Major da PM é preso pela segunda vez em menos de quatro meses por usar cargo
para cobrar propina, no Paraná
Alexandro Marcolino Gomes já havia sido preso em maio deste ano, durante a
Operação Zero Um, por ser suspeito de cobrar pagamentos para determinar
transferências de policiais. Ele estava em prisão domiciliar e nesta terça (23)
voltou ao regime fechado. Defesa dele considera a medida “desproporcional”.
O major Alexandro Marcolino Gomes, da Polícia Militar do Paraná (PM-PR), foi
preso preventivamente na manhã desta terça-feira (23). Ele está sendo
investigado por usar o cargo de comandante da 3ª Companhia Independente de
Polícia Militar (CIPM) de Loanda, no noroeste do estado, para cobrar propinas dentro da corporação.
O mandado de prisão contra ele foi expedido após a Justiça Militar torná-lo réu
por corrupção passiva, devido uma denúncia feita pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime
Organizado (Gaeco) contra ele. Entenda abaixo.
Alexandro já havia sido preso preventivamente no dia 22 de maio deste ano,
durante a Operação Zero Um, por ser suspeito de “vender” procedimentos internos
da corporação. Segundo o MP, o major exigia pagamentos para determinar
transferências de policiais e tomar decisões em inquéritos militares, além de
intimidar e subjugar subordinados.
Atualmente, ele estava em prisão domiciliar. Na Operação Transparência realizada
pelo Gaeco nesta terça-feira, o major foi encontrado na casa dele, em Maringá, no norte do Paraná.
Segundo o Ministério Público do Paraná, além do mandado de prisão preventiva,
também foram cumpridas medidas constritivas patrimoniais contra o major, como o
bloqueio de contas, veículos e imóveis no valor de R$ 344.333,00.
A PM-PR informou ao de que não vai se manifestar sobre o caso. Contudo, informou
que Alexandro foi afastado do cargo de comandante e que um procedimento interno
instaurado vai determinar a exclusão ou não dele da corporação.
A advogada Anna Victória Masnei de Lima, que atua na defesa de Marcolino, enviou
uma nota a se manifestando sobre a prisão. Veja abaixo a nota na íntegra:
“A defesa do Major Alexandro Marcolino, por meio da presente nota, vem a público
reafirmar seu compromisso com a verdade, com a legalidade e com a preservação
das garantias fundamentais asseguradas pela Constituição da República.
A prisão cautelar decretada contra o Major Alexandro Marcolino mostra-se medida
desproporcional e inadequada ao atual estágio processual, representando afronta
ao princípio da presunção de inocência (art. 5º, LVII, CF/88), garantia que
constitui um dos pilares do Estado Democrático de Direito.
É imprescindível destacar que a prisão preventiva não pode ser utilizada como
antecipação de pena ou como instrumento de coação. Sua aplicação somente se
legitima em hipóteses de comprovada necessidade, devidamente fundamentadas, o
que não se verifica no caso em tela.
Cumpre ainda ressaltar que o Major Alexandro Marcolino, ao longo dos 26 anos de
sua carreira, sempre pautou sua conduta pela disciplina, pelo respeito à lei e
pela dedicação ao serviço público.
A decisão que lhe impôs a custódia cautelar gera reflexos não apenas em sua vida
pessoal, mas também em sua família, que atualmente enfrenta sérias dificuldades
com sua ausência, agravando o sofrimento de seus entes queridos diante de uma
medida que não encontra amparo na proporcionalidade exigida pela ordem jurídica.
A defesa manifesta sua confiança nas instituições de Justiça, convicta de que a
análise serena e técnica dos fatos conduzirá à revisão desta decisão,
restabelecendo-se a liberdade do Major Alexandro Marcolino e reafirmando-se o
compromisso da sociedade com os valores constitucionais.
Reiteramos, por fim, que não se busca privilégio, mas apenas a observância
estrita da lei, de modo que o processo siga seu curso natural, sem que se
imponha ao acusado uma punição prematura e descabida.
A defesa seguirá vigilante e firme, atuando para que a legalidade prevaleça e
para que os direitos do Major Alexandro Marcolino sejam integralmente
respeitados.”
INVESTIGAÇÃO DO MP CONCLUIU QUE MAJOR EXIGIU DINHEIRO DE FORNECEDORES DURANTE
CAMPEONATO DE PESCA DA CORPORAÇÃO
O major passou a ser investigado em setembro de 2024, quando uma denúncia chegou ao Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), relatando que Alexandro e outros soldados da corporação estariam cometendo crimes.
Durante a operação realizada no dia 22 de maio – ocasião em que o major foi
preso – os policiais também apreenderam camisetas, recibos e cheques sem
indicação nominal de beneficiários no interior da 3ª Companhia da PM em Loanda.
No dia 10 de setembro, Marcolino foi denunciado por corrupção passiva pelo
Ministério Público do Paraná (MP-PR), por meio dos promotores Marcelo Gobbato e
Guilherme Franchi. A investigação foi feita por meio dos Núcleos Regionais do
Gaeco de Maringá e de Umuarama, e concluiu que Marcolino exigiu dinheiro de fornecedores durante a realização de campeonatos de pesca da corporação.
No dia 15, o Poder Judiciário recebeu a denúncia, tornando o major réu no
processo.
O teve acesso ao documento da denúncia. Nela, o Gaeco apontou a ocorrência de
dez situações em que houve cobrança de valores indevidos de representantes de empresas que
mantinham contratos de prestação de serviços com a Companhia.
Segundo a denúncia, algumas das exigências de propina foram feitas durante a
realização do 3º Torneio de Pesca da Companhia. Durante a investigação, foi
apurado que o Major exigiu que a empresa que fornecia as camisetas do evento
repassasse para ele um percentual dos valores arrecadados com as vendas.
Segundo a investigação, ao fazer a exigência, Alexandro usava a desculpa de que
o dinheiro seria para realizar “benfeitorias” nas instalações da corporação. O
MP afirma que, em outras ocasiões, também foi comprovada a exigência de propina
em troca do fechamento de contratos de prestação de serviços para a corporação.
O denuncia comandante da PM de Loanda por cobranças de propina
MAJOR JÁ HAVIA SIDO PRESO EM MAIO DESTE ANO
No dia 22 de maio de 2025, Alexandro foi preso preventivamente durante a
Operação Zero Um. A operação foi nomeada de “01”, pois era assim que Alexandro
era chamado em conversas que foram interceptadas durante as investigações.
As apurações reuniram evidências de que o comandante cobrava, de forma
recorrente, valores para alterar procedimentos disciplinares, inquéritos
policiais militares e transferências de unidades.
De acordo com o MP-PR, as investigações apontaram que o esquema de propina
funcionava internamente na Polícia Militar, de forma sistêmica e estruturada, e
ainda contava com um operador financeiro.
Em uma coletiva de imprensa, o promotor do Gaeco, Marcelo Gobbato, contou que as
investigações apontaram que o major cobrava diferentes valores, a depender de
cada situação. Em um dos casos, o comandante recebeu o pagamento de R$ 10 mil
para que um subordinado fosse transferido para outra unidade. As cobranças eram recorrentes, segundo o Gaeco:
> “Sempre que havia oportunidade de obter valores decorrentes de procedimentos
> disciplinares que ele, de algum modo, pudesse interferir em relação a
> subordinados. Outras vezes, pagamentos para o comandante como forma de o
> militar subordinado conseguir uma transferência para outra unidade da
> instituição. Outras vezes, atos de interferir diretamente na atividade de
> policiais para que não fizessem abordagens ou não tomassem essas ou aquelas
> providências”, explicou o promotor.
Segundo o comandante Mildemberg, o major tinha competência para solucionar
inquéritos militares e “vendia” as decisões dos procedimentos.