Minicérebros e Neurônios em Laboratório para Estudo da Depressão

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Cientistas brasileiros criam minicérebros e neurônios em laboratório para estudar depressão

Trabalho de laboratório da Unicamp, em Campinas (SP), envolve uso de células da pele e do sangue de pessoas deprimidas que, in vitro, foram reprogramadas para voltarem ao estado de células-tronco.

Cientistas criam minicérebros e neurônios em laboratório para estudar depressão
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Imagine se cientistas pudessem assistir, em tempo real, às mudanças e processos que acontecem no cérebro de uma pessoa com depressão. Em um laboratório da Unicamp [https://de.de.globo.com/educacao/universidade/unicamp/], em Campinas (SP) [https://globo.com/sp/campinas-regiao/cidade/campinas/], avanços na medicina regenerativa permitem que um grupo de pesquisadores faça (quase) isso.

Entre placas de Petri e microscópios, o Laboratório de Neuroproteômica, comandado pelo biólogo Daniel Martins-de-Souza, conseguiu criar neurônios e minicérebros praticamente do zero para avançar no que se sabe sobre a doença e pavimentar o caminho para novas medicações.

Tudo isso graças a uma descoberta que rendeu o Nobel de Medicina a dois pesquisadores, um britânico e um japonês, em 2012 [https://de.de.globo.com/mundo/noticia/2012/10/nobel-de-medicina-e-dado-a-britanico-e-japones-por-trabalhos-com-celulas-tronco.html]: a possibilidade de reprogramar células-tronco para criar todos os tipos de tecidos do corpo humano.

Infográfico – Cientistas usam minicérebros para estudar depressão — Foto: Arte/de

Parece complexo — e é. Em termos mais simples, o trabalho dos pesquisadores da Unicamp, em parceria com a geneticista Lygia da Veiga Pereira, da Universidade de São Paulo (USP [https://de.de.globo.com/educacao/universidade/usp/]), envolve o uso de células da pele e do sangue de pessoas deprimidas que, in vitro, foram reprogramadas para voltarem ao estado de células-tronco.

> A partir disso, as possibilidades são infinitas. “Aqui no laboratório a gente as programa para serem neurônios, células da glia – que são outro tipo de célula que tem no cérebro – ou até organoides cerebrais. Ou seja, a gente consegue fazer uma espécie de minicérebro no laboratório”, explica Martins-de-Souza.

E por que usar células-tronco quando há a possibilidade de recorrer a testes em animais ou até mesmo em humanos? A resposta é simples: não é possível coletar tecidos cerebrais de pessoas vivas, e induzir depressão em ratos ou camundongos é, no mínimo, desafiador.

Ao reproduzir o cérebro humano em laboratório, os pesquisadores podem observar todo o processo de desenvolvimento de uma célula e o caminho que ela percorre até se tornar um neurônio, por exemplo. Esse trajeto em si já pode trazer respostas sobre a evolução da doença.

> “Podemos testar medicamentos, o papel de algum gene. A gente pode literalmente ligar e desligar genes que sejam associados àquelas proteínas, por exemplo, que a gente viu nos cérebros das pessoas com depressão”, afirma o cientista.

Neurônios produzidos em laboratório de pessoas com depressão, derivados de células-tronco pluripotentes induzidas — Foto: Laboratório de Neuroproteômica/Unicamp

De antidepressivos ao canabidiol

Hoje, as linhas de investigação no laboratório são diversas, e devem ser estudadas por pelo menos cinco anos. Os pesquisadores têm se dedicado a entender:

* o processo de reciclagem celular, ou seja, como funciona o metabolismo de energia das células;
* o papel das células da glia – que fazem parte do sistema nervoso – no cérebro, e como elas são afetadas em pessoas com diagnóstico de depressão;
* se o canabidiol pode melhorar ou não a viabilidade e a função das células de pessoas deprimidas; e
* o comportamento de diferentes antidepressivos no cérebro.

Essas investigações buscam responder questionamentos latentes da ciência, como os impactos negativos e positivos do uso de cannabis medicinal, em especial no que diz respeito às condições psiquiátricas.

Uma coletânea mundial de pesquisas [https://de.de.globo.com/sp/campinas-regiao/noticia/2023/11/25/da-anorexia-a-abstinencia-mapa-reune-evidencias-de-efeito-positivo-da-cannabis-medicinal-em-20-quadros-de-saude.ghtml] indica ao menos 20 quadros de saúde que podem ser tratados com a substância, e também efeitos adversos que merecem mais estudos. As evidências científicas se somam ao uso cada vez mais frequente da planta para fins medicinais.

Minicérebros produzidos em laboratório de pessoas com depressão, derivados de células-tronco pluripotentes induzidas — Foto: Laboratório de Neuroproteômica/Unicamp

A química da depressão

Um relatório divulgado pela Organização Mundial da Saúde [https://de.de.globo.com/saude/saude-mental/noticia/2025/09/02/apenas-9percent-das-pessoas-com-depressao-recebe-tratamento-adequado-afirma-oms.ghtml] revelou que mais de um bilhão de pessoas no mundo convivem com problemas de saúde mental. De acordo com a organização, ansiedade e depressão afetam pessoas de todas as idades e faixas de renda.

No campo da pesquisa, cientistas de todo o mundo correm para tentar entender como a doença — que já foi considerada “o mal do século” — se comporta no cérebro.

> “Existem outros grupos de pesquisa que já estão testando alguns medicamentos baseados em outras descobertas que já vieram do passado. As coisas vão caminhando meio ao mesmo tempo e a ciência acaba se combinando”, explica Martins-de-Souza.

Veja também:

* Cientistas identificam atividade cerebral que desencadeia crises depressivas [https://de.de.globo.com/saude/noticia/2021/11/09/cientistas-identificam-atividade-cerebral-que-desencadeia-crises-depressivas.ghtml]
* Cientistas descobrem 17 variações genéticas ligadas à depressão [https://de.de.globo.com/bemestar/noticia/2016/08/cientistas-descobrem-17-variacoes-geneticas-ligadas-a-depressao.html]
* Estudo liderado por brasileiros identifica como antidepressivos atuam no cérebro [https://de.de.globo.com/bemestar/viva-voce/noticia/2021/03/26/estudo-liderado-por-brasileiros-identifica-como-antidepressivos-atuam-no-cerebro.ghtml]

Para quem sofre, o tempo da ciência parece longo demais. Estudos como esse, no entanto, podem levar anos para chegar a descobertas que possam, enfim, ser colocadas em prática entre pacientes. A esperança é que os resultados melhorem o tratamento psiquiátrico no futuro.

> “A gente precisa entender melhor a biologia da depressão para, justamente, que medicamentos mais eficazes possam aparecer. Ou até mesmo para que os médicos consigam acertar melhor quais são as melhores medicações para as pessoas que têm depressão”, diz.

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