Manifestações violentas em Londrina: o que se sabe sobre o confronto com mortes que motivou os protestos
Kelvin dos Santos, de 16 anos, e Wender da Costa, de 20, morreram após abordagem policial no sábado (15). Protestos duraram três dias, com avenidas bloqueadas, pessoas presas e ônibus incendiado.
Londrina tem onda de protestos após confronto
Com a morte de Kelvin dos Santos, de 16 anos, e Wender da Costa, de 20, Londrina registrou uma onda de manifestações violentas até a noite de segunda-feira (17). Os dois eram moradores da cidade do norte do Paraná e morreram após uma abordagem policial no sábado (15).
Durante os protestos, avenidas foram bloqueadas com objetos incendiados, ônibus foram apedrejados e queimados e o transporte público ficou suspenso por aproximadamente oito horas.
Segundo a Polícia Militar (PM-PR), três pessoas foram presas e um motociclista ficou ferido. O Corpo de Bombeiros informou que recebeu chamados de 17 incêndios em regiões diferentes.
Na terça-feira (18), o secretário de Segurança Pública do Estado, Coronel Hudson Teixeira, viajou a Londrina e liderou operações para, de acordo com ele, “restabelecer a ordem” na cidade, que não registrou mais manifestações violentas até o fim da manhã desta quarta-feira (19).
Faixas usadas pelos manifestantes em Londrina. — Foto: Rogério Pinheiro/RPC
A Polícia Militar (PM-PR) informou que um inquérito policial foi aberto para apurar o que aconteceu na abordagem que terminou com as mortes de Kelvin e Wender. Segundo o secretário, o procedimento foi instaurado pela Regional de Maringá, com o intuito de evitar parcialidade.
O caso também está sendo acompanhado pelo Ministério Público do Paraná (MP-PR) e Corregedoria-Geral da PM.
Confira o que se sabe sobre a abordagem:
1. Quem eram os jovens?
2. Onde a abordagem policial aconteceu?
3. O que a PM disse sobre a abordagem?
4. O que dizem as famílias dos jovens?
5. O que falta esclarecer?
QUEM ERAM OS JOVENS?
Kelvin dos Santos, 16 anos, estudante do Ensino Médio
Wender da Costa, 20 anos
Os dois se conheciam porque trabalhavam juntos em um lava-rápido e em uma barbearia, que foi aberta há duas semanas pelo Wender.
Câmera de segurança da distribuidora filmou os dois jovens comprando bebidas. — Foto: Reprodução/RPC
ONDE A ABORDAGEM ACONTECEU?
Segundo o relatório da PM, a abordagem aconteceu por volta das 22h30 de sábado, na Rua Belmiro de Oliveira, perto da BR-369.
O local fica perto do Jardim Nossa Senhora da Paz – popularmente chamado de Bratac – bairro em que Kelvin morava.
O QUE A PM DISSE SOBRE A ABORDAGEM?
“Durante patrulhamento equipe Choque visualizou um veículo com as mesmas características do envolvido em furtos a residência. Na tentativa de abordagem houve reação por parte dos suspeitos, o que culminou em confronto armado. Sendo de pronto acionado socorro médico”, é o que consta no boletim divulgado pela PM.
Em entrevista à RPC, o capitão da PM, Emerson Castro, relatou que o carro em que Kelvin e Wender estavam bateu contra outro veículo.
“Segundo os policiais militares, quando direcionaram a viatura e passaram ao lado desse carro, eles viram que os ocupantes estavam empunhando armas de fogo”, disse.
As mães, Vanessa e Sirlene, deram entrevistas questionando a versão apresentada pela PM. Elas afirmam que os filhos não tinham envolvimento com crimes e que houve excesso por parte dos policiais.
“Me filho foi morto com dez tiros. Eu fui no IML [Instituto Médico Legal] e meu filho estava com dez tiros no corpo, só na região torácica”, disse Vanessa da Costa, mãe de Wender.
O QUE FALTA ESCLARECER?
É necessário aguardar o inquérito policial apurar a conduta dos policiais militares durante a abordagem.
Não há informações sobre a procedência das armas apreendidas e se foram adquiridas pelos jovens.
Em entrevista à RPC, Claudio Esteves, procurador da Justiça, informou que o MP-PR está coletando evidências e espera receber mais informações para avaliar a situação. Ele não descarta a possibilidade do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime (Gaeco) realizar uma investigação direta.
O coronel Hudson Teixeira, secretário de Segurança Pública do Estado, disse que está apurando se Kelvin e Wender possuem histórico criminal. Também afirmou, em entrevista à RPC, que “um deles conta com algumas passagens”, sem dizer quem ou por qual crime.