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Mercado de Trabalho: Produtores apostam na internet para carreiras independentes

Última atualização 22/09/2021 | 12:44

A produção de conteúdo digital no Brasil tem alcançado uma curva de crescimento exponencial que leva cada vez mais criadores independentes e espectadores de mídias pela internet. Ainda que o investimento em lives e podcasts, por exemplo, não seja algo novo, o hábito faz parte da rotina de brasileiros com mais frequência com o passar dos tempos.

Segundo um estudo realizado pela Globo, em parceria com o Ibope, 57% dos brasileiros passaram a ouvir podcasts durante a pandemia de Covid-19. De um total de quase 100 milhões de brasileiros, cerca de 28 milhões já apostam na mídia como parte de seu dia-a-dia. Apesar disso, a maior parte do público ainda é formada de homens de classe média (51%), com idade entre 25 e 34 anos (28%).

Da mesma maneira, o número de espectadores da Twitch – plataforma especializada em transmissões ao vivo – somou 6,3 bilhões de horas no primeiro trimestre de 2021, um crescimento de 106% em comparação com o mesmo período em 2020.

Naturalmente, o crescimento do mercado também vê despontar produtores no cenário goiano, onde criadores independentes passaram a investir em produtos nessas mídias para conseguir chegar a novos públicos e dar voz a seus projetos e diálogos com a comunidade.

 

Tirando papel

A jornalista Lara Leão, 30 anos, por exemplo, criou o podcast Sobre Todos os Casos durante a pandemia, como forma de colocar em prática um projeto que já existia num formato mais íntimo e pessoal. No programa, Lara conta histórias que conhece em sua vida ou recebe de ouvintes do programa:

“Eu já tinha ideia de alguns casos que queria contar, de pessoas próximas, de maneira anônima, mas eu tinha o roteiro de três programas. Eu não precisei me preocupar. Foram chegando muitos relatos, foi muito orgânica essa resposta e eu fico muito feliz por isso”.

Lara acredita que a pandemia influenciou bastante o desejo de dar início a produção do projeto, e estar no meio do caos deu uma certa coragem para produzir algo e colocar no mundo. Além disso, ela recebeu muitas mensagens de pessoas que agradeceram a companhia do programa, para poder passar pelo cenário triste de isolamento e pandemia. A principal forma de contato com os ouvintes ocorre nas redes sociais do programa, pelo Twitter @stocpodcast e Instagram, @sobretodososcasos.

O processo, porém, precisou que ela deixasse de lado alguns dos hábitos profissionais anteriores. Por ser ser jornalista, precisou abrir mão de uma costumeira imparcialidade, para se envolver mais com os casos contados no programa.

“eu estou lidando com a história de vida de alguém, se essa pessoa quis compartilhar com o Sobre Todos os Casos, eu preciso ter muito carinho e respeito, e muito cuidado com a forma como eu vou contar e comentar aquilo. E eu nem consigo escolher um favorito, todos são muito importantes para mim, têm histórias incríveis ali, falo isso de coração, por mais clichê que possa parecer”, conta.

Reinvenção

O podcast Supercuts, focado em discutir as produções e o ambiente do cinema, surgiu antes do período de isolamento pela pandemia, mas precisou passar por transformações no projeto por conta da mudança de cenário.

Formado pelo engenheiro Tiago Maia, 27 anos, e arquiteta Larissa Paiva, 26 anos, o programa discutia principalmente os filmes em alta e, principalmente, em estreia durante a semana de publicação. No entanto, o fechamento das salas de cinema e a troca da gravação em estúdios pela gravação à distância forçou a dupla rever a proposta do programa.

“A gente precisou se reinventar e decidiu ir para uma abordagem dos clássicos. O bônus dessa mudança foi que permitiu a gente a inserir convidados de fora de Goiânia e deixar de ser um projeto mais regional”, explica Tiago.

Além disso, o Supercuts também usou o período para realizar uma parceria fundamental para a transformação e para o crescimento do programa. Atualmente, além do programa semanal publicado nas plataformas de streaming de áudio, o projeto realiza um bloco semanal em parceria com a rádio Jovem Pan.

“A Jovem Pan foi um divisor de águas, porque mudou o nosso foco semanal. Mas isso também aumentou a nossa produção, porque agora dobrou a carga de produção e afetou o nosso ritmo de trabalho”, comenta Larissa.

A parceria surgiu após o convite da equipe para uma participação num programa da rádio , mas acabou gerando o bloco fixo, com transmissão ao vivo no YouTube. Agora, Larissa e Tiago usam o programa da rádio para tratar de assuntos mais atuais e dicas de lançamentos em cinema ou streaming, enquanto transformaram o podcast num espaço para discussões mais livres e mais longas, com convidados de todo o Brasil.

Atualmente, o crescimento do projeto levou a dupla a organizar novos rumos para o Supercuts. Além dos produtos em áudio, eles pretendem lançar um site para inserir conteúdos em texto e ainda querem organizar eventos presenciais para ter mais contato com o público, assim que a situação de pandemia der uma trégua.

 

Criação e produção

Goiânia também é a casa da produtora de podcasts Reverbera, que tem a proposta de fazer e a ensinar a fazer programas para quem tem interesse. A maioria dos projetos é encabeçada pela jornalista Bárbara Falcão, 27 anos, mestre em comunicação na Universidade Federal de Goiás.

A princípio, a jornalista começou o trabalho com foco em reportagens especiais para rádio, mas acabou migrando para o podcast. Com a experiência, então, criou a produtora que atua em duas frentes principais.

Na parte de ensino, Bárbara investe em palestras, cursos e consultorias para pessoas, grupos e empresas interessadas no processo de produção. Ao mesmo tempo, também atua para conceber projetos desde o início até a publicação, passando por etapas práticas de produção, roteiro, gravação e edição.

Hoje, o foco da Reverbera é atuar com empresas interessadas na produção de podcasts, especialmente para chegar em áreas em que a mídia ainda não chegou, conversando com públicos cada vez mais diversos.

Bárbara acredita que o potencial é enorme, tanto pela facilidade de consumo sob demanda e pela possibilidade de se consumir o conteúdo enquanto faz outras tarefas, como pelo poder de informação, educação, análise e informação que os produtos tem.

“Eu trago como exemplo os podcasts que eu estudei no mestrado, que são podcasts jornalísticos de notícias diárias, como o Café da Manhã e O Assunto. Eles conectam porque humanizam o jornalista, já que a análise e interpretação dos fatos feitas nesses programas não podem ser feitas por inteligência artificial”, destaca.

 

Produção em vídeo

Pelo lado das transmissões em vídeo, Lucas Borges, mais conhecido como Tiu Sam, comecei a produção em 2015 já com a intenção de fazer uma renda extra. Hoje em dia, porém, a produção virou seu principal trabalho.

Tiu Sam escolheu focar num nicho específico para potencializar sua relação com o público. Falando do jogo de cartas de Pokémon, ele já publicou mais de 2.300 vídeos em seu canal e tem mais de 102 mil inscritos. Além disso, possui um canal secundário para postar somente gameplays – vídeos com partidas completas – com quase 9 mil inscritos e quase 100 vídeos, 900 inscritos no canal da Twitch e outros 150 apoiadores no serviço Padrim (os dois últimos são apoios financeiros recorrentes mensais).

 

Tiu Sam – Foto acervo pessoal

Seu principal foco de produção atual, no entanto, está na Twitch. Isso porque ele assume não ter muita habilidade com as minúcias do primeiro site, o que dificulta o seu crescimento orgânico na plataforma.

“A Twitch foi uma mudança de uma vida boa para uma extremamente confortável, porque os ganhos subiram muito com a plataforma”, explica. Ele ainda acrescenta que utilizar a plataforma de streaming favorece suas vendas e seu engajamento, mas atualmente encontrou um obstáculo em adaptações de regra do próprio site. Recentemente a plataforma, que antes pagava seus parceiros em dólar, reviu os valores para produtores nacionais, o que reduziu significativamente o ganho.

Tiu Sam também destaca as mudanças que precisou fazer por conta da pandemia, já que começou com perdas de patrocinadores. O cenário, porém, forçou a produção de um conteúdo de qualidade ainda maior, para atrair mais público e novos parceiros. “Talvez por causa do tédio, esse público comprou muito mais do que o esperado. Meu emocional ficou bastante afetado, mas fidelizar o público em lives e conversar diariamente com um público que só foi aumentando ajudou muito”, explica.

“Muita gente agradece falando que as lives salvam o dia delas, mas elas também salvam o meu dia”. No entanto, ele lembra que ainda existe muito desafio por conta de liberdade. Não ter um horário fixo e ter muita flexibilidade acrescenta em qualidade de vida, mas pode ser o vilão, caso você não consiga administrar bem a produção. “A qualidade e quantidade de conteúdo que faço hoje, não me permite descansar nenhum dia, mesmo terceirizando uma parte do serviço”, explica.

 

Expandindo opções

Numa produção diferente das anteriores, a modelo Laira Maia, 25 anos, decidiu monetizar seus ensaios fotográficos na internet para alcançar independência financeira. Ela, que declara sempre ter sonhado em ser modelo, decidiu investir no que era um hobby de Instagram como um trabalho.

Atualmente, ela oferece fotos e vídeos para assinantes de seus conteúdos em sites como Only Fans (https://onlyfans.com/succubus.ruby), Privacy (https://privacy.com.br/Profile/Rubyhell) e Hot Models (https://hotmodelsbrazil.com/succubusruby/).

“É um conteúdo exótico com nudez, vou até onde me sinto confortável”, conta. “Eu sempre tenho uma inspiração específica para cada ensaio, mas meio estilo principal é o gótico com uma pitada de terror e ‘creepy cute’”, conta. O termo em inglês é utilizado para falar sobre coisas que não exatamente atraentes dentro de certos padrões estéticos, mas ainda são adoráveis de alguma forma.

Por trabalhar com conteúdo erótico, Laira – que atende pelo nome artístico de Ruby – diz que já recebeu alguns olhares estranhos, mas não tem medo ou vergonha do que vão pensar. “Não escondo de ninguém. Minha família sabe e me apoia e isso, pra mim, é o que importa”.

Segundo sua experiência profissional, ela explica que as plataformas dão bom suporte para todos criadores de conteúdo, especialmente no quesito de segurança. Geralmente, a cobrança vem do público ou dela mesma, para poder se reinventar no conteúdo oferecido. “Como meu conteúdo é softporn, não tive que me limitar até hoje”, esclarece.

Atualmente, sua principal parceria é com o site Hot Models, com quem tem uma relação mais próxima. Foi com eles que ela fez seu primeiro trabalho de nu artístico, o que resultou no convite para criar um perfil no site. A proposta, no entanto, é diferente da criada no Onlyfans, já que aqui os pacotes de fotos são vendidos separadamente, enquanto no outro a assinatura é por planos mensais.