Maria Bethânia renova a sonoridade ao entrar no mar bravio das paixões que agitam o show dos 60 anos de carreira
Situado entre os gases urbanos e os ares rurais do Brasil caboclo, o espetáculo revela boa música inédita de Rita Lee com Roberto de Carvalho e samba empolgante de Xande de Pilares e Paulo César Feital.
Maria Bethânia arrepia o público na estreia do show ‘60 anos de carreira’ na casa Vivo Rio (RJ) na noite de ontem, 6 de setembro — Foto: Ricardo Nunes / Divulgação Vivo Rio
Maria Bethânia arrepia o público na estreia do show ‘60 anos de carreira’ na casa Vivo Rio (RJ) na noite de ontem, 6 de setembro — Foto: Ricardo Nunes / Divulgação Vivo Rio
♫ OPINIÃO SOBRE SHOW
Título: 60 anos de carreira
Artista: Maria Bethânia
Data e local: 6 de setembro na casa Vivo Rio (Rio de Janeiro, RJ)
Cotação: ★ ★ ★ ★ ★
♬ “Sete mil vezes e, em cada uma, outra vez querer / Sete mil outras em progressão infinita / Quando uma hora é grande e bonita assim / Quer se multiplicar / Quer habitar todos os cantos do ser”, avisou Maria Bethânia na abertura do show 60 anos de carreira ao dar voz aos versos de Sete mil vezes, música do mano Caetano Veloso que a cantora lançou no álbum Alteza (1981), há 44 anos, e desde então nunca mais gravou ou incluiu em shows.
Aos 79 anos, com a voz grave e quente tinindo na estreia nacional da turnê na noite de ontem, 6 de setembro, na casa Vivo Rio (RJ), Maria Bethânia mostrou que segue em progressão infinita neste show que, embora esteja alicerçado nos cânones teatrais dos espetáculos em que a intérprete mixa música e textos poéticos, também avança na sonoridade enquanto dá conta de resumir seis décadas de palco e disco sem didatismos e trivialidades, mas com emblemas justificáveis como Rosa dos ventos (Chico Buarque, 1970), música-título do show de 1971 que consagrou a receita teatral experimentada pela artista desde 1967.
Calcada na pulsação dos sopros e dos metais, a direção musical de Pedro Guedes – também responsável pelos arranjos em função dividida com os músicos Jorge Helder (baixo e bandolim) Thiago Gomes (teclados e guitarra) – renovou a sonoridade dos shows da artista, ecoando a estética orquestrada por Lucas Nunes no espetáculo anterior Caetano & Bethânia (2024 / 2025), com o qual Bethânia percorreu arenas e estádios do Brasil ao lado de Caetano Veloso.
Responsável por abrir o show com citação vocal de Iansã (Caetano Veloso e Gilberto Gil, 1972), antes da entrada de Bethânia em cena, o fantástico trio de vocalistas – Fael Magalhães, Janeh Magalhães e Jenni Rocha – também marcou forte presença, soando como outra herança da turnê com Caetano.
Maria Bethânia assina sozinha a direção e o roteiro do show ‘60 anos de carreira’, cuja turnê chega a São Paulo em outubro — Foto: Rodrigo Goffredo
Maria Bethânia assina sozinha a direção e o roteiro do show ‘60 anos de carreira’, cuja turnê chega a São Paulo em outubro — Foto: Rodrigo Goffredo
O som da banda resultou vibrante como o canto da artista, valorizando números como o rock Podres poderes (Caetano Veloso, 1984) com acento black. Os metais de Marcelo Martins (sax tenor) e Jessé Sadoc (trompete e flugelhorn) sopraram o bafejo quente do soul em números como Encouraçado (Sueli Costa e Tite de Lemos, 1972) e Demoníaca (Sueli Costa e Vitor Martins, 1974), músicas que, entremeadas com o canto de Resposta (Maysa, 1956), reverberaram A cena muda (1974), um dos shows mais marcantes da trajetória de Bethânia nos palcos.