O acusado de ter ordenado a morte do jornalista Valério Luiz, o ex-vice-presidente do Atlético, Maurício Sampaio, não quer ser julgado em Goiânia. O filho do cronista esportivo e advogado do caso, Valério Luiz Filho, informou que a defesa do réu entrou com um pedido de desaforamento para que o processo seja transferido para uma comarca do interior goiano. Além disso, ele entrou com um pedido de habeas corpus preventivo para não ser preso.
De acordo com o advogado, Sampaio teme perder a liberdade após o julgamento que começa nesta segunda-feira, 07, em Goiânia. A estratégia do desaforamento é entendida por Filho como uma forma de se valer das “vulnerabilidades” jurídicas, consideradas maiores se houver a alteração de local onde a sentença pode ser aplicada.
“Considero impossível que esses esperneios sejam acolhidos, mas, com essa gente, todo cuidado é pouco. A chance de ser tirado de Goiânia é zero. A chance de condenação é alta. Minha expectativa é de que o julgamento ocorra” , diz.
Valério Filho afirma que, apesar dos pedidos de Maurício, o júri está mantido e deve durar três dias. As solicitações podem chegar a ser apreciadas até depois da sentença e, se isso ocorrer e houver deferimento, o julgamento teria de ser anulado. Na avaliação dele, não há chances de isso ocorrer porque não há mais possibilidade de manobras jurídicas.
“Eles entraram com o HC [habeas corpus] preventivo para que, mesmo condenado, ele possa responder em liberdade. Se abandonarem o plenário de novo, a defensoria pública estará lá para assumir. Se tiver algum problema com jurado, o que acho improvável, desta vez o Tribunal de Justiça colocou reforço de oficial de justiça e policial”, acredita.
Contestação
Na tarde deste domingo, 06, o ex-cartorário negou ter pedido a mudança de local do julgamento. A solicitação teria ocorrido sem autorização, embora tenha havido uma petição protocolada no dia anterior pelo advogado Luiz Carlos Silva Neto que já não está mais defendendo Maurício, de acordo com a qual equipe de defesa feita por Ricardo Naves. A justificativa seria que o juiz do caso, Lourival Machado, foi “tendencioso para culminar na condenação do réu”.
Acusados
Ao todo, o processo tem cinco reús: Maurício Sampaio, acusado de ter encomendado a morte de Valério Luiz, Urbano Carvalho, que trabalhava para Maurício e é julgado por contratar o policial que teria executado Valério, Djalma Gomes, PM que, segundo a acusação, trabalhava como segurança de Maurício e recebia favores por isso.
Além deles respondem também o açougueiro Marcus Vinícius Pereira Xavier, que teria colaborado com o planejamento do crime e Ademar Figueiredo, PM acusado de fazer os disparos que mataram o jornalista. Marcos Vinícius será ouvido pela internet, após solicitação da defesa, porque está em Portugal.
Adiamentos
A sessão já foi adiada quatro vezes, sendo a última em junho, quando um integrante do Conselho de Sentença abandonou hotel sem autorização e ferido o princípio da incomunicabilidade do júri popular.
Em maio deste ano, os advogados de defesa dos réus deixaram o plenário. Em 2019, o julgamento foi adiado sob alegação de falta de estrutura para um caso que exigiria grande acomodação. Segundo o advogado de acusação e filho da vítima, Valério Luiz Filho, um dos auditórios do TJ-GO chegou a ser reformado na época, o que levou alguns meses.
O juiz Lourival Machado, da 4ª Vara de Crimes Danosos Contra à Vida, marcou uma nova data, que também foi adiada devido à pandemia. No dia 14 de março, o julgamento foi remarcado pela terceira vez porque o advogado de Sampaio abandonou o caso.
Relembre o caso Valério Luiz
O jornalista Valério Luiz foi morto a tiros, aos 49 anos, no dia 12 de julho de 2012, quando saía da Rádio Bandeirantes 820 AM, onde trabalhava, no Setor Serrinha. Segundo o inquérito policial, foram encontrados elementos suficientes para colocar os suspeitos de matar o jornalista na posição de indiciados.
Na mesma linha, o Ministério Público entrou com denúncia, em fevereiro de 2013, iniciando a ação penal. A partir daí, houve audiências, testemunhas foram ouvidas, réus interrogados e advogados das duas partes reuniram provas. Em agosto de 2014, a Justiça decidiu que os acusados deveriam ir à júri popular, decisão confirmada, posteriormente, pelo Supremo Tribunal Federal (STF).