A febre do momento entre jovens tem nome e uma série de riscos à saúde para eles e para quem está por perto. O cigarro eletrônico, conhecido como vape, aumenta as chances de sintomas de bronquite em 40% e falta de ar em 53% entre adultos jovens, de acordo com pesquisa do Southern California Children Health Study. No Brasil, apesar de críticas de especialistas, a regularização do produto voltou a ser pauta de discussão na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Na onda de novidades para atrair os mais jovens, a indústria do tabaco tenta ganhar parte do espaço perdido nos anos 1990, quando campanhas maciças realizadas pelo Governo Federal orientaram a população, restringiram a publicidade, aumentaram a carga tributária e coibiram o hábito em espaços fechados. Os vapes são controlados eletronicamente e usam a bateria para aquecer o líquido inserido na estrutura para produzir névoa de fumaça com ou sem cheiro que justifica o nome do produto, que vem do inglês e significa vaporizar.
A cara de moderninho do cigarro, com carga feita por cabo USB, formato de pen drive ou caneta e a possibilidade de nivelar a quantidade de nicotina e adicionar aromatizadores fez com que um a cada cinco brasileiros de até 24 anos de idade passassem a consumir o vape com frequência, segundo dados mais recentes da pesquisa Covitel. As mídias sociais com tutoriais sobre quais os melhores vendidos no mercado e ainda como montar um modelo caseiro mais barato (na loja o produto custa a partir de R$60) ajudam a popularizar a tendência entre esse público.
Os riscos, segundo a pneumologista Fernanda Miranda, são os mesmos do cigarro tradicional. Ela explica que a diferença está somente no dispositivo utilizado para introduzir a nicotina e outras substâncias no corpo humano. Uma das principais ameaças tem sido a disseminação do argumento de que os chamados Dispositivos Eletrônicos para Fumar (DEF’s) não fazem mal ou que afetam minimamente a saúde. Além disso, estudos associam o uso de cigarros eletrônicos à iniciação ao tabagismo.
“A doença denominada EVALI é uma grave insuficiência respiratória aguda causada pelos cigarros eletrônicos. Todos viciam e contêm alta quantidade de nicotina, substância com poder de causar dependência química. Pessoas que se tornam dependentes químicos ou psicológicos do cigarro, seja ele qual tipo for, precisam de avaliação médica e tratamento especializados. O primeiro passo é reconhecer que já está ou se tornando dependente do uso dos cigarros eletrônicos ou não e procurar ajuda médica”, orienta a profissional.
Venda liberada?
No início do mês passado, a regularização dos DEF’s foi retomada após manifestação negativa da Anvisa em 2009. A agência está avaliando evidências técnicas e científicas e dados sobre a segurança do uso. A pressão da indústria do tabaco ocorre apesar de os índices de câncer de pulmão decorrentes de tabagismo figurarem como a segunda causa mais frequente da doença, conforme estatísticas do Instituto Nacional de Câncer (Inca). A disseminação do hábito entre menores ocasionou um alerta das escolas aos pais sobre o cigarro eletrônico, que tem venda proibida no Brasil.
Os adultos também estão sendo vítimas da moda de DEFs. Recentemente, a cantora Solange Almeida, de 47 anos, reconheceu publicamente que fumava vape há algum tempo. Ela afirmou que os efeitos nocivos quase a tiraram do palco. “É um começo da nova Solange, depois desse uso indevido do cigarro eletrônico, que quase culminou na perda total da minha voz e do meu emocional por inteiro. Me tirou do chão, de verdade”, confidenciou em entrevista ao programa Domingo Espetacular.
Para Fernanda, a falta de informações comprobatórias dos efeitos do vape representa um risco e, por isso, ela e a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) são absolutamente contra a regularização do cigarro eletrônico. “Os países que liberaram a viram um aumento significativo da dependência de nicotina entre crianças e adolescentes. Por essas e outras razões, defendemos a proibição da venda do produto no Brasil”, opina.