Duas semanas antes do início da COP30, a maior conferência climática do planeta, o governo brasileiro tornou-se alvo de críticas de ambientalistas ao conceder licença de perfuração à Petrobras para atuar na Foz do Amazonas. Diante desse quadro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) transformou a recriminação aos combustíveis fósseis em uma de suas principais pautas na cúpula de líderes em Belém, embora o tema da transição energética não faça sequer parte, oficialmente, da agenda de negociações.
Em dois dias, foram ao menos quatro menções públicas de Lula ao assunto. Em artigo publicado no GLOBO na quinta-feira, o presidente defendeu que “é impossível seguir indefinidamente com um modelo de crescimento baseado nos combustíveis fósseis”. Já na abertura da cúpula de líderes, embora tenha admitido as “dificuldades e contradições” ao lidar com a questão, o petista reforçou a cobrança:
— Precisamos de mapas do caminho para, de forma justa e planejada, reverter o desmatamento, superar a dependência dos combustíveis fósseis e mobilizar os recursos necessários para esses objetivos.
Ao discursar no início dos trabalhos na sexta-feira, Lula disse, mais uma vez, que o sistema global amparado nos combustíveis fósseis precisa ser revisto e argumentou que a Terra “não comporta mais” o uso intensivo desse tipo de fonte. O presidente também sugeriu o perdão de dívidas de países em desenvolvimento em troca de investimentos na transição energética.
— As decisões que tomarmos com relação ao setor energético definirão nosso sucesso ou fracasso na batalha contra a mudança do clima — pontuou o petista em outro momento de sexta-feira, mais uma vez sem qualquer referência direta à decisão de explorar petróleo na Foz do Amazonas.
A operação na região pode colocar o Brasil entre os quatro maiores produtores globais do combustível fóssil na próxima década, ultrapassando Canadá e China e atrás apenas de Estados Unidos, Arábia Saudita e Rússia. Segundo a Trading Economics, o Brasil é hoje o sexto lugar.
Na sexta-feira, Lula prometeu criar um fundo com recursos oriundos do petróleo para “financiar o enfrentamento da mudança do clima e promover justiça climática”.




