Inspeção na Baía de Guanabara revela mangue tomado por lixo: impactos e soluções

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O DE vai inspecionar área de mangue tomada por lixo na Baía de Guanabara

O resíduo está dentro de uma área de preservação ambiental com quase 15 mil hectares — a primeira criada no Brasil para proteger manguezais, há 40 anos.

O DE vai inspecionar área de mangue tomada por lixo na Baía de Guanabara

O resíduo está dentro de uma área de preservação ambiental com quase 15 mil hectares — a primeira criada no Brasil para proteger manguezais, há 40 anos.

Após o Globocop flagrar nesta segunda-feira (28) uma grande quantidade de lixo espalhada e acumulada em uma área de manguezal nos fundos da Baía de Guanabara, em São Gonçalo, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) deve realizar, na próxima semana, uma inspeção na Área de Proteção Ambiental (APA) de Guapimirim, na Região Metropolitana do Rio.

A maré baixa revelou uma das muitas feridas da Baía: a poluição descontrolada. Todo o lixo está dentro de uma área de preservação ambiental com quase 15 mil hectares — a primeira criada no Brasil para proteger manguezais, há 40 anos.

A APA de Guapimirim fica no fundo da Baía de Guanabara, entre os municípios de São Gonçalo, Itaboraí e Magé, em uma área restrita. O manguezal também integra a Estação Ecológica da Guanabara, unidade de conservação federal criada para proteger esse ecossistema.

O professor e pesquisador de Geoquímica Ambiental da Universidade Federal Fluminense (UFF), Júlio Wasserman, conhece bem a região.

Ele explica que o lixo, principalmente garrafas plásticas, chega ao mangue por meio dos rios e canais da região, além das correntes marítimas e do vento.

Segundo ele, o acúmulo de lixo prejudica a troca de gases entre o sedimento e a atmosfera e afeta diretamente os organismos que vivem ali.

“Essa camada de lixo dificulta a respiração do solo e prejudica os organismos, especialmente os caranguejos, que são abundantes nesse sedimento”, completa.

A saúde do mangue é essencial para milhares de espécies. Além do caranguejo-uçá, típico da região, o ecossistema abriga peixes, camarões, répteis e aves.

O biólogo Mário Moscatelli, que atua há décadas na recuperação de manguezais, afirma que a situação não é isolada.

“Apesar das ecobarreiras nos principais rios que deságuam na Baía de Guanabara, o volume de lixo é gigantesco. É lixo domiciliar, hospitalar, pneus, móveis, caixas d’água. Tudo o que as pessoas não querem mais dentro de casa acaba sendo jogado nos rios. Isso agrava a poluição da Baía e ainda contribui para inundações”, alerta Moscatelli.

Para Emanuel Alencar, mestre em engenharia ambiental pela Uerj, o cenário é resultado de um problema estrutural antigo.

“A quantidade de resíduos dentro da APA de Guapimirim é fruto de um desarranjo que dura décadas. Falta planejamento das prefeituras na coleta domiciliar. Muitos desses resíduos acabam nos 143 rios e riachos que deságuam na Baía de Guanabara”, afirma.

Wasserman reforça que o problema também está no consumo excessivo de plástico.

“Se há tantas garrafas acumuladas no mangue, é porque seguimos consumindo plástico em larga escala e descartando de forma errada”, diz.

O acúmulo de plástico não é exclusividade da APA de Guapimirim. Em janeiro, o RJ1 mostrou a poluição na Ilha da Pombeba, na entrada da Baía. No local, o solo chega a emitir som de plástico ao ser pisado.

Especialistas alertam que partículas de plástico, como as de garrafas PET, já foram encontradas no organismo de peixes, aves e até seres humanos.

O ICMBio disse que o local é de difícil acesso, a cerca de 700 metros da margem mais próxima do rio, o que dificulta as operações.

O órgão disse que uma equipe está mobilizada para ir ao local avaliar a situação assim que as condições do tempo melhorarem.

O instituto informou, ainda, que atua há anos na coleta de lixo dos rios e mangues que compõem a Estação Ecológica Guanabara, por meio de parcerias com organizações da sociedade civil, como Guardiões do Mar, a Cooperativa Manguezal Fluminense e a Federação de Pescadores do Estado do Rio de Janeiro.

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