Impacto das mudanças climáticas na Amazônia: o que o aumento de CO₂ significa para as populações locais e como mitigar os impactos

O que o aumento de gás carbônico (CO₂) na atmosfera, provocado pelas mudanças climáticas, significa para as populações da região Amazônica e do mundo? Para cientistas, essas implicações são um problema do presente – e é preciso, cada vez mais, pensar em estratégias para mitigar os impactos.

A previsão é que, por conta da ação humana, a concentração de CO₂ no ar da floresta daqui a 35 anos seja 50% maior do que é hoje, mas pesquisadores da Unicamp [https://g1.globo.com/educacao/universidade/unicamp/] garantem: as pessoas que fazem parte do ecossistema da Amazônia já têm feito adaptações por conta das mudanças climáticas.

Essa análise dos impactos socioambientais das mudanças climáticas previstas para acontecer até 2060 é uma das principais frentes do experimento científico AmazonFACE. Para tornar a pesquisa possível, os cientistas construíram uma “máquina do tempo” no meio da floresta. [https://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/noticia/2025/01/13/cientistas-constroem-maquina-do-tempo-para-entender-efeitos-de-mudancas-climaticas-na-amazonia.ghtml]

Durante pelo menos 10 anos, essa estrutura vai aumentar artificialmente a concentração de CO₂ no ar em áreas delimitadas. Além da estrutura em si, uma equipe do projeto vai avaliar, no mesmo período, como as populações que dependem da floresta respondem às alterações do clima.

Por mais que as pessoas na cidade, em Manaus ou em outros lugares, pensem que não dependem da floresta, elas dependem também. Não é só o ribeirinho ou o indígena. Isso vai ter um impacto em diferentes setores socioeconômicos, por isso essa investigação socioambiental.

A área socioambiental do experimento é coordenada por pesquisadores do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas (SP) [https://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/cidade/campinas/]. Para essa equipe, há três perguntas centrais que devem ser respondidas pelo projeto na próxima década:

1. Como as mudanças na floresta causadas pelo aumento de CO₂ impactam os sistemas socioecológicos na Amazônia?
2. Como as populações humanas da Amazônia podem se adaptar às mudanças na floresta causadas pelo aumento de CO₂ e pelas mudanças climáticas?
3. Como o experimento AmazonFACE está impactando, coproduzindo e influenciando políticas públicas?

Para referência, a área delimitada para o estudo possui cerca de 400 espécies de árvores; desse total, cerca de 240 têm registro de uso pelos seres humanos, seja como alimento, matéria-prima ou medicinal.

Como as mudanças climáticas interferem na prática? Imagine uma espécie de árvore que dê um fruto comestível. Com o tempo, esse fruto passa a ser produzido em menor quantidade ou em épocas diferentes, prejudicando quem tem esse produto como fonte de renda, por exemplo.

RISCO À CULTURA

Há, ainda, uma preocupação no aspecto cultural. Isso porque o aumento de CO₂ na atmosfera pode trazer impactos negativos para espécies que têm usos milenares, por meio de um conhecimento sobre a floresta passado de geração em geração.

Além da ancestralidade, as espécies presentes na Amazônia também se destacam pelo potencial para serem utilizadas pelas indústrias farmacêutica e alimentícia. “Podemos trabalhar com a realidade que temos ali, e temos instrumentos institucionais no Brasil para isso, mas são necessárias políticas públicas e de fomentação”.

E DEPOIS?

A previsão é que o experimento científico comece em maio de 2025. Um dos objetivos é que os dados obtidos na próxima década ajudem a nortear políticas públicas pensadas justamente para quem depende direta ou indiretamente da floresta.

Nós, enquanto cientistas, não vamos formular a política, mas a gente vai usar dos meios para que isso seja compartilhado entre pesquisadores e tomadores de decisão. […] O que eu espero ao longo desses anos de programa é que a gente consiga entender minimamente a tempo os impactos desse CO₂ para que a gente consiga antecipar futuros.

Por Carlos Alberto Quesada, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e um dos coordenadores do experimento, “entender como essas florestas vão ser afetadas [pelo aumento de CO₂] significa entender como nós vamos ser afetados”.

Em 2014, o AmazonFACE se tornou um programa oficial do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), sob a execução do Inpa. Desde então, o governo brasileiro investiu R$ 32 milhões na iniciativa, enquanto o Reino Unido liberou o aporte de 7,3 milhões de libras (R$ 45 milhões).

Um artigo publicado pela equipe AmazonFACE em 2018 estimou que, caso a floresta entre em colapso ou atinja o ponto de inflexão, o dano socioeconômico ao longo de um período de 30 anos após esse momento crítico pode ficar entre U$ 957 bilhões e U$ 3,5 trilhões.

Conclusão

O aumento de CO₂ na atmosfera e as mudanças climáticas têm implicações significativas para as populações da região Amazônica e do mundo. O experimento AmazonFACE busca avaliar esses impactos em áreas delimitadas da floresta, analisando como as comunidades locais se adaptam às alterações do clima. A pesquisa visa orientar a formulação de políticas públicas que garantam a sustentabilidade socioambiental da região, considerando aspectos culturais, econômicos e ambientais. A cooperação entre pesquisadores do CNPEM, Unicamp, Inpa e governo britânico demonstra o compromisso com a compreensão e prevenção dos efeitos do aumento de CO₂ para o futuro da Amazônia e do planeta.

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