A falta de respostas aumenta a dor da mãe da transgênero desaparecida há mais de um ano em Aparecida de Goiânia. A diarista Fabricia Pereira reclama da possibilidade de arquivamento do inquérito que apura as causas do sumiço de Alicia, de 18 anos. A Polícia Civil adotou diversas linhas de investigação, mas não houve conclusão do caso. O delegado responsável fez o pedido de suspensão das buscas.
“Estou sabendo saber qual a promotora está cuidando do caso para eu falar com ela. Não pode arquivar porque eu não sei o que aconteceu. Alicia não tinha inimigo, minha filha não estava sendo ameaçada. A gente mora lá [bairro Cardoso] já há 42 anos, a vida inteira, meus filhos todos foram criados lá. Se estivesse sendo ameaçada, a gente ficaria sabendo de um jeito ou de outro. Nunca fiquei sabendo de nada, nada!”, diz a mulher.
Fabricia não tem advogado e reclama da falta de informações, apesar de telefonar para a delegacia periodicamente na tentativa de notícias. Ela diz, inclusive, que descobriu a atuação da filha como garota de programa somente no início da apuração, em fevereiro de 2022. Os detalhes do caso foram publicados pelo jornal Metrópoles, que afirma ter tido acesso ao inquérito de 340 páginas.
A reportagem apresenta as supostas motivações consideradas pelos investigadores: a desaparecida não informava os clientes sobre a orientação sexual, teria comprado drogas sem pagar à vista, poderia ter se relacionado com integrantes de facções criminosas rivais, teve encontros com o pai de um amigo e se encontrou com um ex-namorado no dia em que foi vista pela última vez.
O delegado Jonatas Barbosa solicitou o arquivamento ao argumentar haver “impasse” que seria resolvido somente mediante “novas informações”, conforme apontou o Metrópoles. De acordo com a legislação, o arquivamento depende da anuência do Ministério Público. A autorização é seguida da comunicação à família, investigado e autoridade policial. A vítima e o advogado têm um mês para recorrer da decisão.
De acordo com a reportagem, o arquivamento foi requerido mesmo com um relatório da delegada que havia assumido a investigação inicialmente, Luiza Veneranda, com pontos a serem esclarecidos e medidas a serem adotadas para desvendar o mistério do desaparecimento (o homicídio era uma possibilidade à época). Um deles era a insistência na quebra do sigilo bancário do cliente de uma distribuidora que se sentou com Alicia antes do sumiço – o que não foi atendido pelo Google. Nenhuma consideração teria sido incluída no pedido feito por Jonatas ao MP.
O Metrópoles afirma ter entrado em contato com a Polícia Civil de Goiás (PCGO), com o delegado Jonatas, MPGO, com o Google e com os bancos citados no inquérito. A PCGO informou que “o delegado responsável pelo inquérito em apreço adotou todas as medidas cabíveis e encaminhou os autos a juízo, pleiteando o aguardo de fatos novos que demandem novas diligências a serem levadas a cabo”.
A assessoria do MPGO destacou que “dentro do prazo legal, realizará a devida análise dos autos, e adotará as providências que entender pertinentes ao caso”. O Itaú Unibanco destacou a disponibilidade em colaborar com o esclarecimentos dos fatos e pontuou já ter respondido a um ofício sobre o assunto em novembro do ano passado. Os demais envolvidos procurados pela reportagem não se manifestaram.