Brincadeiras em aplicativos de celular, aparentemente “inocentes” entre os jovens, podem representar um fator de risco para doenças mentais graves como a depressão, levando a atitudes drásticas como o suicídio. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, o suicídio é a segunda maior causa de mortes entre jovens de 15 a 35 anos. Cerca de 800 mil pessoas morrem em decorrência do suicídio por ano no mundo. No Brasil, 8º país com mais taxas de suicídio, são 11 mil mortes por ano.
Segundo pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), publicado na semana passada pela Revista Brasileira de Psiquiatria, a taxa de suicídio entre adolescentes que vivem nas grandes cidades brasileiras aumentou 24% entre 2006 e 2015 e a maioria dos casos foram resultados de doenças como a depressão e a ansiedade. Segundo o psiquiatra Hewdy Lobo, especialista em doenças psiquiátricas com atuação em Goiânia e São Paulo, o aumento do suicídio na infância tem a ver principalmente com questões psicossociais como a violência, pobreza, desemprego, isolamento social, falta de esperança e o agravamento dos transtornos mentais.
“O Brasil é um país com muita violência contra o jovem, tanto física, psicológica, sexual, como de negligência, o que é um dos principais fatores de risco ao trauma e consequentemente ao suicídio. Somado a isso, na nossa era da internet tudo foi intensificado. O bullying tomou outra dimensão com a violência online. Por exemplo, um meme ridicularizando um jovem pode circular entre todos os alunos de uma escola em minutos e destruir a autoestima do indivíduo”, explica.
Para o médico, na internet, os adolescentes que vivem em sofrimento e em isolamento encontram grupos de iguais e o suicídio pode ser uma das pautas de suas conversas, podendo ser inclusive incentivado. “Não é incomum descobrir que o jovem que suicidou buscou formas de suicídio rápidas e indolores na internet. O monitoramento dos pais sobre os conteúdos acessados pelos jovens na internet é fundamental”, alerta.
Sinais
Muitos sinais de um jovem com pensamentos de suicídio podem ser confundidos com a crise normal da adolescência. Por isso é importante estar atento e manter um diálogo aberto para poder diferenciar qual é a situação. Alguns dos principais sinais são: perda de interesse em atividades que gostava; isolamento social, tanto de amigos como na família; diminuição do autocuidado; atividades de risco desnecessário; múltiplas queixas físicas, como dores de estômago, de cabeça ou mesmo forte cansaço; uso de drogas; depressão e relatos de sentimentos de querer morrer.
“Nesses casos é importante que o adulto leve a sério o pedido de socorro. Deve perguntar claramente se está pensando em se matar e ter um diálogo sem julgamentos e críticas. Deve acolher, retirar formas de que cometa o suicídio [por exemplo, medicamentos e armas] e levar para uma avaliação com profissional da saúde mental”, orienta.
Para evitar o agravamento de doenças psiquiátricas, segundo Hewdy Lobo, os adultos devem manter uma comunicação aberta com os jovens para que os pedidos de ajuda cheguem. “Quem está em sofrimento muitas vezes tem medo, não quer ser um ‘fardo’ e acha que será incompreendido. Quando um caso de violência simbólica, como ocorre na internet, é identificado, é necessário intervir para a imediata interrupção da exposição do jovem à situação. Em casos de transtornos mentais, é fundamental o início de um tratamento multidisciplinar com psiquiatra e psicólogo”, diz.
Alessandra Curado