“Início de reconciliação”: historiador vê pedido de desculpas da Itaipu como marco histórico e simbólico para povos Avá-Guarani do Paraná
Para Clóvis Brighenti, reconhecimento público das violações cometidas há 50 anos pela construção da usina abre caminho para reparações mais amplas.
Histórico: Itaipu e Estado Brasileiro se desculpam com indígenas do Paraná
O pedido de desculpas da Itaipu Binacional às comunidades Avá-Guarani, anunciado nesta quarta-feira (29), representa um marco histórico no processo de reconhecimento das violações de direitos humanos cometidas durante a construção da usina, segundo o historiador Clóvis Antonio Brighenti, pesquisador da memória e imagem dos povos indígenas do Paraná.
> “Esse documento vem tardiamente, mas demonstra o reconhecimento de que crimes
foram cometidos […] É um momento histórico porque os entes que violentaram
os direitos dessa população reconhecem e assumem o compromisso de reparar”,
afirmou Brighenti à RPC, afiliada da TV Globo no Paraná.
O pedido de desculpas é parte de um acordo homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em março de 2025. No acordo, a usina também se a usar R$ 240 milhões de recursos próprios para comprar 3 mil hectares de terras rurais e depois repassar a 31 comunidades de indígenas da etnia Avá-Guarani. São cerca de 5 mil pessoas no total.
Para Brighenti, embora o gesto não tenha materialidade, como a devolução de terras ou bens retirados, o valor simbólico é inestimável. No documento, a Itaipu e o Estado Brasileiro reconhecerem que, na época da construção, foram empregadas medidas que desconsideraram os direitos, as tradições e os laços espirituais e culturais que os Avá-Guarani mantêm com as terras ancestrais, motivadas pela força da colonização agrícola do território a partir do início do século XX e depois para a geração de energia elétrica, com a construção de Itaipu.
> “Pela primeira vez, em 50 anos, a Itaipu reconhece que cometeu graves
viol…
Segundo o pesquisador, o ato público pode servir como “gatilho” para novas medidas de justiça e reconciliação.
“As reparações não se limitam a valores monetários. Elas envolvem reconhecimentos, ações pedagógicas e a revisão de processos históricos. O que se busca não é vingança, mas o início de reconciliação, e ela precisa acontecer por meio da justiça, nunca pelo esquecimento”, afirmou.
Brighenti defende que o momento exige prudência e continuidade nas negociações. “Esse é apenas o começo, como os próprios Guarani destacam em seus documentos. Espera-se que o acordo volte às mesas de negociação e amplie novas medidas de reparação”, concluiu.




