John Logie Baird: O Office-boy que se Tornou o 1º Rosto na TV

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O office-boy que se tornou o primeiro rosto humano da história a aparecer na TV

Em 1925, o inventor escocês John Logie Baird transmitiu, pela primeira vez, a
imagem em movimento de um rosto humano: o do office-boy William Taynton, que
contou a experiência em entrevista à BBC, 40 anos depois

Um século atrás, no dia 2 de outubro de 1925, o inventor escocês John Logie
Baird (1888-1946) transmitiu com sucesso, pela primeira vez, a imagem em
movimento de um rosto humano reconhecível — Foto: Alamy

Os cientistas vinham trabalhando na invenção da televisão desde os anos 1850.
Mas foi preciso um inventor independente, usando faróis de bicicleta, restos de
madeira e latas de biscoitos, para que ela se tornasse realidade.

John Logie Baird (1888-1946) era um inventor em série que havia atingido
relativo sucesso, até conseguir sua grande descoberta.

Filho de sacerdote, Baird enfrentou problemas de saúde na maior parte de sua
vida. Por isso, os médicos o declararam inapto a servir na Primeira Guerra
Mundial (1914-1918).

Ele começou, então, a trabalhar em uma companhia de eletricidade, mantendo
paralelamente uma intensa linha empresarial.

Inspirado pelo conto O Fabricante de Diamantes, do seu ídolo, o escritor de
ficção científica H.G. Wells (1866-1946), Baird tentou produzir diamantes
artificiais a partir de carbono, com intenso consumo de eletricidade. Mas só o
que ele conseguiu foi derrubar parte do abastecimento de energia da cidade de
Glasgow, no Reino Unido.

Sua desastrosa tentativa de encontrar uma cura doméstica para as hemorroidas
também só fez criar uma amostra daquele tipo de atividade que, no futuro,
receberia o alerta dos apresentadores de televisão: “Não tente fazer isso em
casa.”

Mesmo com esses fracassos, Baird conseguiu algum sucesso comercial.

Em 1923, usando o capital obtido com a venda das suas empresas de meias e sabão,
ele alugou instalações modestas em Hastings, no litoral sul da Inglaterra.

O ar marítimo fez bem aos seus pulmões enfraquecidos, mas o ambiente de trabalho
era um pesadelo, em termos de saúde e de segurança.

Baird montou um laboratório para começar seus experimentos com televisão. Ele
construiu seu aparelho de forma improvisada, usando materiais de sucata, como
uma velha caixa de chá equipada com um motor.

No centro do sistema de Baird, havia um grande disco que girava em alta
velocidade, para escanear imagens, linha após linha, usando fotodetectores e
iluminação intensa. Estes sinais eram transmitidos e reconstruídos para produzir
figuras em movimento.

Um dia, ele conseguiu transmitir uma silhueta. Foi ali que o sonho de décadas,
de criar a televisão, finalmente entrou em cena.

William Taynton e Margaret Baird, esposa do inventor escocês John Logie
Baird, inspecionam um dos seus primeiros aparelhos televisores em uma recepção
em homenagem ao inventor em Londres, no dia 14 de agosto de 1963 — Foto: Keystone
via Getty Images

Baird se queimou com um choque elétrico no seu laboratório de Hastings. Com
isso, chegou a hora de se mudar para as luzes brilhantes de Londres.

O inventor alugou um apartamento no andar de cima de um estabelecimento
comercial, em 22 Frith Street, no distrito de Soho. Ali, ele montou um novo
laboratório.

Seu aparelho mecânico emitia tanto calor que as pessoas tinham dificuldade para
suportar sua intensidade. Por isso, Baird precisava usar para os seus
experimentos um boneco de ventríloquo, que ele batizou de Stooky Bill.

Mas, no dia 2 de outubro de 1925, Baird, então com 37 anos, conseguiu uma cobaia
humana e fez uma descoberta inacreditável.

William Taynton, um office-boy de 20 anos de idade, trabalhava no andar térreo
do prédio onde ficava o laboratório improvisado de Baird. Ele contou à BBC, 40
anos depois, como tudo se passou:

“O sr. Baird desceu correndo, tomado pelo entusiasmo, e quase me arrastou para
fora do escritório, para que eu fosse até o seu pequeno laboratório.”

“Acho que ele estava tão empolgado naquele momento que as palavras não saíam.
Ele quase me agarrou e queria que eu subisse as escadas o mais rápido possível.”

Stooky Bill — o boneco de ventríloquo usado por John Logie Baird — não oferecia
os movimentos necessários para a experiência. Foi necessário recrutar uma cobaia
humana — Foto: SSPL via Getty Images

Taynton contou que, quando se deparou com o decrépito estado do laboratório de
Baird, sentiu vontade de voltar correndo para descer as escadas.

Primeiro, ele precisou encontrar um caminho através dos fios pendurados do teto
que se espalhavam por todo o chão.

“O aparelho que ele usava naquela época era uma balbúrdia”, relembrou Taynton.

“Sim, ele tinha discos de cartão, com faróis de bicicleta e outras coisas,
lâmpadas de todo tipo, baterias velhas e motores muito antigos, que ele usava
para fazer o disco girar.”

Baird colocou Taynton em frente ao seu transmissor. Como ser humano, ele poderia
oferecer os movimentos necessários, o que era impossível para o valente Stooky
Bill.

Taynton disse que ficou assustado quando começou a sentir o calor das lâmpadas.
Mas Baird garantiu que ele não tinha nada com que se preocupar.

“Ele desapareceu e desceu até o ponto de recepção, para ver se conseguiria ver a
imagem”, relembrou Taynton. “Fiquei posicionado, mas só consegui ficar ali
parado por pouco mais de um minuto, devido ao terrível calor daquelas lâmpadas,
e me afastei.”

As primeiras imagens de rostos humanos transmitidas pela televisão eram “muito
rudimentares”, “sem definição” — Foto: Getty Images

Para compensar o seu trabalho, Baird colocou meia coroa (dois xelins e seis
pence) nas mãos de Taynton — “o primeiro cachê da televisão” — e o convenceu a
voltar para sua posição.

As primeiras imagens de rostos humanos transmitidas pela televisão eram “muito
rudimentares”, “sem definição” — Foto: Getty Images

Para capturar algum movimento, Baird pediu que ele mostrasse a língua e fizesse
expressões engraçadas. O pânico de Taynton aumentava cada vez mais e ele gritou,
dizendo que estava “sendo assado vivo”.

“Ele gritou de volta, ‘aguente mais alguns segundos, William, alguns segundos,
se você puder’.”

“E assim eu fiz e, realmente, fiquei parado pelo máximo de tempo que consegui,
até que não suportei mais e saí de foco naquele calor terrível. Era muito
desconfortável”, relembrou Taynton à BBC.

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O edifício no Soho, em Londres, onde John Logie Baird realizou as
primeiras transmissões de televisão da história, recebeu uma placa azul
comemorativa em 1951 — Foto: Getty Images

Taynton não fazia ideia do que era a “televisão”.

Baird, então, sugeriu que eles invertessem os papéis. Taynton ficou feliz em
sair “porque ele me parecia tão entusiasmado e meio maluco naquele momento”.

Ele olhou por um pequeno túnel e observou “uma imagem minúscula, de cerca de 5 x
8 cm”.

“Repentinamente, o rosto de Baird apareceu na tela”, relembrou Taynton. “Você
conseguia ver seus olhos se fechando, sua boca e os movimentos que ele fazia.”

“Mas aquilo não era bom. Não havia definição; você só via a sombra e todas
aquelas linhas correndo para baixo. Mas era uma imagem e estava se movendo.”

“Era a principal conquista de Baird. Ele havia conseguido uma verdadeira imagem
de televisão.”

O edifício no Soho, em Londres, onde John Logie Baird realizou as primeiras
transmissões de televisão da história, recebeu uma placa azul comemorativa em
1951 — Foto: Getty Images

Ainda dominado pela empolgação, Baird perguntou a Taynton o que ele achava da
sua criação.

“Fui sincero com ele e respondi ‘não acho muita coisa, sr. Baird. É muito
rudimentar. Consegui ver o seu rosto, mas não havia definição, nem nada ali.’
Ele disse que não, que aquilo era o começo.”

“Ele disse: ‘Esta é a primeira televisão. Você irá encontrá-la em todos os
lares, por todo o país e, na verdade, por todo o mundo.'”

No dia 26 de janeiro do ano seguinte, Baird fez a primeira demonstração pública
da televisão no mundo. Sua máquina pioneira acabou sendo superada pela
tecnologia desenvolvida por empresas com mais recursos, mas ele havia aberto o
caminho para tudo o que viria em seguida.

Em 1951, cinco anos depois da morte de Baird, aos 57 anos, Taynton retornou ao
prédio em 22 Frith Street, em Londres, para a inauguração de uma placa azul
comemorativa.

O então presidente da Sociedade da Televisão do Reino Unido, Robert Renwick
(1904-1973), declarou aos presentes que, “embora esta placa cerimonial esteja no
coração de Londres, seu verdadeiro legado está na floresta de antenas que se
espalha por todo o país”.

Poucos anos depois de Taynton relembrar seu importante papel na história da
televisão, pessoas de todo o mundo ficaram grudadas aos seus aparelhos para
assistir ao pouso do homem na Lua.

A ficção científica havia se tornado ciência real.

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