A medida que permite a reprovação em até metade das matérias na rede estadual do Rio de Janeiro está causando polêmica entre especialistas em educação e estudantes. Segundo a secretária de educação, Roberta Barreto, a iniciativa tem como objetivo erradicar a evasão escolar, que atinge cerca de 10% dos alunos, sendo mais frequente na primeira série do ensino médio. A partir deste ano, os 515 mil estudantes matriculados na rede estadual poderão avançar para a série seguinte mesmo se forem reprovados em até seis disciplinas, desde que cumpram um regime de recuperação especial paralela, a ser definida pelas escolas. Essa decisão faz parte da Política Extraordinária Excepcional de Progressão Parcial, criada por decreto do governador Cláudio Castro e regulamentada por resolução da secretária Barreto.
Roberta Barreto argumenta que a progressão parcial está sendo adotada em quase todos os estados brasileiros, com exceção de Sergipe e Espírito Santo, e que o Rio de Janeiro ainda enfrenta altos índices de evasão no ensino médio. Claudia Costin, presidente do Instituto Equidade.Info e ex-diretora global de Educação do Banco Mundial, destaca a importância de evitar a reprovação para inibir a evasão, mas ressalta que a forma como a medida é implantada precisa ser cuidadosa e estruturada. Ela aponta que o sistema de dependência no Rio de Janeiro, com até seis disciplinas permitidas, deixa a critério de cada escola definir como será feita a recuperação, o que pode gerar incertezas e impactar a qualidade do ensino.
Por outro lado, Helenita Beserra, coordenadora-geral do Sindicato dos Profissionais de Educação do estado, acredita que a medida faz parte de uma política para aumentar a nota do Rio no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). No entanto, ela critica a nova gratificação para professores que conseguirem altas taxas de aprovação, alegando que essas ações visam maquiar o Ideb em vez de promover o aprendizado dos alunos. Waldeck Carneiro, professor da UFF e coordenador-geral do Fórum Estadual de Educação, ressalta a importância de garantir o direito ao conhecimento dos estudantes, questionando a falta de diálogo e discussão prévia sobre a medida.
Rodrigo Travitzki, professor da Unicamp, considera a decisão do estado como uma tentativa desesperada de melhorar os índices educacionais, sem abordar questões estruturais que impactam a evasão escolar. Andrea Ramal, educadora, destaca os riscos de aprovar alunos com lacunas de aprendizado, o que pode gerar uma sobrecarga futura e impactar negativamente no ensino superior. Por outro lado, alguns estudantes veem a medida como uma oportunidade de reduzir a evasão e dar uma segunda chance para aqueles que não obtiveram sucesso em todas as disciplinas.
Em resumo, a decisão de permitir a reprovação em até metade das matérias na rede estadual do Rio de Janeiro está gerando debates acalorados entre especialistas, professores e alunos. Enquanto alguns defendem a iniciativa como uma forma de combater a evasão escolar e garantir a progressão dos estudantes, outros questionam a qualidade do ensino, os impactos futuros para os alunos reprovados e a necessidade de medidas mais estruturais para melhorar a educação no estado. A discussão sobre a progressão parcial continuará sendo pauta para reflexão e aprimoramento do sistema educacional.




