Ministério Público denuncia seguranças por morte de adolescente no Paraná: indenização de R$100 mil

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Ministério Público denuncia seguranças envolvidos na morte do adolescente enquanto tirava manga no Paraná

Denúncia considera os crimes de homicídio e tentativa de homicídio e prevê o pagamento de indenização por danos morais e materiais de R$ 100 mil aos familiares do adolescente e outras vítimas.

Adras, Gustavo, Jonatan e Josemar (da esquerda para a direita) são suspeitos de matar adolescente de 14 anos no Paraná — Foto: Polícia Civil/PR

O Ministério Público do Paraná (MP-PR) denunciou, nesta quinta-feira (27), os quatro seguranças envolvidos na morte do adolescente Luís Fernando Chiarentin, de 14 anos. O jovem morreu após ser agredido enquanto tirava mangas de uma árvore, em Medianeira, no Paraná.

O crime aconteceu em 27 dezembro de 2024. Segundo a polícia, Luís e outros dois amigos colhiam as frutas, em terreno particular, quando foram surpreendidos pelos quatro suspeitos, um deles armado, que os impediu de sair do local.

Adlas Alisson Rodrigues Paula, Gustavo Alves Rodrigues, Jonatan Cremonezi Gomes dos Santos e Josemar Ribeiro foram denunciados pelos crimes de homicídio por motivo fútil e tentativa de homicídio.

No documento, o promotor Leone Nivaldo Gonçalves considerou que os quatro seguranças atuaram “com inequívoco ânimo de matar”, por “motivação fútil” e “emprego de meio cruel”. Ele ainda alegou que o grupo realizou uma emboscada e que o crime foi cometido mediante “recurso que dificultou a defesa” dos adolescentes.

Além disso, a denúncia também prevê que os familiares de Luis e outros jovens que foram vítimas das agressões recebam uma indenização por danos morais e materiais de R$ 100 mil, por réu.

Por fim, o promotor também solicitou pela manutenção da prisão preventiva dos denunciados. Josemar foi preso em Santa Catarina no último dia 13 de fevereiro e segue detido. Os outros três estão foragidos.

O DE tenta contato com a defesa dos seguranças.

Luís Fernando Chiarentin tinha 14 anos e foi morto no Paraná — Foto: Arquivo pessoal

Relembre o caso:

Investigação: Seguranças suspeitos de matar adolescente que pegava manga em árvore no PR usaram câmeras de monitoramento de prefeitura para localizar vítima. Prisão: Homem suspeito de matar adolescente que pegava manga em árvore no PR é preso em Santa Catarina. ‘Sonhava em ser jogador de futebol e conhecer o mar’: Conta irmão de adolescente de 14 anos morto enquanto tirava mangas de pé no DE.

SEGURANÇAS USARAM CÂMERAS DE MONITORAMENTO PARA LOCALIZAR VÍTIMA

Os quatro seguranças foram indiciados pela Polícia Civil como autores do crime. O DE teve acesso ao inquérito policial que apurou o assassinato do adolescente e detalhou a participação de cada um dos envolvidos.

Os seguranças trabalhavam para uma empresa terceirizada “que presta serviço para a prefeitura municipal e usaram das câmeras de monitoramento para localizar o adolescente”, segundo a Polícia Civil.

O DE também teve acesso a imagens de câmeras de segurança que flagraram o momento em que o grupo de seguranças chegou ao local onde o adolescente. Assista ao vídeo abaixo.

Câmeras flagraram grupo de seguranças que matou adolescente enquanto tirava manga no PR.

As imagens são de um estabelecimento comercial que fica próximo de onde o crime aconteceu. Nelas é possível ver que passava das 23h30 quando a cena foi registrada.

No vídeo, os quatro seguranças aparecem chegando onde os três meninos estão colhendo as mangas direto do pé. Em seguida, um dos adolescentes foge.

Contudo, segundo a polícia, Luis e outro amigo foram impedidos de sair do local e, logo depois, são agredidos com bastões. As agressões duraram cerca de um minuto e depois os seguranças fugiram.

A seguir, o DE lista o que apontou a Polícia Civil do Paraná sobre a motivação e planejamento do crime e a participação de cada um deles na morte de Luís.

1. MOTIVAÇÃO E PLANEJAMENTO DO CRIME, SEGUNDO A POLÍCIA CIVIL

De acordo com a Polícia Civil, os quatro seguranças planejaram o crime motivados por “supostos atos de vandalismo atribuídos às vítimas em ocasiões anteriores na prefeitura municipal de Medianeira”.

A polícia não detalhou quais teriam sido as ações dos adolescentes e descartou que o crime tenha ligação com fato do adolescente e os dois amigos estarem tirando frutas em terreno particular.

Segundo o inquérito, os suspeitos iniciaram conversas em um grupo de WhatsApp, onde Jonatan, o suspeito preso, sugeriu “dar um susto” nas vítimas.

Em depoimento, antes de serem expedidos os mandados de prisão contra os seguranças, Gustavo, outro suspeito, revelou à polícia que “intenção era apenas intimidar e coagir os adolescentes, conduzindo-os a um local isolado para ameaças verbais, sem qualquer objetivo de causar morte”, diz trecho do inquérito.

Para a polícia, no entanto, o entendimento é que o local do crime foi escolhido estrategicamente, por ser pouco iluminado, apontando que os quatro suspeitos agiram de forma “coordenada e premeditada”, cercando os adolescentes e impedindo que eles fugissem.

O exame de necropsia constatou que Luís morreu decorrência de trauma de tórax e traumatismo cranioencefálico grave, causados pelas múltiplas agressões sofridas.

A advogada Gabriela Ben, que representa a família de Luís, informou que solicitará à Secretaria de Segurança Pública do Paraná (Sesp) apoio para a captura dos foragidos por meio de rastreamento digital, e também da Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol), pela suspeita de que os foragidos possam ter fugido para o Paraguai.

> “Este crime não vitimou apenas uma criança, mas duas, e atenta contra a esperança de um mundo melhor, um impacto que nunca se extingue”, sinalizou a advogada em nota.

2. PARTICIPAÇÃO DE CADA UM DOS QUATRO SUSPEITOS NO CRIME, SEGUNDO INQUÉRITO

No inquérito, concluído no início deste mês, a polícia menciona que o interrogatório de Gustavo “foi de extrema importância para entender a dinâmica dos fatos”.

Na sequência, o documento destaca qual foi a participação de cada um dos suspeitos no crime. Veja a seguir o que diz o inquérito:

Jonatan Cremonezi Gomes dos Santos: foi o líder e mentor das agressões, articulando os detalhes da ação e desferindo os golpes fatais em Luís Fernando com o bastão “P90”, também utilizado para agredir a outra vítima.
Josemar Ribeiro: foi o motorista do veículo utilizado no crime e participou ativamente das agressões, agindo com violência contra [nome da outra vítima] e colaborando para a fuga do grupo após o crime. Seu comportamento evasivo e a confissão informal à esposa reforçam sua participação.
Gustavo Alves Rodrigues: embora tenha tentado minimizar sua participação, admitiu estar no local, participar da contenção das vítimas e ser omisso diante das agressões fatais. Também contribuiu para a logística do crime, atuando como auxiliar nas ações do grupo.
Adlas Alísson Rodrigues Paula: monitorou as vítimas por meio de câmeras de vigilância e participou da ação dando suporte para os demais. Ainda, no local, manteve as vítimas sob a mira de arma de fogo para garantir que não fugissem, conforme as imagens das câmeras de monitoramento, que mostram o momento em que Adlas desce do veículo na posse de uma arma de fogo.

> “Embora Adlas, Josemar e Gustavo tenham percebido o excesso de Jonatan durante as agressões, não fizeram qualquer esforço para detê-lo, permitindo que ele continuasse a desferir os golpes fatais em Luís Fernando. A omissão dos demais investigados demonstra conivência e contribuiu decisivamente para a consumação dos delitos”, diz outro trecho do documento.

Segundo a investigação, após o crime, os quatro suspeitos “adotaram medidas para ocultar suas ações”, como a destruição de evidências e o apagamento de mensagens no grupo de WhatsApp utilizado no planejamento.

Sobre o uso de câmeras de monitoramento da Prefeitura de Medianeira, em especial por Adlas, que comunicou aos demais colegas sobre a localização das vítimas na data do crime, a administração municipal emitiu nota afirmando que tem contribuindo com as investigações.

A nota diz ainda que o município não foi informado sobre nenhum uso irregular da Central de Monitoramento e que não foi informado formalmente sobre a autoria ou identificação dos suspeitos.

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