O ex-presidente Jair Bolsonaro deve comparecer na sede da Polícia Federal (PF) para prestar depoimento, na tarde desta terça-feira, 16, em Brasília. Bolsonaro deve dar sua versão sobre as investigações que apuram fraude nos cartões de vacinação dele, da filha, do ex-ajudante de ordens da Presidência, Mauro Cid, além de pessoas próximas.
O caso é analisado no âmbito da Operação Venire, deflagrada no dia 3 de maio. Bolsonaro e outras 15 pessoas são investigadas por infração de medida sanitária preventiva, associação criminosa, inserção de dados falsos em sistemas de informação e corrupção de menores.
O advogado de defesa de Bolsonaro, Marcelo Bessa, e o próprio ex-presidente deram o tom de quais serão os argumentos usados diante dos investigadores. Bessa chamou a Operação Venire, determinada pelo ministro Alexandre de Moraes após pedido da PF, de “arbitrária”.
Após ser alvo da operação, Bolsonaro repetiu que não tomou a vacina contra a Covid-19 e negou ter falsificado dados.
“Não existe adulteração da minha parte. Eu não tomei a vacina. Li a bula e não tomei. Minha filha de 12 anos não tomou. A Michelle [Bolsonaro] tomou nos EUA”, disse em frente à casa onde mora, em Brasília.
Em seguida, o advogado e assessor especial do ex-presidente, Fábio Wajngarten, disse que Bolsonaro nunca teve passaporte cobrado para entrar nos Estados Unidos e que ele se pronunciaria assim que tivesse acesso aos autos.
Certificados
As versões, no entanto, se chocam com as diligências da PF. Quando a documentação que embasou a prisão de aliados bolsonaristas, como o ex-ajudante de ordens Mauro Cid, foi liberada por Moraes, tornou-se público que o usuário de Bolsonaro no aplicativo ConecteSUS, do Ministério da Saúde (MS), emitiu ao menos quatro vezes certificados de vacinação contra a Covid-19 que seriam do ex-presidente.
Três desses certificados foram emitidos nos dias 22, 27 e 30 de dezembro de 2022. Ou seja, os documentos foram emitidos antes de Bolsonaro embarcar para o autoexílio em Orlando (EUA), no início da tarde de 30 de dezembro.
Antes de Bolsonaro deixar a Presidência, o e-mail de acesso à sua conta no ConecteSUS estava em nome de Cid. Após o dia 30, o e-mail foi alterado, deixando o controle com Marcelo Costa Câmara, assessor especial do ex-mandatário. Os cartões de vacina foram posteriormente apagados.
Espera-se que a defesa de Bolsonaro insista no argumento de que ele não sabia do suposto esquema de falsificação nos cartões de vacinação e aponte Mauro Cid como o responsável pelas fraudes.
Depoimento adiado
O pedido da PF era para que Bolsonaro prestasse depoimento já em 3 de maio. No entanto, o ex-presidente optou por não falar na data, pois a defesa ainda não havia tido acesso ao processo. Wajngarten afirmou que o ex-titular do Planalto desconhecia o suposto esquema.
Segundo a PF, um grupo próximo a Bolsonaro, incluindo seu ex-ajudante de ordens Mauro Cid, teria emitido certificados falsos de vacinação para pessoas que não tinham sido imunizadas a fim de que elas pudessem viajar e acessar locais em que a imunização era obrigatória. Para a Polícia Federal, Bolsonaro tinha ciência do esquema.
“Jair Bolsonaro, Mauro Cid e, possivelmente, Marcelo Câmara tinham plena ciência da inserção fraudulenta dos dados de vacinação, se quedando inertes em relação a tais fatos até o presente momento”, diz a PF.
A afirmação foi sustentada pelo ministro do STF Alexandre de Moraes.