Abandono, dívida e projeto de centro cultural: a história inacabada do Jóquei Clube de Goiânia

A revitalização do primeiro espaço recreativo da capital, o Jóquei Clube de Goiás, parece cada vez mais distante. Os trâmites para transformar o local, construído há 60 anos, em um centro cultural estão paralisados há um ano e não há boas perspectivas de que a situação mude. O problema esbarra em dívidas, no abandono e na falta de dinheiro para concretizar a ideia.

O clube já não tem a função recreativa há décadas. Parte do terreno agora é ocupado por um estacionamento e passa longe de ser o point de encontro da alta sociedade, como acontecia nos tempos áureos. O estilo modernista, inspirado no arquiteto francês Le Corbusier, com pilares, concreto armado e divisões espaciais marcadas por recursos que dispensam paredes como regra, chama atenção pela grandiosidade, mas de portas fechadas.

Os quase 22 mil metros quadrados do espaço poderiam abrigar a quinta unidade da rede Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) se coubesse no orçamento. Para a implantação total do projeto seriam necessários aproximadamente R$ 50 milhões. 

Sabemos que é um investimento alto, mas o agronegócio é a principal carteira daqui do Banco do Brasil, ou seja, eles teriam um retorno financeiro com a construção. Verbalmente, Gustavo [Henriques, superintendente de varejo do Centro-Oeste do Banco do Brasil] disse que daria entrada nos trâmites em Brasília”, afirma o presidente do Instituto Geográfico e Histórico de Goiás (IHGG), Jales Mendonça.

Foi dele a ideia de instalar um CCBB no espaço onde hoje é o Jóquei, por considerar que a capital goiana merece um centro cultural, assim como já existe em Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte. Mendonça afirma que uma reunião para tratar do assunto chegou a ser realizada entre ele, o gerente executivo de Marketing e Comunicação do BB e filho do vice-presidente da República, Antônio Mourão, e o senador Luiz do Carmo, que é quem estaria intermediando as negociações.

No entanto, não há um pedido formal, segundo a assessoria de imprensa do Banco do Brasil. A reportagem do Diário do Estado questionou a instituição sobre o assunto por duas vezes e em ambas a afirmação foi de que “a informação não procede”. Por outro lado, a assessoria do senador confirma que as articulações para concretização do projeto estão ocorrendo, apesar de ponderar todas as condicionantes no processo.

“É claro que o ano eleitoral não favorece o andamento, mas é uma possibilidade real. O banco alega que o momento econômico é muito delicado para fazer, imediatamente, um investimento dessa monta, mas demonstra interesse e apreço pela proposta. O tema necessita ser mais amadurecido, quanto aos valores investidos e posteriormente os valores de manutenção do Centro Cultural”, destaca a assessoria do político.

A proposta não é consenso já que parecer emitido pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Goiás (CAU), em 2017, destacava a relevância do edifício do Jóquei Clube de Goiás para o patrimônio histórico e artístico nacional. Com projeto do renomado arquiteto Paulo Mendes da Rocha, responsável pela reforma da  Pinacoteca de São Paulo, o prédio foi objeto de defesa da entidade para que fosse preservado, ou seja, não poderia sofrer alterações de grande porte.

Os motivos elencados foram a inserção do edifício no cenário mundial, representante de um estilo marcante, necessidade de divulgação do edifício em publicações internacionais e exemplo de solução ecológica do projeto como paradigma de ação urbana para a cidade de Goiânia. O meio ambiente foi considerado à época da construção do prédio porque havia um trecho do terreno que fazia parte do trajeto do Córrego Buritis e também um bosque, que foram respeitados e incluídos na obra.

Esses detalhes fazem parte da memória do aposentado Wagner Campos. Ele foi sócio do clube durante muitos anos e se reunia em festas ou encontros informais com amigos para conversarem e se divertirem nos anos 1980. “Não tinha muito apelo esportivo, apesar de ter a estrutura para isso. Tinha acesso restrito de público. Tinha uma matinha muito bonita, linda, da época da fundação de Goiânia, no muro do fundo do Jóquei até onde hoje fica uma agência da Caixa Econômica Federal, na avenida Anhanguera”, diz.

Um dos grandes problemas relacionados ao Jóquei é a novela judicial que se desenrolou nos últimos anos. Com dívidas superando os R$ 30 milhões, a venda se tornou uma alternativa. Em 2017, uma igreja evangélica chegou a manifestar interesse e começar as negociações, mas a Procuradoria Geral do Município de Goiânia pediu e a Justiça autorizou a  suspensão das tratativas porque a maior parte do débito é de IPTU.

No ano seguinte, a administração do prédio feita pela Associação dos Joqueanos e Amigos do Jóquei Clube de Goiás pediu autorização para demolir o imóvel. A Prefeitura negou. Agora, o espaço não pode ser vendido nem sofrer intervenções imobiliárias substanciais até a quitação dos tributos com o Município e com outros credores.

Sem uso, as piscinas vêm sendo motivo de reclamação de moradores da região devido ao risco de proliferação do mosquito transmissor da dengue. A reportagem tentou entrar em contato com a Associação dos Joqueanos e Amigos do Jóquei Clube de Goiás, mas não houve retorno até a publicação desta edição.

🔔Receba as notícias do Diário do Estado no Telegram do Diário do Estado e no canal do Diário do Estado no WhatsApp

BYD cancela contrato com empreiteira após polêmica por trabalho escravo

Na noite de segunda-feira, 23, a filial brasileira da montadora BYD anunciou a rescisão do contrato com a empresa terceirizada Jinjiang Construction Brazil Ltda., responsável pela construção da fábrica de carros elétricos em Camaçari, na Bahia. A decisão veio após o resgate de 163 operários chineses que trabalhavam em condições análogas à escravidão.

As obras, que incluem a construção da maior fábrica de carros elétricos da BYD fora da Ásia, foram parcialmente suspensas por determinação do Ministério Público do Trabalho (MPT) da Bahia. Desde novembro, o MPT, juntamente com outras agências governamentais, realizou verificações que identificaram as graves irregularidades na empresa terceirizada Jinjiang.

Força-tarefa

Uma força-tarefa composta pelo MPT, Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Defensoria Pública da União (DPU) e Polícia Rodoviária Federal (PRF), além do Ministério Público Federal (MPF) e Polícia Federal (PF), resgatou os 163 trabalhadores e interditou os trechos da obra sob responsabilidade da Jinjiang.

A BYD Auto do Brasil afirmou que “não tolera o desrespeito à dignidade humana” e transferiu os 163 trabalhadores para hotéis da região. A empresa reiterou seu compromisso com o cumprimento integral da legislação brasileira, especialmente no que se refere à proteção dos direitos dos trabalhadores.

Uma audiência foi marcada para esta quinta-feira, 26, para que a BYD e a Jinjiang apresentem as providências necessárias à garantia das condições mínimas de alojamento e negociem as condições para a regularização geral do que já foi detectado.

O Ministério das Relações Exteriores da China afirmou que sua embaixada e consulados no Brasil estão em contato com as autoridades brasileiras para verificar a situação e administrá-la da maneira adequada. A porta-voz da diplomacia chinesa, Mao Ning, em Pequim, destacou que o governo chinês sempre deu a maior importância à proteção dos direitos legítimos e aos interesses dos trabalhadores, pedindo às empresas chinesas que cumpram a lei e as normas.

Receba as notícias do Diário do Estado no Telegram do Diário do Estado e no canal do Diário do Estado no WhatsApp