De e Polícia investigam negociações entre ladrões e associações de proteção de veículo para recuperação de carros roubados
Segundo as investigações, para não ter que pagar o seguro ao dono do carro, associações de proteção veicular supostamente negociam o resgate do veículo com os próprios ladrões.
De e Polícia Civil investigam esquema entre ladrões e associações de proteção de veículo
O Ministério Público e a Polícia Civil do Rio de Janeiro investigam um esquema para recuperar carros roubados. Segundo as investigações, para não ter que pagar o seguro ao dono do carro, associações de proteção veicular supostamente negociam o resgate do veículo com os próprios ladrões.
Em um roubo aconteceu em janeiro, no bairro do Engenho Pequeno, em Nova Iguaçu, Baixada Fluminense, a vítima entrou em luta corporal com o bandido que acabou sendo baleado.
No hospital, em depoimento à polícia, o homem deu uma resposta que chamou a atenção dos investigadores. Ao ser perguntado quanto iria receber pelo roubo, o criminoso disse que “depende do seguro”.
Segundo os investigadores, quando o bandido fala de “seguro”, ele está se referindo às associações de proteção veicular. Outro suspeito, que também decidiu ajudar nas investigações, participou de um assalto a carro e confirmou à polícia como funciona o pagamento.
Agentes perguntaram ao homem se a quadrilha leva o veículo para a comunidade e se a seguradora entra em contato para pagar o resgate. Ele confirmou e respondeu sobre o valor pago ser tabelado no complexo do chapadão.
O suspeito ainda segue dizendo em depoimento que, no complexo do chapadão, por exemplo, os valores pagos pelos resgates dos veículos correspondem a 10% da tabela Fipe.
O valor pago é dividido em 70% para os chefes do tráfico e 30% para o grupo que praticou o roubo, que devolve o que estava dentro do veículo, para serem contabilizados com o valor do resgate do veículo.
A proteção veicular funciona como uma espécie de cooperativa, sem fins lucrativos, e que oferece preços mais acessíveis. Por não serem consideradas seguradoras, essas associações não eram regulamentadas pela Superintendência de Seguros Privados (Susep), órgão do Governo Federal.
Em janeiro desse ano, uma lei complementar entrou em vigor e agora as associações passam a ter uma série de regras e a serem fiscalizadas pela Susep.
A nova lei, no entanto, estabeleceu um prazo de 180 dias para que as associações se regularizem. O prazo termina em julho deste ano. Até lá segue essa zona cinzenta e enquanto isso, os criminosos aproveitam.
“Essas associações elas pegaram um nicho do mercado, principalmente na Região Metropolitana do Rio, nas áreas mais violentas. Seguradoras, que eram fiscalizados pelas Susep, deixaram de ter interesse econômico de atuar então elas pegaram esse nicho do mercado”, afirmou Bruno Gangoni, promotor de justiça.
A taxa de roubo de veículos aumentou na Baixada Fluminense — Foto: Reprodução/TV Globo
O roubo de veículos na Baixada Fluminense aumentou 41% em um ano. A recuperação também cresceu da mesma forma, cerca de 45%. Se considerar apenas Belford Roxo, a recuperação de veículos roubados teve um aumento de 117%.
“Essa atividade está espraiada pelas comunidades dominadas pelo tráfico, especialmente pelo Comando Vermelho. Ele não é uma exclusividade do tráfico do complexo do chapadão, não é uma exclusividade do tráfico de Belford Roxo. Isso está acontecendo nas comunidades dominadas pelo tráfico de uma maneira geral”, conclui Bruno.
A Polícia Civil afirmou que já tem um inquérito aberto para apurar o suposto pagamento dos resgates feitos por algumas associações de proteção veicular e investiga uma possível participação de agentes públicos no esquema.
“São pessoas que têm uma interlocução com a própria pessoa jurídica e o tráfico de drogas. Há esse contato que cobram valor específico para recuperar. Ela paga um percentual que vai para a organização criminosa, outra parte para o assaltante e isso tudo fomenta. Essa cadeia de crime”, afirma o delegado André Neves, diretor do Departamento Geral de Polícia Especializada.
A polícia ainda diz que está identificando todas as empresas envolvidas nessa organização criminosa.
“Eu posso garantir para a população que a polícia civil está em cima disso. Há pessoas jurídicas obviamente mais envolvidas nessa organização e em breve a resposta será dada”, conta o delegado.
A Superintendência de Seguros Privados (Susep), disse que vai fazer um cadastro das associações de proteção veicular e regulamentar o setor nos próximos meses. Disse também que práticas criminosas, como a foi mostrada no RJ2, são de competência dos órgãos de segurança pública e que está à disposição para ajudar nas investigações sempre que necessário.