Jet Lag Social no Brasil: Consequências e Medidas para Reverter o Impacto nos Jovens

jet-lag-social-no-brasil3A-consequencias-e-medidas-para-reverter-o-impacto-nos-jovens

Sono desregulado e risco à saúde: jet lag social atinge 83% dos jovens no Brasil, aponta estudo

Distúrbio do sono pode prejudicar o coração, a mente e o desempenho escolar. Pesquisa de doutoranda da UFRGS traz dados sobre os impactos do fenômeno no país.

Por trás dos olhos cansados e da dificuldade de concentração de muitos adolescentes brasileiros, pode estar um fenômeno pouco conhecido, mas amplamente difundido: o jet lag social.

O nome remete à sensação de atravessar fusos horários e desregular o sono, mas, nesse caso, acontece dentro da rotina e pode ter efeitos graves na saúde dos jovens.

O alerta é da doutoranda Nina Nayara Martins, do Programa de Pós-graduação em Cardiologia e Ciências Cardiovasculares da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. A pesquisadora analisou dados de mais de 64 mil adolescentes brasileiros e identificou que 83,6% apresentam jet lag social. Os resultados foram publicados no periódico Sleep Health.

DESEQUILÍBRIO DO RELÓGIO BIOLÓGICO

O jet lag social é um distúrbio crônico do sono, causado pelo descompasso entre o relógio biológico e os compromissos sociais — como o horário escolar. Não se trata de insônia, ou seja, não tem relação a não conseguir dormir: o jovem sente sono, mas no horário “errado”, e tenta recuperar o descanso perdido quando pode, principalmente aos sábados e domingos.

“Há uma compensação pelo ‘sono perdido’, durante os finais de semana, fazendo com que os adolescentes apresentem um horário mais tarde para acordar e levantar”, explica.

De acordo com Nina, o problema é intensificado pelo sistema educacional brasileiro, onde a maioria dos alunos precisa levantar cedo para assistir às aulas da manhã, sem considerar o ritmo biológico de muitos jovens.

“Há um desequilíbrio do ritmo biológico natural devido, principalmente, a compromissos sociais, como escola ou trabalho”, observa Nina.

QUEM MAIS SOFRE

Os dados do estudo apontam que meninas, adolescentes mais velhos e alunos de escolas particulares estão entre os mais afetados. No grupo de 16 a 17 anos, 88,4% dos jovens sofrem com o jet lag social.

“Nossa hipótese principal para essa questão [de gênero] é que alguns estudos sugerem que as meninas apresentam maior propensão aos efeitos do desequilíbrio do funcionamento do corpo quando expostas aos jet lag social, principalmente relacionadas as mudanças hormonais e fisiológicas devido ao amadurecimento”, diz a pesquisadora.

Já entre as meninas, a taxa é de 86,1%.

Outro achado é que os alunos de escolas particulares são os que mais apresentam o distúrbio: 94,4%.

O estudo ainda evidenciou que o uso excessivo de telas é um dos principais fatores de risco. Os jovens que passam mais de seis horas diárias em frente a dispositivos eletrônicos apresentam maior incidência do problema, principalmente pelo impacto da luz azul na regulação do ciclo do sono.

Mais do que um incômodo temporário, o jet lag social pode ter consequências graves para a saúde. Segundo Nina, há uma relação entre o distúrbio e problemas cardiovasculares, como obesidade e alterações metabólicas.

Além disso, o sono desregulado afeta diretamente o funcionamento do cérebro. Entre os impactos observados estão: queda na atenção, aumento da sonolência diurna, estresse, maior propensão a transtornos mentais – como ansiedade e depressão.

POLÍTICAS PÚBLICAS

Para Nina, o país ainda está despreparado para lidar com os efeitos do jet lag social — e as consequências disso podem ser sentidas tanto na saúde da população quanto na economia.

Além disso, a pesquisadora acredita que pode ter um impacto no governo, que vai ter que separar recursos para poder atender a demanda das pessoas incapacitadas por conta do distúrbio.

Nina defende medidas estruturais e educativas, como: Postergar o início das aulas para respeitar o ritmo biológico dos adolescentes; Criar campanhas sobre a importância do sono; Incentivar a prática de atividades físicas em horários adequados; Monitorar o uso de telas e estimular hábitos saudáveis dentro de casa.

🔔Receba as notícias do Diário do Estado no Telegram do Diário do Estado e no canal do Diário do Estado no WhatsApp