Um jovem de 26 anos faleceu durante uma corrida de rua promovida por Pablo Marçal no bairro nobre de Alphaville, em São Paulo. O caso aconteceu no último dia 5, mas foi revelado agora e a Polícia Civil de São Paulo está investigando as circunstâncias da morte de Bruno da Silva Teixeira. Ele era funcionário da XGrow, uma das empresas criadas pelo coach de Goiânia e comandada por seu sócio, Marcos Paulo de Oliveira.
O boletim de ocorrência registrado em uma delegacia da cidade de Barueri aponta que o jovem corria com um grupo de funcionários da empresa por volta das 22h, quando teve um mal súbito e caiu perto do quilômetro 15. Além disso, ele sofreu uma parada cardíaca e foi levado de carro até o Hospital Albert Einstein, na capital paulista. Os médicos tentaram reanimá-lo, mas às 23h20, Bruno foi declarado morto.
Segundo os familiares, a corrida foi organizada pelos próprios funcionários do autointitulado “estrategista digital”. O título surgiu após Pablo ter levado colaboradores, em janeiro do ano passado, para o Pico dos Marins, na Serra da Mantiqueira, em um dia chuvoso. A escalada, que fazia parte do programa “O Pior Ano da Sua Vida”, quase terminou em tragédia e o grupo precisou ser resgatado pelos bombeiros com riscos de hipotermia.
É comum que Marçal submeta seus funcionários e alunos a situações extremas sob alegação que eles precisam superar limites e tomar decisões difíceis. Esse foi o caso da “Pior Corrida da Sua Vida” em que Bruno estava participando. O coach agora tem estimulado seus funcionários, alunos e seguidores a correrem longas distâncias.
Os irmãos do jovem afirmam que o grupo saiu do prédio da Plataforma Internacional, também propriedade de Pablo Marçal, com o desafio de correr 42 km, distância informada de última hora. Apesar de não estar presente no grupo, Marçal postou que conseguiu completar essa distância dias antes. “Minha mãe não é mãe de fraco. Meu pai não é pai de otário. Minha avó não é avó de trouxa”, disse ao se gabar da maratona supostamente completa.
Entretanto, amigos de Marçal dizem que ele nunca foi praticante de maratona, fator que os fazem duvidar que o coach tenha terminado o percurso. Mesmo com a dúvida dos próprios amigos, o testemunho serviu para “provar” que com esforço, qualquer um também conseguiria completar.
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Horas antes de sofrer a parada cardíaca e falecer, o jovem de 26 anos gravou uma série de vídeos, sendo que em um mostra o momento em que ele e os colegas são avisados que a meta seria correr 42 km em vez de 21 km (distância anterior). Segundo familiares, Bruno estava acostumado a correr curtas distâncias desde 2018.
No grupo, estava o chefe imediato de Bruno, o CEO da Plataforma Internacional Felipe Cintra. Ainda em frente à empresa, o jovem gravou um vídeo em tom de humor: “fui inventar de andar com os caras de frequência alta, olha onde eu fui me enfiar”. Já outro vídeo mostra o jovem tentando acompanhar Cintra, que corria enquanto fazia uma live. Neste último, Bruno diz “ele está produzindo, destravando as pessoas, correndo e destravando ele mesmo”.
Defesa
A advogada da família, Glaucia Ferreira Rocha, afirma que Pablo tinha grande influência sobre o grupo, fato confirmado pelos familiares de Bruno, que contaram que o sonho do jovem era chamar atenção e atuar mais perto de Marçal. Ela ressalta também que, em casos como este, os primeiros socorros são fundamentais para que a vítima sobreviva.
“Ao que tudo indica, ninguém ali sabia o que fazer em caso de parada cardíaca, o que demonstra despreparo por parte dos idealizadores de um treino de tamanha intensidade. Isso nos causa estranhamento”, destaca. Glaucia também questiona se o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi acionado, uma vez que o rapaz teve que ser transportado em carro particular até o hospital.
Já o advogado de Pablo Marçal, Tassio Renan Souza Botelho, a morte de Bruno foi uma fatalidade e que é “má-fé” associar a tragédia ao nome e trabalho do coach. “Pablo nem estava na corrida. Estava dormindo em casa quando foi acordado com essa triste notícia. Estamos todos tristes, mas infelizmente em qualquer corrida isso é passível de acontecer. O que temos é um relato de inspiração do Pablo, que correu 42 quilômetros, e isso mexeu com ele”.
Por meio de nota, a assessoria do coach diz que o Samu foi acionado, mas a vítima teve que ser levada com urgência até o hospital e o serviço demoraria para chegar. O texto ainda afirma que é um treino espontâneo e amador, sendo comum ver corredores a se desafiarem. “Os treinos não são estruturados. Cada um leva a sua água e suplementos de acordo com seus gostos. Lamentamos essa fatalidade profundamente, pois todos estão sujeitos a uma fatalidade. (…) Certas pessoas se utilizaram dessa dor para outros fins, mas a todo tempo prestamos o suporte necessário à família”, informaram.