Testemunha afirma que jovem morto após fugir de abordagem da PM em SP não estava
armado
Natanael Venancio Almeida, de 19 anos, será enterrado nesta quarta (21). Família
contou que rapaz saiu de moto e, na volta, fugiu dos policiais por estar sem
capacete. Secretaria informou que agentes usavam câmeras na farda e que
analisará imagens. Corregedoria acompanha o caso.
Jovem de 19 anos é morto em ação da PM; família diz que ele tinha ido comprar
remédio
O corpo de Natanael Venancio Almeida, de 19 anos, morto por policiais militares
após uma abordagem na Zona Sul de São Paulo, será enterrado nesta
quarta-feira (21). Ele foi baleado dentro de casa, segundo familiares.
Nesta terça (20), a mãe de Natanael, Maria Betânia Venancio, esteve no Instituto
Médico Legal (IML) para reconhecer o corpo. Ela relatou que presenciou o momento
em que o filho foi baleado por um policial.
> “Ele caiu dentro de casa. Ele disparou a arma dentro da minha casa. Eles
> entraram e atiraram na minha frente”, afirmou.
O caso aconteceu no fim da noite de domingo (19). De acordo com o boletim de
ocorrência, Natanael fugiu de uma abordagem policial na Rua Alexandre Benois, na
Vila Andrade, pilotando uma moto sem capacete, com um garupa. Os dois seguiram
pela contramão até uma viela na Rua Campo Novo do Sul.
Imagens de câmeras de segurança mostram parte da perseguição. Às 22h17, é
possível ver o jovem fugindo de três policiais em motocicletas. No BO, os PMs
relatam que dois agentes abordaram o garupa e o terceiro, Natanael, que estaria
armado. Ainda segundo o documento, houve confronto, e o policial fez três
disparos: dois atingiram o jovem e um acertou a mão do próprio PM.
Uma testemunha que não será identificada por segurança, porém, desmentiu a
versão da polícia e afirmou à TV Globo que a arma não pertencia a Natanael. “O
policial colocou a arma do crime no chão”, disse. Outro vídeo gravado após a
morte mostra um homem fotografando e entregando uma arma a um policial,
supostamente a mesma que foi atribuída à vítima.
O irmão de Natanael, Micael Venancio, também fez críticas à conduta dos agentes:
“Meu irmão ficou agonizando lá. Ele morreu de hemorragia porque não foi
socorrido”.
O boletim de ocorrência informa que o policial que atirou estava sem câmera
corporal. No entanto, nesta segunda, a própria Polícia Militar afirmou que há
imagens do momento do disparo. A Corregedoria da PM investiga o caso e disse que
vai começar analisando essas imagens.
Ainda segundo o BO, a Polícia Civil apreendeu duas armas: a pistola calibre .40
do policial e outra pistola 9 mm atribuída a Natanael. Todas as 12 munições
dessa segunda arma estavam intactas, o que indica que não foi disparada.
A polícia também confirmou que Natanael não tinha antecedentes criminais.
A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo informou que dois policiais foram
afastados das ruas, que o caso está sob investigação do DHPP (Departamento de
Homicídios e Proteção à Pessoa), e que a mãe de Natanael será ouvida pela
Polícia Civil nos próximos dias.
O QUE DIZ A FAMÍLIA
A família disse que Natanael havia saído para comprar remédio para a mãe e foi
baleado quando já estava dentro de casa. Segundo os parentes, ele fugiu da
abordagem policial apenas porque estava sem capacete e habilitação e temia
perder a moto.
A mãe de Natanael conta que ele conseguiu entrar em casa, mas foi perseguido e
morto por policiais da Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas (Rocam).
Voltou com a Rocam correndo atrás dele. Ele entrou com tudo para dentro de casa.
Eu fui encostar a porta, a Rocam veio e bateu na porta. Depois, entraram e
atiraram no meu filho. Eu falei: ‘Não atira, não, não atira’.
— Maria Bethânia Venâncio, mãe do jovem
Natanael morava com o tio na região do Campo Limpo, na Zona Sul, e deixa uma
filha de 1 ano e 4 meses.
A ação policial gerou um protesto de moradores na noite de segunda-feira (19),
que queimaram um carro na Avenida Carlos Caldeira Filho.
A manifestação aconteceu uma semana após a morte de outro jovem, também de 19
anos, pela PM na região, que fica ao lado da favela de Paraisópolis.
O QUE DIZ A SECRETARIA DA SEGURANÇA
A Secretaria da Segurança Pública (SSP) disse que os agentes utilizavam câmeras
corporais e que todas as circunstâncias dos fatos são investigadas pelo
Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa e pela Polícia Militar por
meio de Inquérito Policial Militar.
“As imagens serão analisadas no decorrer das investigações”, apontou a pasta.
A SSP afirmou, ainda, que as armas envolvidas na ação foram apreendidas e
encaminhadas para perícia e que a instituição não tolera desvios de conduta.
“Laudos periciais foram solicitados ao Instituto de Criminalística e IML e,
assim que concluídos, serão analisados pela autoridade policial para auxiliar no
esclarecimento do caso. A Polícia Militar reitera que é uma instituição
legalista, que não tolera excessos ou desvios de conduta. Qualquer denúncia de
abuso por parte de seus agentes é rigorosamente investigada pela corregedoria da
instituição.”
A pasta disse que um policial ficou ferido na ação.
O DE solicitou à SSP mais informações sobre o caso, mas não obteve retorno até a
última atualização desta reportagem.