembrar que na primeira temporada há uma votação que encerra com o jogo, mas volta posteriormente por conta da vontade dos participantes. Agora, essa votação acontece após as dinâmicas, como algo obrigatório, e eleva, ainda mais, os conflitos.

Essa é uma proposta muito clara do diretor de fazer um paralelo à nossa sociedade. Como a polarização política acontece no mundo todo, e no Brasil não foi diferente, Hwang buscou o alcance de Round 6 para fazer uma crítica social.

De acordo com ele, os discursos de ódio estão cada vez mais acalorados e são motivados por diversos assuntos, como por questões religiosas, ideológicas, históricas, raciais ou de gênero, entre muitas outras. Por conta da votação, os participantes são divididos em duas equipes, X e O, e isso gera muita confusão no lobby.

Uma grande diferença desta temporada é que a série buscou humanizar os atiradores e aqueles que estão do lado do sádico evento. A nova leva de episódios mostra o rosto dos assassinos e como os conflitos morais alcançam, também, as pessoas que participam da organização. Uma sniper, inclusive, é bastante mostrada e atua como uma coadjuvante na produção.

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