Indústria brasileira teme guerra tarifária e pede proteção ao governo

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Temendo guerra tarifária, indústria abre conversas com governo por proteção

Representantes dos setores de aço, químicos e têxteis falam à CNN sobre temores
de inundação de importados no Brasil após tarifas de Trump

A indústria nacional alega temor de que a guerra comercial entre Estados Unidos
e China redirecionará as exportações dos dois países, inundando o Brasil de
mercadorias. E parte de seus segmentos já pedem ao governo federal medidas de
proteção comercial contra este movimento.

A matemática do setor é a seguinte: Estados Unidos e China têm a maior corrente
de comércio bilateral do mundo, de US$ 582 bilhões, e sua guerra tarifária com
alíquotas acima de 100% levará estes produtos a procurarem outros mercados. Isso
sem contar as taxas norte-americanas a outros parceiros.

A indústria química já abriu conversas com membros do governo para pedir mais
proteção, enquanto prevê que o cenário agravaria suas perdas. Em reunião recente
com quadros da gestão federal, o setor falou em possíveis salvaguardas, cotas,
medidas compensatórias, entre outros mecanismos que poderiam defendê-lo.

Entre 2000 e 2023, a participação dos importados no mercado brasileiro saltou de
21% para 47%. Em resposta a este cenário, a Câmara de Comércio Exterior (Camex)
decidiu elevar temporariamente tarifas para 30 produtos químicos.

Com o “efeito Trump” colocado no tabuleiro, esta medida não será suficiente para
proteger o setor, disse à CNN o presidente da Associação Brasileira da Indústria
de Química (Abiquim), André Passos Cordeiro.

“Nós temos realmente este temor ao observarmos as elevações de tarifas nos EUA.
Com isso, a situação vai se agravar, os produtos chineses vão procurar outros
mercados. A Camex atendeu o pedido da indústria no ano passado, mas essa medida
não será suficiente para enfrentar este novo cenário”, afirmou.

Também há movimentação na indústria têxtil, que vê produtos chineses ganharem
mercado no país. Em 2024, as importações no Brasil subiram quase 15% e chegaram
a US$ 6,6 bilhões. O temor diz respeito a parte dos US$ 28 bilhões vendidos pela
China aos EUA, que procurarão outros mercados visto as tarifas de 145%.

O diretor-superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de
Confecção (Abit), Fernando Valente Pimentel, relatou à CNN que o setor vem se
reunindo com autoridades e pedindo para que o “ferramental” de defesa comercial
esteja preparado para ser utilizado, mesmo que as medidas sejam apenas cotas
temporárias.

“As siderúrgicas neste momento se preocupam mais com as tarifas abrangentes de
25% impostas pelos EUA ao aço do que com a guerra tarifária. A maior economia do
mundo importou cerca de US$ 26 bilhões, contando com o produto brasileiro, e o
temor diz respeito ao destino que estas mercadorias procurarão daqui para
frente.

Em abril de 2024, a Camex estabeleceu um novo sistema de cotas para importações
de aço, a fim de proteger a indústria. Marco Polo de Mello Lopes, presidente do
Instituto Aço Brasil, disse à CNN que o cenário se agravou e que podem ser
necessárias novas medidas de proteção comercial.

“A preocupação com a defesa comercial já vem de longa data. Agora, com a questão
dos EUA, pode ter um agravamento. Temos reuniões recorrentes com membros do Mdic
[Ministério da Indústria e Comércio] e do MRE [Ministério das Relações
Exteriores], em que analisamos a conjuntura”.

A CNN procurou o Mdic para que comentasse os pedidos da indústria. Até a
publicação desta reportagem não houve resposta.

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