Militar denunciado por assassinato na ditadura ganha R$ 35 mil – Entenda o caso Rubens Paiva

José Antônio Nogueira Belham é um dos cinco denunciados pelo Ministério Público Federal (MPF) em 2014, por conta do assassinato e ocultação do cadáver de Rubens Paiva durante a ditadura militar. O processo judicial não avançou e o militar segue recebendo normalmente um salário de R$ 35 mil. Inclusive, o oficial aparece no Portal da Transparência como marechal, considerado um posto de honra para aqueles que tiveram atuação excepcional durante o período de guerras.

Belham é citado oficialmente, por vezes, como oficial apenas como general de divisão. O Diário do Estado perguntou à Controladoria Geral da União (CGU), que administra o Portal da Transparência, sobre o porquê ele aparecer com outra patente. A CGU informou que as informações são atualizadas com os dados fornecidos pelos órgãos responsáveis. Questionado, o Exército não respondeu até o fechamento desta matéria.

Na época do crime, o militar era comandante do Destacamento de Operações e Informações (DOI) do 1º Exército, na zona norte do Rio, onde Rubens Paiva teria morrido. Ele foi levado para unidades militares após ser preso, em casa, no Leblon, zona sul do Rio, por seis agentes do Centro de Informações de Segurança da Aeronáutica (Cisa).

Em depoimento à Comissão Nacional da Verdade (CNV), em 2013, o general negou que sabia sobre as torturas a Rubens Paiva e ainda acrescentou que estaria ausente do local pois estava de férias. O MPF, por sua vez, apontou que os militares envolvidos, incluindo Belham, todos previamente ajustados e agindo com unidade de desígnios, mataram o ex-deputado.

Após a denúncia ter sido aceita, a defesa dos militares moveu uma reclamação no Supremo Tribunal Federal. Em setembro de 2014, o ministro Teori Zavascki concedeu liminar e suspendeu o curso da ação penal. Os advogados questionaram decisões anteriores da Justiça Federal e do Tribunal Regional Federal da 2ª Região. Para a defesa, o processo não deveria continuar por causa da Lei da Anistia. O MPF discorda e considera o caso um crime contra a humanidade, imune a anistias.

Os acusados são José Antônio Nogueira Belham; Jacy Ochsendorf e Souza; Raimundo Ronaldo Campos; Jurandyr Ochsendorf e Souza; e Rubens Paim Sampaio. Pelo menos os três últimos já faleceram. O major Jacy Ochsendorf e Souza ganha um salário bruto de R$ 23.457,15.

Com a morte de Zavascki, a ação passou a ser analisada por Alexandre de Moraes. O processo não era movimentado desde o fim de 2018, mas o ministro do STF pediu um parecer da Procuradoria-Geral da República (PGR) sobre o julgamento de cinco militares em outubro deste ano. Na última quinta-feira (21/11), a PGR apontou que é mais adequado aguardar a decisão do STF no âmbito do recurso extraordinário que trata da aplicação da Lei da Anistia.

O ex-deputado e engenheiro Rubens Paiva terá sua história contada no filme Ainda Estou Aqui, longa-metragem de Walter Salles inspirado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, filho do político. Ele nunca mais foi visto após ser levado para prestar depoimento em 1971, período da ditadura militar. Rubens Paiva, nascido em 26 de dezembro de 1929 em Santos, São Paulo, se casou com Maria Lucrécia Eunice Facciola e teve cinco filhos com ela.

A carreira política de Paiva teve início em 1962, quando foi eleito deputado federal por São Paulo pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Durante a ditadura militar, Paiva se tornou um símbolo de resistência contra o regime antidemocrático e chegou a confrontar publicamente o então governador paulista, Ademar de Barros, que apoiava o golpe. Paiva também integrou a CPI destinada a investigar as atividades do IPES-IBAD, instituições acusadas de financiar palestras e artigos que alertavam para a chamada “ameaça vermelha” no Brasil.

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O apoio da direita civilizada a Bolsonaro: uma análise crítica

Blog do Noblat

A propósito da direita dita civilizada que apoiou Bolsonaro

A direita que se diz civilizada ganhou mais uma chance de mostrar que é de fato civilizada. Em 2018, ela apoiou a eleição de Bolsonaro por querer acreditar que ele governaria dentro das quatro linhas da Constituição. Embora lhe faltasse preparo, Bolsonaro saberia cercar-se de pessoas competentes. O mercado estava repleto delas.

Não foi o que aconteceu. Com apenas um ano e quatro meses no cargo, em ato público defronte ao QG do Exército em Brasília, Bolsonaro falou a manifestantes que pediam abertamente a volta da ditadura. Censurou-os? Pelo contrário. Exaltou-os do alto de uma camionete ao dizer entre outras coisas:

– Não queremos negociar nada. Nós queremos é ação pelo Brasil. O que tinha de velho ficou para trás. Nós temos um novo Brasil pela frente. Todos, sem exceção, têm que ser patriotas e acreditar e fazer a sua parte para que possamos colocar o Brasil em lugar de destaque. Acabou a época da patifaria. É agora o povo no poder.

– Todos no Brasil têm que entender que estão submissos à vontade do povo brasileiro. Tenho certeza, todos nós juramos um dia dar a vida pela pátria. E vamos fazer o que for possível para mudar o destino do Brasil. Chega da velha política.

A turba rugiu satisfeita e em êxtase.

Salvo poucos nomes, Bolsonaro cercou-se de auxiliares tão medíocres quanto ele, de preferência militares. Nem os governos da ditadura empregaram tanta gente fardada em lugares quase reservados a civis. A política arrombou de vez as portas do quarteis e começou a sangrar a disciplina. Deu no que vimos.

A direita dita civilizada também viu. Mas isso não impediu que parte dela, jamais mensurada, apoiasse a reeleição de Bolsonaro. Foi por um suspiro que ele não se reelegeu, derrotando Lula, o candidato da tal frente ampla pela democracia. E não foram apenas os extremistas da direita que votaram nele.

Chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor. Foi o Estado Democrático de Direito que esteve em perigo e por um triz o golpe não se consumou. Quem o reverteria se Lula, Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes tivessem sido mortos? Os generais que acolheram gentilmente os golpistas acampados?

Uma junta militar convocaria novas eleições. O plano era esse. Bolsonaro teve em mãos várias versões do plano e estabeleceu um prazo para que o golpe fosse aplicado – até o final de dezembro de 2022. Como não deu certo, escafedeu-se para os Estados Unidos e de lá assistiu o levante popular nada espontâneo do 8/1.

Indiciado pela Polícia Federal nos crimes que quis ocultar, próximo de ser denunciado pela Procuradoria-Geral da República, de que lado ficará a direita dita civilizada quando Bolsonaro e os demais golpistas sentarem no banco dos réus? Não se diga que ele é um problema da justiça e de mais ninguém. Não há meio termo. Não cabe isenção. Escolha seu lado. Bolsonaro é um problema dos que votaram nele e de todos que arcaram com as consequências de sua gestão desastrosa e reacionária.

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