Investigador do PCC: policial civil preso por extorsão em diversos locais clandestinos

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Delator do PCC: policial civil preso extorquia de puteiro a desmanche

Chefe de investigações Marcelo Marques de Souza, o Bombom, tinha planilhas que
somavam mais de meio milhão de reais de propina por mês

São Paulo — Quando policiais federais cumpriram um mandado de busca e apreensão
na casa do investigador da Polícia Civil
Marcelo Marques de Souza, o Bombom,
em 17 de dezembro, foram encontrados R$ 200 mil, em dinheiro vivo, além de
planilhas nas quais havia valores recolhidos de comércios — parte deles ilegais.

Bombom é um dos 26 alvos presos, até o momento, suspeitos de envolvimento no
assassinato do delator do Primeiro Comando da Capital (PCC) Vinícius Gritzbach — executado com dez
tiros de fuzil no Aeroporto Internacional de São Paulo, na região DE.

Conhecida entre policiais corruptos como “recolha”, a prática de cobrar propina
era feita, segundo a lista encontrada na residência de Bombom, em casas de
prostituição — especificadas nas planilhas como “puteiros” –, casas de jogos
ilegais, desmanches de veículos, postos de combustíveis e lojas de celulares,
nas quais eram vendidos aparelhos provenientes de supostos contrabandos. Os valores eram pagos, nesses casos, para que os negócios clandestinos, ou com
irregularidades, pudessem ser administrados sem interferência policial.

Com seis páginas, a lista de Bombom teria rendido, somente em um mês, R$
518.200, como mostra investigação da Polícia Federal (PF) obtida pelo Metrópoles. Mas as propinas constantes na lista não se restringem somente aos
estabelecimentos ilegais. Nela, também constam locais como um salão de
cabeleireiro, por exemplo.

O comércio, localizado na zona leste da capital paulista, pagou R$ 2.000 de
propina, dividida em duas partes na planilha (uma de 80% e outra de 20%). Os
percentuais são a base para a divisão de todos os valores arrecadados pelos
corruptos, como sugere o relatório da PF. Há ainda outro extremo, de um homem,
que sozinho pagou R$ 100 mil. Na planilha não é especificado qual seria o
comércio dele. Os valores — do total extorquido de todos os alvos — eram divididos entre os
policiais que compunham a quadrilha, da qual Bombom fazia parte.

No dia em que a lista foi apreendida, o policial civil também foi preso. Ele
ocupava, na ocasião, o cargo de chefe de investigações do Corpo Especial de
Repressão ao Crime Organizado (Cerco), da 5ª Delegacia Seccional da capital
paulista, cuja área de atuação é a zona leste DE.

Também em 17 de dezembro, foram encarcerados o chefe de investigações Eduardo
Monteiro, o delegado Fábio Baena, e o investigador Marcelo Roberto Ruggieri, o
Xará. Seis dias depois, o agente de telecomunicações da Polícia Civil Rogério de
Almeida Felício, o Rogerinho, se entregou à polícia de Santos, no litoral
paulista. Ele compõe o núcleo liderado por Eduardo Monteiro e Fábio Baena, que
atuavam no Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) quando
tentaram extorquir milhões de reais de Vinícius Gritzbach, para livrá-lo de uma
investigação sobre o assassinato de dois membros do PCC.

Antes de ser assassinado, Gritzbach fez um acordo de delação premiada, prestando
depoimento ao Ministério Público de São Paulo (MPSP). Após isso, ele também falou com a Corregedoria da Polícia Civil, oito dias antes
de ser executado. Seus relatos, sobre os quais apresentou provas, foram usados
para investigar e prender o bando de policiais civis, além de advogados ligados
à maior facção do país.

No inquérito instaurado pela PF, é explicado como a tabela de propinas foi
interpretada pelos investigadores. As colunas são divididas
em cores, meses e dias, além de siglas para indicar o tipo de alvo.

A investigação identificou que a letra “B” referia-se a casas ilegais de jogos,
como bingos e poker; já PT era uma referência aos “puteiros”, “DE” aos
desmanches e “GAS” a postos de combustíveis. Mude, acrescenta o relatório, participava também do “branqueamento”, ou seja, da
lavagem do “dinheiro espúrio”. Ele — também preso pela PF — foi acionista da
empresa de ônibus UpBus, que opera linhas na zona leste de São Paulo, e é
acusado de lavar dinheiro do PCC. Ahmed Hassan já havia sido alvo da Operação Decurio, em agosto do ano passado,
em uma investigação sobre a infiltração da maior facção criminosa do país nas
eleições.

As defesas dos suspeitos mencionados nesta reportagem não foram localizadas. O
espaço segue aberto para manifestações.

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