Mesmo abalada, moradora de Recife apoia bombeiros goianos; veja relato

A cerca de sete metros da casa de dona Maria Aparecida de Lima Mendes, em Camaragibi, uma barreira desabou matando e deixando feridos seus vizinhos, por conta das fortes chuvas que atingiram a Grande Recife. A casa dela, que não foi atingida, serviu como ponto de apoio as equipes do Corpo de Bombeiros, não só de Recife, mas de outros estados, inclusive Goiás.

“De sábado até hoje [sexta-feira, 3] os Bombeiros ficaram na minha casa. Eles falavam assim ‘vai dormir, dona Aparecida, a senhora não dorme?’, porque eu ficava junto com eles. Todos no maior carinho e cuidado comigo”, conta. Ela lembra que, quando ia se deitar, deixava a residência à disposição das equipes de resgate. O exemplo não é isolado. “Outra vizinha, a Betânia, também abriu a casa dela para todo mundo”, conta dona Maria Aparecida, que aos 65 anos, é bisavó.

“Foi muita doação que a gente ganhou aqui. Não faltou almoço, café da manhã, lanchinho, suco… tudo eles tinham. Foram bem recebidos e acolhidos, como meus filhos”, relata

Dona Aparecida ao lado de bombeiros militares, no dia em que última vítima soterrada foi encontrada, sexta-feira, 5. (Foto: Arquivo pessoal/Maria Aparecida)

Tenente Wening, comandante da equipe do Corpo de Bombeiros de Goiás durante a operação em Pernambuco, conta que o apoio foi essencial, em uma rotina de trabalho com pouco descanso. Em operações como esta, os militares se revezam em pausas de 30 a 60 minutos. “Dona Ana fazia sopa, café, água e acolhia a gente. Cedia banheiro e espaço para poder deitar no quintal dela e descansar. Abriu a casa para todo mundo”, lembra.

A tragédia em Recife

Os temporais começaram há uma semana (28), na região metropolitana de Recife. Até o momento, são 128 mortes confirmadas. Além dos óbitos, o grande volume de chuvas, aliado ao relevo da região – que favorece deslizamentos – deixou mais de 6,2 mil pessoas desabrigadas (clique aqui para saber como ajudar).

Dona Maria Aparecida lembra como viu a gravidade da situação, logo ao acordar. “Eram 7h da manhã quando a barreira desabou. Eu estava dormindo e não escutei. Minha vizinha me ligou: ‘a senhora viu o que está acontecendo?’, perguntou. Quando eu abri a janela, olhei e vi que a barreira tinha caído”, comenta.

Emocionada, ela diz que, aos poucos, se dá conta das proporções da tragédia. “Está sendo muito difícil. Hoje é que está caindo a ficha mesmo. Antes eu via muita gente mexendo [durante o resgate], não dava para sentir a falta naquela hora. Mas hoje, na hora que eu fui fechar meu portão, eu olhei e vi que não tinha mais ninguém, não tinha nada. Aquele silêncio, aquele vazio, aquele deserto. Está escuro, só fiquei eu aqui na parte onde moro”, diz, emocionada.

Neste sábado, 4, fortes chuvas voltaram a atingir a região, provocando novos alagamentos, deslizamento de barreira e queda de pontilhão, mas sem registro de vítimas, segundo o Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil de Recife.

Deslizamento de barreira em Camaragibi, região metropolitana de Pernambuco. (Foto: Arquivo pessoal/Maria Aparecida)

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BYD cancela contrato com empreiteira após polêmica por trabalho escravo

Na noite de segunda-feira, 23, a filial brasileira da montadora BYD anunciou a rescisão do contrato com a empresa terceirizada Jinjiang Construction Brazil Ltda., responsável pela construção da fábrica de carros elétricos em Camaçari, na Bahia. A decisão veio após o resgate de 163 operários chineses que trabalhavam em condições análogas à escravidão.

As obras, que incluem a construção da maior fábrica de carros elétricos da BYD fora da Ásia, foram parcialmente suspensas por determinação do Ministério Público do Trabalho (MPT) da Bahia. Desde novembro, o MPT, juntamente com outras agências governamentais, realizou verificações que identificaram as graves irregularidades na empresa terceirizada Jinjiang.

Força-tarefa

Uma força-tarefa composta pelo MPT, Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Defensoria Pública da União (DPU) e Polícia Rodoviária Federal (PRF), além do Ministério Público Federal (MPF) e Polícia Federal (PF), resgatou os 163 trabalhadores e interditou os trechos da obra sob responsabilidade da Jinjiang.

A BYD Auto do Brasil afirmou que “não tolera o desrespeito à dignidade humana” e transferiu os 163 trabalhadores para hotéis da região. A empresa reiterou seu compromisso com o cumprimento integral da legislação brasileira, especialmente no que se refere à proteção dos direitos dos trabalhadores.

Uma audiência foi marcada para esta quinta-feira, 26, para que a BYD e a Jinjiang apresentem as providências necessárias à garantia das condições mínimas de alojamento e negociem as condições para a regularização geral do que já foi detectado.

O Ministério das Relações Exteriores da China afirmou que sua embaixada e consulados no Brasil estão em contato com as autoridades brasileiras para verificar a situação e administrá-la da maneira adequada. A porta-voz da diplomacia chinesa, Mao Ning, em Pequim, destacou que o governo chinês sempre deu a maior importância à proteção dos direitos legítimos e aos interesses dos trabalhadores, pedindo às empresas chinesas que cumpram a lei e as normas.

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