‘Me afastei de tudo que fazia mal’, diz jovem que foi alvo de assédio pela internet no RS
Núcleo criado pelo MP para identificar radicalização e violência entre jovens descobriu caso de moradora do interior do RS, alvo de violência e abusos pela internet. Dois homens foram presos
1 de 1 Jovem foi alvo de dois homens presos por violência online contra menores de idade no RS — Foto: Reprodução/RBS TV
Jovem foi alvo de dois homens presos por violência online contra menores de idade no RS — Foto: Reprodução/RBS TV
Ao tentar fugir do bullying que sofria na escola, uma adolescente, moradora do interior do Rio Grande do Sul, encontrou na internet o ambiente para ser ouvida e acolhida. Porém, acabou também se tornando vítima de dois perpetradores de violência e abusos online.
O caso foi descoberto pelo Núcleo de Prevenção à Violência Extrema, do Ministério Público do RS, enquanto monitorava redes sociais de um jovem que fazia apologia à violência na internet.
Foi descoberto que ele incentivava a menina à automutilação e planejava um ataque a uma escola. A promotoria descobriu ainda que um pedófilo mantinha contato com ela. Ambos foram presos.
Hoje ela tem 18 anos e cursa psicologia. “Minha relação com a internet hoje é saudável. Eu me afastei de tudo aquilo que me fazia mal”, afirma. “Que não é todo mundo que vai te tratar mal”, conclui.
Desde a criação do Núcleo, há pouco mais de um ano, foram identificados 178 adolescentes e jovens com tendência à radicalização ou violência extrema no Rio Grande do Sul.
O grupo já realizou quatro prisões, seis internações em instituições socioeducativas e sete internações psiquiátricas. No entanto, o principal objetivo é evitar a necessidade de ações mais drásticas.
A adolescente passou por crises de pânico e ansiedade, conta. A mãe da vítima percebeu que algo estava errado quando a filha começou a se afastar demais, imersa na internet.
“Ela sempre foi mais quieta, gostava mais da leitura, só que nós víamos que ela tinha largado os livros, que ela dormia mais, que ela estava o tempo todo dentro do quarto, que ela não queria mais fazer atividades nenhumas familiares com nós, uma irritabilidade, uma forma ríspida de responder que ela nunca teve, sempre foi uma menina muito meiga, diz à RBS TV.
O promotor de Justiça Fábio Costa Pereira, coordenador do programa, explica que há fatores-chave que contribuem para a radicalização juvenil. Entre eles: o uso excessivo de telas sem supervisão parental, a desestruturação familiar, o bullying.
Os jovens em maior risco costumam apresentar comportamentos como isolamento, desinteresse pelo ambiente escolar e uma obsessão por conteúdos violentos. “É aquele que a gente vai dizer que é o quietinho, que não sai do quarto, que não incomoda. É claro que conjuntamente com isso vem outros sinais, como por exemplo o interesse imoderado pela violência, a falta de interações no mundo concreto, a falta de interesse pelo ambiente escolar, a falta de identificação no mundo escolar”, explica o promotor.