Inflação acumula alta de 5,45%, e a data-base?

Opinião: Presidente do Sindicato dos Servidores do Ministério Público (SINDSEMP), Gilclésio Fernandes de Oliveira Campos

Nesta segunda-feira, 12, foi divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). Esta divulgação demonstrou que o ano de 2020 trouxe o maior aumento desde 2016, fechando percentual de 5,45%. 

De acordo com o IBGE a inflação acelerou baseada em alimentação e habitação. Os alimentos tiveram um aumento de 15,53 % em 2020 e outros produtos, 2,60%, diferente de 2019, quando o aumento foi em alimentos e bebidas, avançando 6,84% e outros 3,48%. 

O arroz, alimento base na mesa dos brasileiros, teve uma variação de 76,01%, porém nas prateleiras dos supermercados, o aumento é maior, chegando a ser encontrado de até $41,00. De acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, a alta pode chegar até 100% e os produtores afirmar que a previsão é que os preços continuem subindo. 

Embora esses sejam dados oficiais, no dia a dia a população tem sentido pesar em seu bolso, bem mais que esses números apresentados, pois quando necessitam ir às compras, na prateleira dos mercados os preços estão verdadeiramente assustadores. 

Necessário se faz dar muito destaque à situação que vem ocorrendo com os SERVIDORES PÚBLICOS goianos. Todos eles. A Revisão Geral Anual (RGA) que é a correção da desvalorização do salário do servidor público, um direito garantido pelo art. 37, X da Constituição Federal, cujo índice usando na sua aplicação é o INPC, está ano após ano sendo ignorado pelos governantes e todas as categorias de servidores públicos do Estado de Goiás sofrendo com tal situação, pois veem diariamente seu poder de compra diminuir. 

O governador Caiado em detrimento a tudo o que pregava enquanto era parlamentar, não fez o envio de nenhuma correção inflacionária durante seus dois primeiros anos de mandato, e dá mostras que não o fará novamente em 2021.

Ressaltamos aqui, nossa situação. Os SERVIDORES DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, desde 2019 não tem a devida correção da RGA. Essas perdas acumuladas nestes três anos já somam 13,36%, gerando uma situação que fica cada dia mais insustentável e inaceitável, sem contar que a última vez que houve ganho real de vencimentos dos servidores do MP-GO ocorreu há mais de 10 (dez) anos. 

O SINDSEMP manifesta sua indignação e acima de tudo, seu compromisso com a categoria em lutar incessantemente para que os direitos dos servidores sejam preservados e a Constituição Federal seja cumprida, afinal, isso é o que se espera de um Estado Democrático de Direito.

Como mostramos acima, é um direito constitucional, é JUSTAMENTE aplicado ao salário mínimo, porém os servidores públicos merecem ter também essa justa aplicação da RGA, não só por ser um direito constitucional, mas pelo bom trabalho que presta à sociedade goiana.

Receba as notícias do Diário do Estado no Telegram do Diário do Estado e no canal do Diário do Estado no WhatsApp

A crise moral da nova geração de médicos

Médico com máscara.

Por: SARA ANDRADE

Uma jornalista jovem de classe média tem livre circulação nos ambientes frequentados por pessoas com histórias relativamente parecidas: vivendo dentro dos seus vinte anos, formando-se na faculdade e começando carreiras no mercado de trabalho. Nesta bolha, destaca-se a quantidade de moças e rapazes que optaram pelo estudo da medicina.

Estão aí para provar as estatísticas: de 2000 para 2020, o número destes profissionais no Brasil mais que dobrou, passando de 230 mil para meio milhão, segundo resultados do estudo “Demografia Médica no Brasil 2020”, liberado pelo Conselho Nacional de Medicina em parceria com a Universidade de São Paulo.

As milhares de entregas de canudo, tão comemoradas, foram responsáveis por alargar a média de médicos a cada mil habitantes no país: de 1,4 para 2,4, colocando o Brasil no mesmo patamar de nações como Japão ou Polônia, e apenas décimos atrás dos Estados Unidos, com média de 2,6. O que os números não podem mostrar, no entanto, são os pormenores deste fenômeno. Aqui vale o ponto de vista de uma jovem jornalista, e o cenário não é tão simples quanto parece.

A medicina sempre carregou consigo seu bocado de nobreza. Curar doenças, tirar a dor das pessoas, aumentar o tempo e a qualidade de vida: de fato, o jaleco branco pode ser uma espécie metafórica de batina, numa profissão quase sacerdotal, sagrada. Não seria falta de noção falar até em “amor ao próximo”. Muitos jovens estudantes parecem ter esta ideia romântica em mente: ajudar as pessoas através do trabalho de suas vidas. Não é só um emprego: torna-se missão e vocação.

Enquanto isso, outros estudantes de medicina parecem perdidos pelo caminho. Atenção: este é um questionamento aos que em breve serão médicos! Você está verdadeiramente preparado para abrir mão de si, dos seus desejos e caprichos, em prol de um desconhecido? Muitas vezes, seus pacientes serão “impacientes”, inoportunos e sem educação (até porque podem estar sob o efeito de grande dor).

Você pode não ser agradecido, nem reconhecido ou elogiado. Quem sabe até injustiçado. Pense consigo, você pode suportar? Você quer suportar? A sua escolha deve ser como em um casamento: o padre sempre avisa da riqueza e da pobreza, da saúde e da doença: quem diz sim, o diz para tudo.

Com o prestígio do ofício, vêm os abutres. Quantos não estão cursando medicina pelo status social, pelo dinheiro prometido, ou ainda apenas pela experiência da vida festeira de universitário? Tudo isso pode estar no pacote, caso o amor também se faça presente. Sem amor primeiro, é tudo vazio neste coração de doutor. Assim, a indagação martela nas mentes: como um universitário interesseiro e exibido, que nunca se doou a nada, nem a ninguém, pode ser um bom médico? De onde tirará o amor que tudo suporta, que persevera? Ninguém pode dar o que não tem.

Seria possível que um estudante qualquer de medicina, na condição de escravo de aprovação, de likes em redes sociais, incapaz de reconhecer o esforço da família para formá-lo, que só se importa em figurar bem para os amigos nos ambientes sociais… seria possível que disso saia altruísmo, doação e abnegação de si? Doar-se não é lá tão impossível e atos como arrumar a própria cama já são ótimos sinais de ordem interior. A disciplina, a sinceridade, a submissão aos superiores, tão necessárias no dia a dia do médico: tudo isso começa pequeno, mostrando-se no dia a dia do estudante.

Se você não sente obrigação nenhuma para com ninguém, se o mundo inteiro (seus amigos, pais) está sempre errado e você certo, ou se a culpa de seus fracassos, ou más ações, nunca é sua, pobre vítima… falta-te o principal para ser um bom médico: o amor. E este só vem com maturidade, com a compreensão de que sua vida não é para você se entupir de si mesmo, mas um presente ao mundo: ao tiozinho da esquina que sofre, à criança resfriada e à fofoqueira insuportável do bairro. Desse modo, seus dias ganharão um sentido maior.

Muitos reduzem o sucesso na vida ao sucesso profissional. Nada mais equivocado! Quantos não são fracassados com contas bancárias gordas? Isso acontece porque sucesso verdadeiro é ter personalidade, maturidade. E isso só se alcança com consciência moral, que diferencia bem e mal, e que gera noção de dever. Mas o que será de uma geração de jovens médicos que tem horror à própria ideia de moralidade? De ordem? Ou com uma dificuldade imensa de compreender a necessidade de regras, de ritos… Serão eles ricos? É possível. E também miseráveis, porque imaturos e sem personalidade. No fim, ninguém é feliz assim, ou cumpre seu chamado no mundo, sua vocação.

Aliás, o que levaria um jovem médico a doar-se por alguém? Sem sombra de dúvidas, a certeza da dignidade da vida humana, e o conhecimento da sua transcendência. Infelizmente, esta geração tem receio até mesmo de dizer que uma vida humana vale mais que a vida de um papagaio, ou de uma lesma. Como amar o humano, se não se sabe o que ele é, ou quanto vale? Ingênuo pensar que um estudante imaturo e incapaz de amar tornaria-se imediatamente amoroso e dedicado pelo toque mágico do diploma em suas mãos.

Essa dinâmica se aplica a todas as profissões, mas o médico deve ser o primeiro da fila a entender a vida. Porque muitas vezes, ela está em suas mãos. Um bom exemplo a guiar os novatos de consultório pode ser São Lucas. Médico, artista e historiador. Com uma vida inteira doada ao conhecimento da verdade humana. Que a paixão pela beleza da existência também inspire você a cada dia, jovem médico, e te leve ao amor maior. Especialmente neste dia 18, dia do médico e de São Lucas, padroeiro da honrosa missão de curar.

Receba as notícias do Diário do Estado no Telegram do Diário do Estado e no canal do Diário do Estado no WhatsApp

Isso vai fechar em 0 segundos