A nova temporada da Fórmula 1 vai começar neste domingo (20), às 12h, com o GP do Bahrein, com três equipes brigando pela hegemonia no campeonato. Ferrari, Red Bull e Mercedes tentam impor o domínio na chamada era dos novos carros, que se inicia neste ano. Quase uma regra na história da F-1, grandes mudanças nos regulamentos costumam dar chance para o surgimento de novos períodos de dominância entre os times. E este trio não quer deixar a oportunidade escapar.
Até o ano passado, era a Mercedes que dava as cartas na competição. O time alemão dominou a era dos motores híbridos, que começou em 2014. Foram oito títulos seguidos do Mundial de Construtores e mais sete entre os pilotos – Lewis Hamilton levantou seis deles. Até que a Red Bull derrubou o domínio do time com a conquista de Max Verstappen em 2021.
Em baixa desde a dura derrota do britânico para o holandês na última volta da corrida final da temporada passada, a Mercedes viu o time rival e a Ferrari crescerem nas últimas semanas. As duas equipes dominaram as duas baterias de testes da pré-temporada, em Barcelona e no Bahrein.
Discreta nos treinos, a Mercedes tratou de baixas as expectativas sobre sua performance. “No momento, não acho que vamos brigar por vitórias”, disse Hamilton. “Não somos os mais velozes neste momento. Acho que a Ferrari parece ser a mais rápida, talvez a Red Bull ou pode ser a McLaren, não sei. Mas atualmente não estamos no topo.”
As declarações surpreenderam os fãs, mas não os rivais. É hábito do time alemão “esconder” o jogo na pré-temporada. “Isso é muito típico da Mercedes. Eles exaltam os adversários e aí, na primeira corrida do ano, acabam com a competição, o que também é típico. Se fosse a primeira vez que fazem isso… mas fizeram isso por seis anos seguidos e continuaram vencendo a primeira corrida”, disse o espanhol Carlos Sainz Jr., da Ferrari. “É sempre assim”, ironizou Verstappen.
Novidades dos carros
A oportunidade que surge para os times que tentam acabar com o domínio da Mercedes se deve à profunda reformulação dos carros. A F-1 passou os últimos anos reconstruindo o modelo para melhorar a performance sem gerar a famosa turbulência que tanto atrapalha as ultrapassagens nas pistas. Ao mesmo tempo, a categoria quer mais equilíbrio entre os times para aumentar a competitividade e a audiência do campeonato.
As soluções para estes problemas foram encontradas na década de 80, no conceito de “carros-asa” e “efeito solo”. Na prática, o modelo foi recriado a partir do chassi, que passou a ter papel determinante na aerodinâmica. Houve mudanças bruscas nos aerofólios dianteiro e traseiro, nos pneus, nas laterais. Os carros se tornaram ainda mais bonitos e agressivos.
Embora não tenha se destacado na pré-temporada, a Mercedes é quem gera a maior expectativa por ser a equipe mais rica do grid – as premiações que ganhou com os títulos de Construtores superam os 100 milhões de euros (cerca de R$ 564 milhões, sem atualização monetária) por temporada.
“Acredito que devemos ver Mercedes, Red Bull e Ferrari na briga e talvez uma equipe mediana como surpresa. Temos que lembrar que, quando esse regulamento foi lançado lá trás, não havia o teto de gastos. Então, as equipes começaram a trabalhar quando a grana ainda era liberada. E aí veio a pandemia. Portanto, neste começo (da era dos novos carros) o dinheiro ainda deverá falar mais alto”, opina Felipe Giaffone, comentarista da Band, em entrevista ao Estadão.
Tanto é assim que Mercedes já apresentou novidades em relação ao lançamento do carro, na segunda bateria da pré-temporada. Os engenheiros do time afinaram as laterais e mudaram os retrovisores. A Ferrari não gostou e indicou que poderá reclamar junto à Federação Internacional de Automobilismo (FIA). “Já no passado dissemos que os espelhos não deveriam ter propósitos aerodinâmicos”, disse o chefe do time italiano, Mattia Binotto.
A partir desta sexta-feira, os fãs da F-1 vão começar a tirar as dúvidas sobre a performance da Mercedes e a disputa pelo domínio da era dos novos carros.
Preocupação
A primeira etapa da temporada 2022 da Fórmula 1 vai mostrar também se os times conseguiram resolver de vez a maior limitação dos novos carros da Fórmula 1, o chamado “porpoising”. O termo designa os “quiques” que os modelos deram no asfalto nas duas baterias de testes da pré-temporada. O problema ganhou esse nome em referência ao movimento de nado de alguns animais aquáticos, caso do golfinho (porpoise, em inglês).
O problema foi mais visível em Barcelona, na primeira sessão de testes. Os novos carros da F-1 apresentaram leves solavancos nas retas do Circuito da Catalunha. Com essas vibrações, o carro “quica” sobre o asfalto, como se percorresse um traçado cheio de buracos.
Este movimento não chega a reduzir a velocidade dos monopostos, mas pode trazer danos ao veículo e colocar em risco o próprio piloto, principalmente por conta do efeito nas costas. A causa é uma falha aerodinâmica do chamado “efeito solo”. O ar que passa sob o carro não estaria trazendo o efeito mais desejado, a maior pressão aerodinâmica, gerando maior velocidade.
A maior parte das equipes amenizou, ainda que aparentemente, o problema já na segunda e última bateria de estes da pré-temporada, na semana passada. Mas há a expectativa sobre como cada carro vai se comportar nas diferentes pistas do calendário. Traçados de maior velocidade podem ampliar o problema.
Atual campeão mundial, o holandês Max Verstappen garantiu que a falha aerodinâmica já foi resolvida na Red Bull. Algumas equipes acrescentaram pequenas peças próximo ao assoalho para conter essas vibrações. Mas ainda não foram totalmente testados sob maior velocidade, o que acontecerá na corrida deste domingo, no Circuito de Sakhir.