Sem saneamento básico, transporte e iluminação pública, moradora denuncia
condições precárias em bairro de São Roque: ‘Abandonada por Deus’
Amanda Gabriela Ogushi vive há um ano na Estrada Aldo Penonne, em São Roque (SP). Desde então, ela e a família alegam que sofreram uma série de negligências durante a busca por melhores condições na região.
Moradora denuncia condições precárias em bairro de São Roque
Todos os dias, a garçonete Amanda Gabriela Ogushi levanta de sua cama com um
único desejo: sentir-se segura na casa onde mora. Há um ano, ela se mudou para a
Estrada Aldo Penonne, em São Roque (SP), na busca de um lugar melhor após ter sido assaltada à mão armada.
No entanto, apesar do início de um novo capítulo da vida, o medo e a
vulnerabilidade continuam sendo protagonistas do cotidiano da família. Os problemas começam antes mesmo de chegar à estrada de terra, com a falta de transporte e iluminação pública.
“Nós não temos coleta de lixo, é muito difícil. Temos que juntar todo o lixo
para levar à caçamba mais próxima, isso quando não é queimado. Não temos um transporte coletivo, e isso pega muito. É como as pessoas se localizam. Temos que andar a pé, faça chuva ou faça sol. É muito difícil, e a prefeitura diz que aqui não é uma zona rural”, comenta.
O DE esteve no local para entender a situação e, em seguida, questionou todas as autoridades responsáveis pelos problemas mencionados pela família (assista à reportagem acima).
Do portão para dentro, Amanda segue enfrentando dificuldades. A região não possui saneamento básico e, por isso, ela utiliza a água de um poço, descoberto pela família no fim de um barranco, que fica dentro do terreno. O esgoto é despejado em uma fossa séptica, mesmo com a região contendo poços de inspeção da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp).
A sensação de desamparo cresceu ainda mais depois que Beatriz Ogushi, filha de Amanda, foi abordada por um homem desconhecido no caminho para a escola. Todos os dias, a adolescente percorre, a pé, um trajeto de 1h30 entre ida e volta. Segundo a família, a instituição alega que não é obrigada a fornecer transporte para ela.
“Aconteceu de um homem passar e puxar minha filha pelo braço, querendo levá-la
embora. Ele tentou forçar ela a subir na moto. Eu e ela estamos com medo, muito
assustadas. Ela comentou que não quer mais ir à aula e me disse que ‘hoje ele
foi de moto, mas amanhã ele pode ir de carro. Nunca mais eu vou voltar'”, explica.
Após o susto, a menina e a mãe tentaram registrar um boletim de ocorrência na
delegacia de São Roque, mas tiveram o pedido negado pela funcionária do local. A
mulher alegou que, devido à falta de provas, não seria possível ajudá-las.
“Quando eu fui na Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) e pedi para fazer um
boletim de ocorrência, a mulher que me atendeu disse que não tinha como e que
eu deveria voltar para casa porque não tinha imagens, provas, iluminação,
nada. É exatamente isso que eu sou e tenho. Como que vou passar isso para
frente?”, questiona.
Por conta do ocorrido, Beatriz não tem frequentado as aulas. Além do medo
frequente, a estudante foi encaminhada ao psiquiatra, que a diagnosticou com
transtorno de adaptação e depressão grave.
“Eu sinto medo de ir para a escola. Sinto falta de lá, dos meus amigos, de tudo.
Eu tenho muito medo de sair de casa e não voltar nunca mais. É bem difícil
passar por tudo isso. Desde então, estou com 36 faltas na grade disciplinar”,
diz Beatriz.
Após diversas respostas negativas das autoridades, Amanda alega que se sente
abandonada. A cada dia, a luta da família para conseguir os direitos básicos de
um cidadão comum e ter uma vida mais tranquila continua incansavelmente.
“Eu pedi ajuda para todo mundo. Na escola, no Conselho Tutelar, na delegacia, na
Secretaria de Educação, mas eu só tive negativas. ‘Não, não podemos fazer nada’
foi uma das frases que eu mais escutei”, lamenta.
“Me sinto um nada, uma pessoa que não significa nada, sem valor nenhum. Nem
eu, nem minha família, nem minha filha. Somos apenas mais um indivíduo
qualquer na rua. Nós somos abandonados por Deus”, finaliza.
O DE esteve no local para entender a situação e, em seguida, questionou todas as autoridades responsáveis pelos problemas mencionados pela família.
Em nota, a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo (Seduc-SP) declara que reavaliou o trajeto da estudante e constatou que ele é superior a dois quilômetros, distância mínima estabelecida por lei para o oferecimento de transporte escolar.
Diante disso, a diretoria de ensino disponibilizou o embarque no ponto mais
próximo. A mãe confirma que Beatriz passou a ser buscada por uma van na porta da
residência da família.
A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), informa que a ligação de água encanada está disponível em parte das casas da estrada, enquanto outras ainda não solicitaram o serviço. Em relação à rede de esgoto, o órgão alega que, apesar da presença de poços de inspeção, serão feitos estudos técnicos para avaliar a viabilidade e disponibilizar a melhor solução para os moradores.
A Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP) esclarece que a funcionária que se negou a prestar apoio à família não trabalha mais na delegacia de São Roque e que a atitude não condiz com as diretrizes da Polícia Civil. A ocorrência foi registrada de forma eletrônica em fevereiro e encaminhada ao DP, que está investigando o crime desde então.
Já a Prefeitura de São Roque afirma que fará estudos técnicos para viabilizar a expansão da rede de iluminação pública na região, além de colocar a estrada e suas ruas adjacentes dentro da rota dos caminhões de coleta de lixo. A pasta alega que a área não pode ser caracterizada como zona rural, independentemente de suas condições precárias.
Em suma, a luta de Amanda e sua família por condições dignas de vida continua, enquanto aguardam ações efetivas por parte das autoridades responsáveis pelo bem-estar da população local. A esperança de um futuro melhor ainda persiste, mesmo diante de tantas adversidades.
*Colaborou sob supervisão de Ana Paula Yabiku
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