Poliglota e fã de literatura: quem era a jovem presa injustamente que morreu de
câncer dois meses após ser absolvida no RS
Empresário Allen Silva contou ao DE que manteve breve relacionamento com Damaris
Vitória Kremer da Rosa. Segundo ele, apesar de ter consciência da gravidade do
problema de saúde que enfrentava, a jovem acreditava na cura.
Jovem presa injustamente por 6 anos morre de câncer dois meses após ser
absolvida por júri
O empresário Allen Silva contou ao DE que manteve um breve relacionamento
com a jovem que ficou presa injustamente por 6 anos e morreu dois meses após ser
absolvida. Damaris Vitória Kremer da Rosa, 26 anos, não resistiu às complicações de um
câncer no colo do útero diagnosticado enquanto estava na cadeia.
Allen afirmou que eles se conheceram pouco tempo depois de Damaris ter sido
declarada inocente. Apesar de ter consciência da gravidade do problema de saúde
que enfrentava, a jovem acreditava na cura.
> “Mesmo com dor, ela tentou viver muito. A gente viajava de moto sempre que
> podia. A gente tinha plano de viajar para a Europa. Tinha plano de viver o
> mundo”, disse.
Allen definiu Damaris como uma “pessoa extremamente doce”, “muito organizada” e
“dona de uma inteligência ímpar”.
> “Dominava inglês, italiano. Gostava muito de literatura. Lia Dostoiévski, lia
> Machado de Assis, lia uma infinidade de livros. Gostava muito de séries”,
> complementou.
No domingo, (2), feriado de Finados, o empresário utilizou as redes sociais para
prestar uma homenagem a jovem. “Valorize poder existir em plenitude, valorize o
poder da vida”, escreveu em uma postagem dos dois no hospital.
Ela foi sepultada na última segunda-feira (27), no Cemitério Municipal de
Araranguá (SC).
Damaris Vitória Kremer da Rosa morreu aos 26 anos — Foto: Arquivo Pessoal
PRISÃO E PEDIDOS DA DEFESA NEGADOS: A CRONOLOGIA DO CASO
Conforme os registros da Secretaria de Sistemas Penal e Socioeducativo, aos
quais o DE DE teve acesso, Damaris foi
presa preventivamente em agosto de 2019, por suposto envolvimento no homicídio
de Daniel Gomes Soveral, ocorrido em novembro de 2018, em Salto do Jacuí, no Noroeste
do RS. 
A denúncia foi oferecida à Justiça em julho de 2019. Na ocasião, a Promotoria
alegou que Damaris “ajustou o assassinato juntamente com os denunciados” e
manteve “conduta dissimulada, um relacionamento com a vítima, de modo a fazê-la
ir até Salto do Jacuí, local estipulado para a execução”.
Conforme o MP, outras duas pessoas tiveram envolvimento na morte: Henrique Kauê
Gollmann (namorado de Damaris na época) e Wellington Pereira Viana. Henrique
teria efetuado o disparo que matou Daniel, e Wellington “concorreu para a
prática do fato ao ajustar e auxiliar na organização do homicídio”.
Henrique foi preso no Presídio Estadual de Venâncio Aires. O júri o condenou
pela morte. Welligton chegou a ser levado para o Presídio Estadual de Santa Cruz
do Sul. Ele foi absolvido das acusações.
A defesa de Damaris sustenta que ela apenas contou a Henrique que teria sido
estuprada por Daniel. Em retaliação, ele teria assassinado o homem e ateado fogo
no corpo.
Ao longo do processo, foram protocolados pedidos de revogação da prisão de
Damaris, que receberam pareceres negativos do Ministério Público e foram
indeferidos pela Justiça. Ela relatava problemas de saúde, como sangramento
vaginal e dor na região do ventre. 
“Apesar da suposta fragilidade na saúde da ré, tal alegação é pautada em mera
suposição de doença, tendo em vista que os documentos médicos juntados nos autos
apenas apontam a indicação de ingestão de medicamentos, sem apontar qualquer
patologia existente e sem trazer exames e diagnósticos”, argumentou o MP.
Prontuário médico de Damaris Vitória Kremer da Rosa — Foto: Reprodução
TORNOZELEIRA E JÚRI
Damaris passou por penitenciárias em Sobradinho, Lajeado, Santa Maria e Rio Pardo. Apenas em março
de 2025, a prisão foi convertida em domiciliar. A decisão se deu em razão do
agravamento dos problemas de saúde da mulher.
No mesmo mês, foi determinada a instalação de monitoramento eletrônico, conforme
ofício expedido. Em abril, a Justiça autorizou, a pedido da defesa, que Damaris
permanecesse na casa da mãe, em Balneário Arroio do Silva (SC), com
tornozeleira.
“Fiz petições manifestando que ela estava tratando câncer e precisava
transitar por hospitais. Ainda, havia a oscilação do peso. Pedi remoção da
tornozeleira, mas nenhum desses pedidos foi atendido. Ela foi submetida a
raio-x, exames, tudo com tornozeleira”, relata a advogada Rebeca Canabarro.
O caso de Damaris foi a julgamento apenas em agosto. O Conselho de Sentença
absolveu a jovem de todas as acusações a ela imputadas (ter matado a vítima e
ateado fogo no veículo com o corpo dentro) por negativa de autoria baseada na
falta de provas. Ela morreu 74 dias depois.
Damaris Vitória Kremer da Rosa morreu aos 26 anos — Foto: Arquivo Pessoal
O QUE É PRISÃO PREVENTIVA?
A prisão preventiva está prevista no Código de Processo Penal, quando o
suspeito apresenta:
– risco à ordem pública;
– risco à ordem econômica;
– risco ao andamento das investigações;
– risco de fuga.
Também deve ser aplicada quando a liberdade do investigado gerar uma situação de
perigo para a sociedade.
O QUE DIZ O TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RS
“O Tribunal de Justiça não se manifesta em questões jurisdicionais.
Com relação ao caso, foram avaliados três pedidos de soltura.
O primeiro em 2023, que foi negado pelo magistrado da Comarca, pelo TJRS e STJ
em sede de recurso.
Quanto ao segundo pedido, em novembro de 2024, em que a defesa da ré alegava
motivo de saúde, a decisão aponta que os documentos apresentados eram
receituários médicos, sem apontar qualquer patologia existente e sem trazer
exames e diagnósticos.
Em 18 de março de 2025, a prisão preventiva da ré foi convertida em prisão
domiciliar, sendo expedido alvará de soltura. A decisão foi motivada pelo estado
de saúde da ré, diagnosticada com neoplasia maligna do colo do útero,
necessitando de tratamento oncológico regular.
Ainda em março de 2025, foi autorizada a instalação de monitoramento eletrônico,
conforme ofício expedido ao Instituto Penal de Monitoramento Eletrônico.
Em abril de 2025, a ré iniciou tratamento combinado de quimioterapia e
radioterapia no Hospital Ana Nery em Santa Cruz do Sul, sendo posteriormente
transferida para o Hospital Regional em Rio Pardo.
Em 09/04/2025, foi concedido parcialmente o pedido da defesa, autorizando:
a) a transferência e cumprimento de prisão domiciliar com monitoramento
eletrônico por tornozeleira;
b) a permanência na residência da mãe da ré, em Balneário Arroio do Silva-SC; e
c) o deslocamento da ré até o Hospital São José em Criciúma para consultas e
tratamento oncológico.
Em agosto de 2025, foi realizado o julgamento da ré pelo tribunal do júri,
quando ocorreu sua absolvição pelos jurados.”
O QUE DIZ O MINISTÉRIO PÚBLICO DO RS
“Na primeira oportunidade em que foi informada nos autos a doença da ré, não
houve comprovação desta informação. Mas, a partir do momento em que a defesa fez
o segundo pedido de liberdade, alegando e comprovando a doença, a ré foi, então,
solta.”
Infográfico – Jovem presa injustamente por 6 anos morre de câncer dois meses
após ser absolvida
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