Última atualização 04/10/2022 | 18:26
Um caso que mistura bullying e violência física aterroriza o dia a dia de Matheus Henrique, de 8 anos, morador de Senador Canedo, na Região Metropolitana de Goiânia. Mais grave ainda, esse processo acontece dentro de uma unidade de ensino, a Escola Municipal Abdon Ferreira de Carvalho, e com o conhecimento da direção.
A rotina de terror já dura aproximadamente três meses e inclui tapas na cara e empurrões, acompanhados de uma justificativa igualmente violenta: que o garoto merece apanhar por não ter pai. Nem mesmo na sala de aula ele está livre das agressões e da perseguição, praticada por cerca de cinco colegas. Todas meninas.
Apesar de absurda, a situação parece não preocupar a escola. “A mãe recorreu ao diretor em busca de solução, mas ouviu que a criança precisava enfrentar os problemas da vida”, explicou a advogada Gabriela M. S. Braga, que defende a vítima e participou da reunião na qual a unidade determinou, inclusive, que Matheus iria permanecer na mesma turma onde é agredido e humilhado.
Como única medida efetiva sobre o caso, o diretor teria anunciado que chamaria um psicólogo para atender o menino, já que toda a situação existia e perdurava em decorrência da timidez dele. No entanto, para a mãe da vítima, a babá Poliana José dos Reis Silva, de 33 anos, a explicação pode ser outra: medo.
Segundo ela, o pai de uma das alunas agressoras usa tornozeleira eletrônica e já teria ido à escola e dito, em encontro informal, que ensinava a filha que era ‘para bater mesmo’. “Tem outros pais que passam pelo mesmo que eu lá, mas eles não têm coragem de falar. Já teve criança que levou pedrada e ficou por isso mesmo”, afirma Poliana.
A escola, conforme a mulher, alega que não pode fazer nada e que faltam funcionários para atender às demandas. “Mas, isso não está certo. No momento em que as crianças estão lá, a responsabilidade de cuidar delas é da escola”, avalia a mãe do pequeno Matheus Henrique.
Com a negativa da escola em agir, Poliana procurou o conselho tutelar, enquanto Gabriela Braga protocolou pedido de providências junto à Secretaria Municipal de Educação. No documento, a advogada solicita: que o aluno seja redirecionado para outra turma, que se adote programa de prevenção e combate ao bullying na escola e que se apure a conduta do gestor da unidade.
Gabriela Braga também deve ingressar com ação de reparação por danos morais. “E vou acompanhar a mãe à delegacia onde ela esteve e não conseguiu registrar ocorrência. É um direito dela e vamos fazer com que seja respeitado”, conclui a advogada.
Dias de muita dor
Sobre os últimos meses, Poliana Reis diz estar vivendo momentos de muita tristeza e dor ao ver o filho cabisbaixo, desanimado, com notas abaixo do usual e se recusando a ir à escola. “Não é fácil para uma mãe chegar em casa do trabalho e ver o filho nessas condições. Ouvir ele [sic] falar que está cansado de apanhar e quer mudar de escola”, explica.
Ela diz que até pensou nessa hipótese, mas que, no momento, está descartada por falta de condições financeiras. Eu teria que pagar transporte, mas esse dinheiro faria falta para os medicamentos da minha filha menor, de três anos”, completa Poliana. A menina faz tratamento em razão de uma doença dermatológica.
Diante da situação, Poliana espera que a escola se sensibilize e remaneje o filho de turma. Espera, ainda, que a violência cesse, e que Matheus possa voltar a sorrir como na foto desta reportagem.
O que diz a Secretaria Municipal de Educação de Senador Canedo
Conforme a assessoria de comunicação da pasta, existe um fluxo que deve ser seguido em casos como esse da Poliana e do Matheus. O primeiro passo, já cumprido pela mãe, é procurar o gestor da escola. Não havendo solução, passar à Ouvidoria e, por fim, ao conselho tutelar.
Ainda de acordo com informação da assessoria, encaminhada por mensagens de texto e áudio, via WhatsApp, caberia a um dos três agentes citados levar a situação ao comando da Educação para, então, serem adotadas as medidas pertinentes.