Mercado calcula perda de R$ 20 bi com pacote fiscal; Ministério estima R$ 2 bi

Mercado estima que pacote fiscal perdeu entre R$ 8 bi e R$ 20 bi

Enquanto Ministério da Fazenda estima perda de R$ 2 bi com mudanças feitas pelo
Congresso, economistas e analistas veem perda maior

Cálculos do Ministério da Fazenda indicam que as mudanças feitas pelo Congresso Nacional no pacote de corte de gastos reduziram em R$ 2 bilhões a economia com as medidas ante a projeção sobre o texto inicial que o governo federal apresentou.

A economia somada nos anos 2025 e 2026 com as medidas foi estimada, inicialmente, em R$ 71,9 bilhões, mas, com as modificações dos parlamentares, o valor foi atualizado para R$ 69,8 bilhões.

Pelas contas, porém, de economistas e analistas, as perdas com as alterações promovidas no texto podem ser bem maiores do que R$ 2 bilhões, devendo ficar entre R$ 8 bilhões e R$ 20 bilhões. A avaliação do impacto fiscal do pacote, inclusive, levou o dólar a fechar essa segunda-feira (23/12) a R$ 6,18, o segundo maior valor nominal (sem o reajuste pela inflação) da história.

Nas contas da XP Investimentos, a economia com o pacote que saiu do Congresso no próximo biênio caiu de R$ 52 bilhões para R$ 44 bilhões — quase R$ 26 bilhões a menos do que a projeção oficial do governo. A XP entendeu que Congresso promoveu “uma pequena desidratação” do pacote.

“Vemos que o provável ganho fiscal é insuficiente para garantir o atingimento das metas de resultado primário e, principalmente, a manutenção do limite de despesas do arcabouço fiscal nos próximos anos”, informou a instituição em relatório.

A Tendências Consultoria, que projetava R$ 52,6 bilhões em dois anos, estimou agora que as mudanças contrataram perda entre R$ 10 bilhões e R$ 20 bilhões.

A Warren Investimentos prevê economia de R$ 19,2 bilhões e R$ 26,2 bilhões, respectivamente, em 2025 e 2026, o que totaliza R$ 45,4 bilhões em dois anos. Apesar disso, a casa ressaltou que não é possível garantir o cumprimento das metas fiscais dos próximos anos.

“Consideramos que as medidas, apesar de importantes, não garantem o cumprimento das metas fiscais de 2025 e 2026. Ademais, não foram apresentadas como parte de um programa de ajuste mais amplo, capaz de levar ao superávit primário requerido para baixar os juros e estabilizar a dívida pública”, destacou a Warren, em nota.

PRESSÃO VAI SEGUIR

Como o impacto fiscal foi reduzido, as cobranças por revisão de despesas devem prosseguir nos últimos dois anos de mandato do presidente Lula (PT). O mercado estima que, se não forem apresentadas novas medidas, haverá impactos sobre os juros, o câmbio e as expectativas de inflação.

Em resposta a isso, a equipe econômica tem sinalizado que poderá apresentar outras ações de restrição de despesas nos próximos meses. Na sexta-feira passada, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, defendeu que a revisão de gastos teria de ser algo “permanente”, colocada em prática sempre que for identificada alguma despesa saindo do previsto.

“Tem de ser rotina. Isso não deveria ser algo extraordinário ou surpreendente”, pontuou o ministro.

Haddad ainda salientou que foi enviado em 2024 aquilo estava maduro dentro do governo, ou seja, que contava com o apoio do presidente da República e aval dos ministros das áreas que sofreram cortes.

EM QUÊ FOI A REDUÇÃO

Foram aprovadas uma proposta de emenda à Constituição (PEC), que muda critérios do Fundo nacional da educação básica (Fundeb), do abono salarial, além de limitar os salários no serviço público; um projeto de lei (PL), que altera a regra de correção do salário mínimo, o Benefício de Prestação Continuada (BPC) e o programa Bolsa Família, entre outros; e um projeto de lei complementar (PLP), que introduz novos gatilhos no arcabouço fiscal em caso de déficit ou de redução das despesas discricionárias.

O projeto que muda as regras da aposentadoria dos militares, para determinar a idade mínima de 55 anos para o afastamento, e delimita a concessão de pensões, ficou para o ano que vem.

Dentre as medidas de enxugamento do pacote de gastos está a retirada da mudança na forma de correção do Fundo Constitucional do Distrito Federal (FCDF). Com isto, serão R$ 800 milhões a menos na economia do governo federal decorrentes desta alteração.

Também enfrentaram resistência no Parlamento as restrições aos “super-salários” no serviço público, que incomodou integrantes do Poder Judiciário. Houve lobby na Casa para que as sanções não fossem implementadas de imediato, mas apenas em 2025 e através de um outro projeto ainda a ser aprovado.

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Diretor do DNOCS autoriza licitação investigada pela PF: detalhes da polêmica gerida por Fernando Marcondes Leão.

Nomeado por Bolsonaro e mantido por Lula liberou licitação alvo da PF

Decisão de atual diretor do DNOCS foi após parecer jurídico contrário ao prosseguimento de licitação investigada na operação Overclean

O atual diretor do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), Fernando Marcondes Leão, autorizou a continuação de uma licitação alvo da Polícia Federal na operação Overclean mesmo após parecer contrário da Advocacia-Geral da União (AGU).

Leão foi nomeado em 2020 no governo de DE, foi exonerado, em janeiro de 2023, pela gestão DE, mas retornou ao cargo após pressão do Centrão.

A licitação de 2021 mantida por ele, mesmo com parecer contrário da Procuradoria Federal Especializada, órgão da AGU no DNOCS, resultou em três contratos com a Allpha Pavimentações, uma das empresas investigadas na Overclean sob suspeita de desvios e pagamento de propina a agentes públicos.

Os contratos firmados após decisão de Fernando Leão renderam R$ 40,7 milhões a Allpha e tinham como objeto serviços de engenharia e pavimentação asfáltica em municípios da Bahia.

Quem iniciou o processo de licitação pelo DNOCS foi Lucas Lobão, em 7 de junho de 2021.

O ex-coordenador do órgão público é um dos investigados na Overclean e apontado como integrante do grupo criminoso liderado pelos irmãos Fabio e Alex Parente e pelo empresário José Marcos de Moura, conhecido como Rei do Lixo.

Após iniciar o departamento indicar a necessidade de contratação, a Procuradoria-Geral Federal, órgão da AGU junto ao DNOCS, deu um parecer contra a continuidade da licitação.

A Procuradoria disse que justificativa da “necessidade da contratação lançada no processo” deveria ser aperfeiçoada “sendo certo que a Administração deverá juntar manifestação técnica que esclareça a metodologia utilizada para estimativa dos quantitativos a serem licitados, com a respectiva memória de cálculo e documentos”.

Segundo a AGU, as informações juntadas no processo eram “pouco detalhadas e genéricas”.

A Procuradoria também pediu que o setor técnico do DNOCS reavaliasse “a caracterização do objeto” do certame.

Para o órgão da AGU, o objeto da licitação não poderia ser “serviço comum de engenharia” e o formato não deveria ser por Serviço de Registro de Preço.

“Em face do exposto, manifesta-se esta Procuradoria, ressalvado o juízo de mérito da Administração e os aspectos técnicos, econômicos e financeiros, que escapam à análise jurídica deste órgão de consultoria, no sentido de que há óbices legais ao prosseguimento regular do feito, que podem restar superados caso sejam cumpridas todas as recomendações deste opinativo”, sugeriu.

No dia 14 de outubro, em documento assinado por Jerônimo Canário Filho, o DNOCS na Bahia rebateu os pontos elencados pela AGU e defendeu a continuidade da licitação.

Entre os pontos, Jerônimo Filho defendeu a contratação por meio do Sistema de Registro de Preços porque o DNOCS, naquele momento, recebia “um crescente volume de recursos e indicações para execução de pavimentação, principalmente advindos de diferentes emendas parlamentares, tendo a necessidade de contratações frequentes e periódicas”.

Dias depois, em 20 de outubro, Jerônimo Filho pede que Fernando Leão conceda competência ao então coordenador em exercício do DNOCS na Bahia, Raimundo Goethe Peixoto Júnior, para autorizar a continuidade do procedimento uma vez que o valor extrapolava o permitido para a coordenadoria.

Em 27 de outubro, a direção-geral do DNOCS se reuniu e deliberou sobre o pedido. Mesmo com a posição contrária da AGU, a diretoria colegiada do DNOCS, liderada por Fernando Leão, aprovou o pedido e delegou poderes à coordenação estadual continuar com a licitação.

Dois dias depois, em 29 de outubro, Fernando Leão informa Raimundo Goethe por meio de ofício sobre a posição da diretoria do Dnocs.

Em 4 de outubro, Raimundo Goethe recebe oficialmente o comunicado na filial do DNOCS na Bahia e dá prosseguimento à licitação. Em dezembro, o pregão foi realizado e a Allpha ganhou três lotes ao oferecer o menor preço.

Após o início do contrato, uma auditoria da Controladoria-Geral da União constatou vários problemas na execução do contrato. Segundo a CGU, o prejuízo direto ao erário é de cerca de R$ 8 milhões apenas nesses contratos da Allpha Pavimentações.

Com base nas apurações da CGU, a PF avançou na investigação e deflagrou a operação Overclean, em 10 de dezembro de 2024.

Fernando Leão foi procurado por email e via assessoria de imprensa do DNOCS, mas não respondeu aos questionamentos enviados.

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