Assédio de construtoras cresce na Vila Mariana, e moradores protestam com placas: ‘Nossas casas não estão à venda’
Após mudanças no Plano Diretor feitas pela Câmara Municipal no ano passado, moradores de várias ruas narram histórias de perseguição, assédio e postura antiética de construtoras. Empresas negam e dizem que agem dentro da lei.
Moradores da Vila Marina, Zona Sul de São Paulo, exibem placa anunciando que suas casas não estão à venda no bairro. — Foto: Rodrigo Rodrigues/g1
Cansados do assédio de construtoras que desejam comprar suas casas, moradores de várias ruas da Vila Mariana, na Zona Sul de São Paulo estão colocando placas na frente de suas residências para protestar e tentar frear o apetite das empresas por terrenos na região.
Após a mudança do Plano Diretor Estratégico (PDE) em alguns quarteirões do bairro no ano passado, os moradores da região narram o aumento das abordagens, fazendo com que placas com a frase “esta casa não está à venda” se espalhem pelas ruas do bairro.
O DE visitou várias dessas ruas e ouviu histórias graves de invasão de privacidade, falta de respeito e criação de boatos que tem tirado a paz entre os proprietários dessas casas, além estar gerando uma verdadeira guerra entre vizinhos que querem e os que não querem vender suas propriedades.
Um dos casos mais graves acontece no quarteirão das ruas Mantiqueira, Juaracê e Dona Inácia Uchôa. Desde o início do ano, a Incorporadora Magik assinou acordo de intenção de compra de algumas casas no entorno e espalhou placas na vizinhança dizendo que ali haverá em breve um novo empreendimento imobiliário.
G1 procurou a Magik LZ, que disse, por meio de nota, que “prima pelo respeito a todos os envolvidos na cadeia de produção, de proprietários dos terrenos ou casas que adquire ao cliente final” (leia mais abaixo).
“Decidi com meu marido que não vamos sair e vamos resistir a essa rede de mentiras e intrigas. Minha casa tem 140 m². Tenho duas filhas, cachorros. Com o dinheiro que eles oferecem, não dá para comprar nem um apartamento de 60 m² aqui na região”, disse.
Ana Amélia conta que, quando o proprietário se recusa a negociar ou falar com a construtora, a construtora começa a procurar os familiares, até mesmo fora do estado.
Placas nas casas da Rua Mantiqueira protestam contra o assédio das construtoras no bairro — Foto: Rodrigo Rodrigues/g1
Em um dos casos, uma proprietária de imóvel foi hospitalizada com uma doença grave e teve que ser interditada temporariamente pela Justiça. Um dos filhos foi nomeado tutor e, após a decretação da intervenção pela Justiça, começou a receber contato da construtora.
Os moradores se articulam em várias ruas do bairro para criar um “manual contra o assédio” e espalhar entre os proprietários que estão vivendo esse clima de medo narrado na reportagem.