Justiça concede liberdade a Japa, influenciadora presa em operação contra crimes digitais com uso de deepfakes de celebridades
Segundo a Polícia Civil, Laís Rodrigues Moreira, conhecida como Japa, ajudava a impulsionar os golpes e promover jogos de azar ilegais. Defesa argumenta que ela é inocente.
1 de 5 Japa Laís foi presa em operação em outubro, mas Justiça concedeu liberdade — Foto: Reprodução/ Instagram
Japa Laís foi presa em operação em outubro, mas Justiça concedeu liberdade —
Foto: Reprodução/ Instagram
O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ-SP) concedeu liberdade à
influenciadora Laís Rodrigues Moreira, conhecida como Japa. Ela tinha sido presa
em 1º de outubro, em uma operação contra o uso de vídeos falsos (deepfakes) de
celebridades para a prática de crimes digitais.
Segundo a Polícia Civil, ela é investigada por supostamente se associar a
estelionatários, que exploravam seu alcance nas redes sociais.
* Saiba quem é Japa, influenciadora presa em operação contra crimes digitais
O alvará de soltura foi expedido nesta quinta-feira (13). Ao conceder a
liberdade, a Justiça determinou que ela cumpra as seguintes medidas cautelares:
* Proibição de aproximação e contato, por quaisquer meios, com todos os
denunciados e investigados, com exceção dos que sejam parentes;
* Proibição de aproximação e contato com integrantes de organizações
criminosas;
* Proibição de frequentar estabelecimentos carcerários, principalmente aqueles
onde recolhidos os demais denunciados;
* Proibição de se envolver em novos crimes;
* Obrigação de manter contato e endereço atualizado no processo;
* Comparecer a todos os atos do processo;
* Proibição de se ausentar da região por mais de 15 dias sem prévia autorização
judicial;
* Comparecimento mensal em juízo para informar e justificar atividades;
* Entrega do passaporte em juízo, no prazo de 24 horas, com proibição de
obtenção de novo documento de viagem durante a tramitação do processo.
A decisão cita que o descumprimento de quaisquer uma das medidas levará à
decretação de nova prisão preventiva.
Ao comentar a decisão, em nota, a defesa de Japa reforçou que ela é inocente.
> “A decisão representa a vitória da verdade e da justiça. Laís nunca cometeu
> qualquer crime e não merecia estar presa. Hoje, a liberdade de Laís é mais do
> que uma decisão judicial: é o recomeço de uma jovem que foi injustamente
> privada de seus dias, de sua paz e de seus sonhos. Laís volta para os braços
> da família, dos amigos e de todos que acreditaram nela e nunca duvidaram de
> sua inocência!”.
Influenciadora de Piracicaba é alvo de operação contra crimes com uso de deep fake
Japa tem 123 mil seguidores no Instagram. Nele, ela ostenta fotos em motos e
carros de luxo, mansões e embarcações.
De acordo com as investigações, Japa ajudava a impulsionar os golpes e, também,
a promover jogos de azar ilegais.
> “Ela se vincula a eles ou os criminosos, estelionatários se vinculam a ela
> para usar essa massa de seguidores dela e atingir um número muito maior de
> potenciais vítimas”, explicou o delegado Filipe Borges Bringhenti.
A Polícia Civil apreendeu um carro e três motos de luxo na casa da suspeita, em
um condomínio fechado na região do Bairro Pompéia, em Piracicaba (SP).
Investigações apontam movimentação atípica de R$ 15 milhões nas contas bancárias
dela e de sua mãe em um período entre seis meses e um ano.
2 de 5 Em redes sociais, Japa ostenta fotos em motos e carros de luxo, mansões e
embarcações — Foto: Reprodução/ Instagram
A defesa da Laís manifestou “surpresa e irresignação” diante do cumprimento dos
mandados judiciais, no dia da operação.
> “Especialmente porque, até o presente momento, [a defesa] não teve acesso à
> decisão judicial que determinou sua prisão, o que impede o pleno exercício do
> contraditório e da ampla defesa — fundamentos basilares do Estado Democrático
> de Direito”, acrescentaram os advogados Felipe Cassimiro Melo de Oliveira e
> Matheus Bottene Pacifico, na ocasião.
Também conforme os defensores, ela jamais evitou colaborar com qualquer
investigação e, se intimada, teria se apresentado espontaneamente para prestar
os esclarecimentos.
“Assim, a medida extrema e precoce de privação da liberdade revela-se, em nossa
visão, desproporcional e contrária ao espírito da Constituição da República, que
consagra a liberdade como regra e a prisão como exceção. Confiamos na Justiça e
acreditamos que, tão logo os fatos sejam devidamente apreciados sob o crivo do
devido processo legal, a revogação da prisão se imporá como imperativo da razão
jurídica e da prudência institucional.
3 de 5 Polícia apreende motocicletas e carro em casa de influenciadora digital
de Piracicaba durante operação contra crimes cibernéticos — Foto: Gustavo
Nolasco/EPTV
Segundo as investigações, o grupo utilizava tecnologia de inteligência
artificial para criar deepfakes de celebridades como a modelo Gisele Bundchen,
da ex-BBB Juliette, da apresentadora Angélica e de Sabrina Sato – para enganar
pessoas com vendas fraudulentas de produtos pela internet.
Os vídeos falsos eram usados para promover produtos inexistentes como kits de
cosméticos e ofertas fraudulentas, levando as vítimas a realizarem pagamentos
via PIX.
Segundo investigação da Polícia Civil do Rio Grande do Sul, em um desses vídeos,
os criminosos usaram a imagem da modelo Gisele Bündchen supostamente anunciando
uma promoção em que estariam sendo dadas malas de viagem. O produto seria de graça, mas era
necessário pagar o frete.
Os interessados eram levados para um site alterado para parecer legítimo onde
eram feitos os pagamentos. No entanto, após os valores serem pagos, quem pagou
não recebia o produto – era dessa forma que os estelionatários lucravam. O
dinheiro caía em contas de fachada.
> “O que chamou a atenção dos investigadores não foi apenas o valor
> relativamente baixo do prejuízo, R$ 44,57 cobrados como ‘taxa de frete’, mas a
> sofisticação técnica por trás do golpe. Os criminosos haviam criado um vídeo
> com ‘deepfake’ da imagem e voz de Gisele Bündchen, fazendo parecer que a
> modelo estava realmente promovendo o produto inexistente”, conta a delegada
> Isadora Galian.
4 de 5 Grupo suspeito de usar vídeo com ‘deepfake’ da modelo Gisele Bündchen
para aplicar golpes com vendas de produtos é alvo de operação policial no RS —
Foto: Reprodução
Segundo a polícia, os criminosos montaram uma espécie de engenharia digital, com
uso de inteligência artificial para criação de conteúdo falso até lavagem de
dinheiro.
O esquema utilizava empresas fantasmas, contas com nomes de “laranjas”,
incluindo idosas de 80 a 84 anos, e gateways de pagamentos fraudulentos.
BALANÇO DA OPERAÇÃO
A Operação Modo Selva ocorreu nos estados de Rio Grande Sul, Santa Catarina, São
Paulo, Bahia e Pernambuco. As ações envolveram equipes da Delegacia de
Investigações Cibernéticas Especiais (Dicesp) e do Departamento Estadual de
Repressão aos Crimes Cibernéticos Dercc).
Foram expedidos pela Justiça nove mandados de busca e apreensão, sete de prisão
preventiva, além do sequestro e bloqueio de 10 veículos, e de 21 ativos,
investimentos ou aplicações, contas bancárias e carteiras de criptoativos.
No interior de São Paulo, foram cumpridos cinco mandados de prisão e de busca e
apreensão em Piracicaba (SP) e Hortolândia (SP).
Os valores obtidos com o esquema podem chegar a R$ 210 milhões.
5 de 5 Polícia cumpre mandados de busca e apreensão em condomínio de Piracicaba
— Foto: Gustavo Nolasco/EPTV
COMO NÃO CAIR EM GOLPES
A Polícia Civil alerta a população sobre os sinais de golpes digitais que
utilizam deepfakes:
* Desconfie de promoções “imperdíveis” protagonizadas por celebridades
* Verifique sempre a autenticidade dos perfis que divulgam ofertas
* Pesquise a reputação da empresa em sites como Reclame Aqui antes de comprar
* Nunca forneça dados pessoais ou realize pagamentos sem confirmar a
legitimidade da oferta
* Denuncie imediatamente qualquer suspeita de golpe, mesmo que o valor seja
baixo
Sobre denúncias, a Polícia Civil enfatiza que “uma das descobertas mais
preocupantes foi constatar que a grande maioria das vítimas jamais denunciava os
golpes”.




