Ministério Público contribuiu para implementação de sistema de câmeras em Goiandira. Cidade é referência em segurança pública

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A idosa Terezinha Carlos de Oliveira, ao longo dos seus 69 anos de idade, sempre teve uma rotina pacata e tranquila no interior de Goiás. Ela trabalha e mora há um ano em uma chácara em Goiandira, a 280 km de Goiânia, na região Sudeste do Estado. Era tarde, quando a idosa foi surpreendida por dois assaltantes. Terezinha estava sozinha na propriedade no momento do roubo. O marido dela tinha ido à cidade. Armados, os ladrões renderam a idosa e exigiram a entrega de um cofre.

Segundo João Francisco Cardoso Alves, durante a ação, um dos suspeitos colocou uma arma na cabeça da esposa dele. Alguns minutos no local do crime e sem conseguir o que queriam, os bandidos foram embora e levaram apenas o celular de dona Terezinha. A fuga demorou um curto período de tempo. Câmeras de segurança instaladas em vários pontos de Goiandira e a rapidez da Polícia Militar (PM) foram fundamentais na prisão dos assaltantes horas depois.

“Se não fossem as câmeras, não pegava fácil esses bandidos, não! As câmeras e a eficiência da polícia foram surpreendentes”, afirma o chacareiro João Francisco.
Foto Arquivo pessoal

Após análise das imagens, militares identificaram a dupla, que era de outra cidade. Os envolvidos foram localizados em Campo Alegre de Goiás, cidade vizinha a Goiandira. As motocicletas e as roupas usadas no roubo também foram encontradas pela PM. O roubo contra a idosa Terezinha Carlos é mais um de uma série de crimes que têm sido desvendados de maneira ágil e eficiente em Goiandira e região.

Segurança e tecnologia em prol da população

Há oito anos, a cidade tornou-se referência no Programa Cidade Inteligente. Parte do programa foi idealizado a partir de uma sugestão do promotor de Justiça da cidade, Lucas Arantes Braga, de implantar um sistema de monitoramento por câmeras para reforçar a segurança pública.

A proposta surgiu diante da necessidade de aliar segurança e tecnologia para garantir mais proteção à população, além de proporcionar respostas mais rápidas às vítimas e aos seus familiares. Para que a iniciativa se tornasse realidade, em 2017, o promotor decidiu unir esforços e passou a contar com a parceria da Prefeitura de Goiandira, empresários locais e as forças de segurança pública.

“Inicialmente, a ideia era instalar câmeras de segurança em pontos estratégicos da cidade e arquivar as imagens para serem usadas em investigações policiais. Nesse caso, somente a PM e o delegado local poderiam ter acesso às gravações pelo celular, o que facilitaria a chegada rápida ao local das ocorrências, principalmente em uma cidade com pouco mais de 7 mil habitantes”, explica o promotor.

Segundo Arantes, a implantação foi um desafio. “Demandou esforço humano e recursos. Na época, a internet no município ainda era via rádio. O projeto só foi possível graças ao apoio dessa parceria”, afirma.

De acordo com o promotor, casos de roubo, furto, violência doméstica e acidentes de trânsito passaram a ter resposta mais rápida: “O sistema também auxiliou na identificação de suspeitos e comparsas, muitos oriundos de outras cidades.”

Promotor de Justiça em Goiandira, Lucas Arantes

Uso de imagens no Tribunal do Júri

O promotor Lucas Arantes destaca ainda o impacto do uso das imagens nos julgamentos do Tribunal do Júri. “Os vídeos permitem mostrar a realidade dos crimes, evitando que a narrativa fique restrita à frieza do texto escrito. Gravações, principalmente de homicídios, revelam detalhes que ajudam os jurados a compreender melhor a crueldade dos atos praticados, resultando em julgamentos mais efetivos.”

Um dos casos emblemáticos que contou com o apoio do videomonitoramento foi o de Vanderson da Silva, 27 anos, morto a facadas durante o carnaval de 2022, no Centro de Goiandira.

Durante o julgamento, o acusado alegou legítima defesa e afirmou ter sido atacado pela vítima. No entanto, as imagens mostraram ao júri que ele havia esfaqueado Vanderson, que tentou fugir, mas caiu em outra rua próxima à festa. O autor, para concluir o crime, atropelou a vítima.

“Quando a gente traz essas imagens, de um assassino, por exemplo, para os jurados, que são pessoas leigas, da nossa sociedade, eles têm segurança de julgar.”

Delegado, Fernando Maciel de olho nas imagens

Redução de crimes

Delegado em Goiandira, Fernando Maciel relata que o sistema de monitoramento tem proporcionado maior agilidade na prisão e elucidação de crimes. Ele afirma que o videomonitoramento tem ajudado na redução dos índices de criminalidade na cidade: “Nos últimos três anos, um roubo violento foi registrado e há mais de dois anos não há caso de homicídio.”

Em 2024, segundo o delegado, com o auxílio das imagens, foi possível prender um estelionatário de Minas Gerais que agia de porta em porta em Goiandira. O alvo eram idosos.

Maciel explica que o golpista liderava um esquema de estelionato baseado na prestação de serviços de troca de antenas de televisão – que deixariam de funcionar e precisavam ser substituídas –, e cobrava um valor pelo suposto serviço. Por meio do sistema de videomonitorameno, a Polícia Civil conseguiu traçar a rota do golpista e identificar as vítimas. Uma das câmeras registrou a placa do veículo usado por ele, o que permitiu descobrir que o homem era de Uberlândia (MG) e já havia sido preso por crimes semelhantes.

“Sem essas câmeras, numa situação dessa, talvez não teríamos nem a placa do carro ou descrição bem feita dessa pessoa, porque as vítimas são pessoas idosas, humildes”, afirma o delegado.

Símbolo de prevenção

Atualmente, Goiandira conta com 42 câmeras de segurança de alta tecnologia, entre elas, algumas equipadas com inteligência artificial. Os equipamentos são capazes de realizar leitura de placas de veículos e até mesmo facial.

O comandante do 9º Comando Regional da Polícia Militar, tenente-coronel Henrique Stefli de Souza, responsável pelo sistema de segurança em 16 municípios e quatro unidades militares, explica que Goiandira se tornou exemplo, o que incentivou outras cidades a implantar o sistema de monitoramento.

Hoje, dez municípios e dois distritos já estão interligados ao 2º Centro Integrado de Inteligência, Comando e Controle (CCI), com sede em Catalão. O CCI conta com mais de 1,7 mil câmeras instaladas em ruas, escolas e unidades básicas de saúde, todas conectadas por meio de fibra óptica.

Stefli explica que esse conjunto de cidades interligadas forma um cerco digital que cobre cerca de 70% da região.

“Há dois anos e três meses, foi registrado um sequestro. Graças às câmeras, oito horas após o crime estouramos o cativeiro em Minas Gerais, libertamos as vítimas, recuperamos o veículo em Mato Grosso do Sul, quase chegando no Paraguai. Apresentamos os autores em Catalão”, conta o comandante.

Auxílio da inteligência artificial

Responsável pela implantação e funcionamento do CCI, o CEO Jorge Marra explica que atualmente o videomonitoramento conta ainda com o apoio da inteligência artificial integrada, capaz de ampliar a precisão e a eficiência no monitoramento.

“Os equipamentos passaram por um processo de modernização ao longo de oito anos. Primeiramente, a leitura de placas; depois, o reconhecimento facial; na sequência, reconhecimento comportamental e, por último, a inteligência artificial (IA)”, enfatiza o gestor.

 

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