O projeto de lei que pretende flexibilizar a Lei dos Agrotóxicos, em tramitação no Congresso Nacional, acende a luz de alerta para um tema que afeta a saúde dos consumidores: a contaminação das frutas, verduras, hortaliças e outros alimentos in natura por defensivos agrícolas. Eliane Rodrigues da Cruz, da Gerência de Vigilância Sanitária de Produtos, adverte que é preciso cuidado na escolha, manuseio e consumo desses tipos de alimentos.
Segundo ela, o último levantamento feito pelo Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos (Para), da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), do qual o Laboratório Central de Goiás (Lacen-GO) e a SES-GO fizeram parte, revelou que, de cada cinco amostras de 25 diferentes tipos de alimentos analisados, entre 2013 e 2015, uma foi considerada insatisfatória, por apresentar concentração de resíduos acima do limite permitido ou agrotóxicos não autorizados. O próximo relatório nacional está em fase de elaboração.
Ela explica que, considerando a complexidade da questão, a ciência não conseguiu ainda, estabelecer o nexo-causal entre o aparecimento de doenças crônicas e a ingestão de quantidades de agrotóxicos via resíduos presentes nos alimentos, havendo escassez de estudos publicados a respeito. Isto se deve ao fato de que as quantidades residuais ingeridas são relativamente pequenas e o tempo necessário para o desenvolvimento de uma doença crônica é longo, em geral décadas, dificultando a observação de associação entre exposição em longo prazo e a doença.
Eliane esclarece ainda que há inúmeros fatores de risco conflitantes, como a presença de outras substâncias, naturais ou sintéticas, potencialmente nocivas nos alimentos, bem como outros contaminantes ambientais a que somos expostos e fatores sociais diversos que representam risco para o surgimento de doenças crônicas, tais como tabagismo, consumo de bebidas alcoólicas, poluição atmosférica, obesidade, sedentarismo, estresse, entre outros.
“Esclarecemos que existem medidas a serem adotadas pelo consumidor com a finalidade de redução dos resíduos de agrotóxicos nos alimentos, tais como, a lavagem correta e retirada de cascas e folhas externas que favorecem a redução dos resíduos, mas não os eliminam”, afirma a gerente da SES-GO.
Cuidados sugeridos:
Em relação aos consumidores, recomenda-se a opção por alimentos rotulados com identificação do produtor, o que pode contribuir para o comprometimento dos produtores em relação à qualidade dos seus produtos.
Os agrotóxicos aplicados nos alimentos têm a capacidade de penetrar no interior de folhas e polpas do vegetal, e os procedimentos de lavagem e retirada de cascas e folhas externas das mesmas, apesar de incapazes de eliminar aqueles contidos em suas partes internas, favorecem à redução da exposição aos resíduos de agrotóxicos, principalmente quando a casca é comestível. Para diminuição dos níveis residuais de agrotóxicos na casca, a Anvisa recomenda lavagem com água corrente, podendo-se utilizar também uma bucha ou escovinha destinadas somente a essa finalidade, considerando que a fricção igualmente auxilia na remoção de resíduos químicos presentes na superfície do alimento.
A higienização dos alimentos com solução de hipoclorito de sódio tem o objetivo de diminuir os riscos microbiológicos, mas não de eliminar os resíduos de agrotóxicos. A Anvisa sugere ainda que opção pelo consumo de alimentos da época, ou produzidos com técnicas de manejo integrado de pragas, que em geral recebem uma carga menor de defensivo agrícola, reduz a exposição dietética aos agrotóxicos;
Também deve ser considerada a escolha por alimentos oriundos da agricultura orgânica ou agroecológica, os quais contribuem para a manutenção de uma cadeia de produção ambientalmente sustentável.
O MS recomenda que os alimentos in natura ou minimamente processados, em grande variedade e predominantemente de origem vegetal, como sendo à base de uma alimentação nutricionalmente equilibrada, saborosa, culturalmente apropriada e promotora de um sistema alimentar socialmente e ambientalmente sustentável.
Por fim, a Anvisa destaca que o consumo regular de frutas, legumes e verduras está associados a um menor risco de contrair certos tipos de câncer e outras doenças crônicas não transmissíveis, devido à presença de fibras e compostos fitoquímicos, como flavonoides e antocianinas, que agem como antioxidantes naturais, por exemplo o licopeno no tomate, e o resveratrol na uva, entre outros componentes reconhecidamente benéficos à saúde.
A OMS recomenda o consumo de pelo menos 400 g/dia destes alimentos, para que se possa obter um ganho nutricional expressivo na prevenção de doenças crônicas não transmissíveis. Isso significa que é preciso aumentar em ao menos três vezes o consumo diário médio atual de frutas, legumes e verduras da população brasileira, para que seja atingido este patamar.