Mulher é presa por suspeita de envolvimento em roubo à Biblioteca Mário de Andrade
Obras de Henri Matisse e Candido Portinari ainda não foram recuperadas; outras duas pessoas seguem detidas pelo crime em São Paulo.
A mulher de 38 anos foi presa temporariamente pela 1ª Central Especializada de Repressão a Crimes e Ocorrências Diversas (Cerco) por suspeita de envolvimento no roubo à biblioteca Mário de Andrade no dia 7 de dezembro. Outros dois envolvidos seguem detidos.
Ao DE, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo afirma que as investigações do caso seguem em andamento.
As oito gravuras de Henri Matiss, do álbum ‘Jazz’, e as cinco gravuras de Candido Portinari, da obra “Menino de Engenho”, levadas pelos criminosos, ainda não foram recuperadas.
PRESOS
Um homem suspeito de ter participado do assalto na Biblioteca Mário de Andrade, no Centro de SP, foi preso na última quinta-feira (18), na capital paulista.
Segundo as investigações, ele seria um dos responsáveis pela fuga da dupla que entrou na biblioteca e roubou as 13 obras.
Luís do Carmo, que tem o apelido de Magrão, foi identificado por meio das câmeras do Smart Sampa. Segundo a polícia, ele apareceu caminhando ao lado de um dos suspeitos presos, Felipe Quadra, que segura as obras roubadas, o que permitiu a individualização de sua participação no crime.
Felipe dos Santos Fernandes Quadra, de 31 anos, foi preso no dia 8 de dezembro em uma casa na Mooca, na Zona Leste da capital. A Secretaria da Segurança Pública informou na quarta-feira (17) ao DE que, na audiência de custódia, a Justiça determinou a manutenção da prisão dele.
Já o segundo suspeito de entrar no local, que foi identificado, ainda segue sendo procurado. O nome dele não foi divulgado.
RELEMBRE O CASO
A Biblioteca Mário de Andrade é considerada a segunda maior biblioteca do país e a maior biblioteca pública da cidade de São Paulo. Dois homens armados invadiram o local e fugiram com as gravuras de Henri Matisse e de Candido Portinari, que eram pertencentes à exposição “Do livro ao museu: MAM São Paulo e a Biblioteca Mário de Andrade”.
Os ladrões renderam uma vigilante e um casal de idosos que visitava o local na manhã de 7 de dezembro, um domingo. Em seguida, ambos seguiram até a cúpula de vidro, onde colocaram documentos e oito quadros em uma sacola de lona, e fugiram pela saída principal.
Conforme a SSP, vigilantes correram para pedir ajuda a policiais militares que patrulhavam a região, mas os suspeitos não foram localizados.
FURTO, FALSIFICAÇÃO E RESGATE INTERNACIONAL
As oito gravuras de Henri Matisse roubadas da Biblioteca Mário de Andrade na manhã do último domingo (7), em São Paulo, e que integram o álbum “Jazz”, de 1947, já foram furtadas, falsificadas e recuperadas pela Polícia Federal na Argentina.
O DE apurou que há cerca de 20 anos, entre 2004 e 2006, o álbum de Matisse foi levado da Mário de Andrade por um funcionário sem que ninguém percebesse, enquanto era realizada uma reforma no local.
A obra, então, chegou a ser substituída pelo ladrão por uma versão falsa que circulou sem ser identificada até que a Polícia Federal conseguiu ter acesso às pranchas originais em Puerto Iguazú, na Argentina, em 2011.
O Jornal Nacional noticiou a apreensão das obras pela PF na Argentina. Na época, o delegado Fábio Scliar informou que foi enviado à cidade argentina para trazer de volta um lote de livros dos séculos 17 e 18 e gravuras de Matisse que tinham sido roubadas cinco anos antes em instituições brasileiras e que estavam com as autoridades argentinas depois que foram encontradas na fronteira.
Foi a investigação da Polícia Federal que revelou a dimensão da fraude envolvendo as gravuras de Matisse, o que desencadeou uma batalha pela restituição do material. O álbum “Jazz” ficou no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, por quatro anos, retornando para a Biblioteca Mário de Andrade em agosto de 2015, quando se conseguiu provar que o espaço contava com a segurança necessária.
A “Folha de S.Paulo” chegou a noticiar o retorno do álbum para a Mário de Andrade com a manchete: “O álbum furtado de Matisse será devolvido à biblioteca”. A reportagem cita, inclusive, que a PF e o Ministério Público Federal “relutavam em devolver o álbum”.
Ao DE, o ex-diretor da Biblioteca Mário de Andrade, o professor da USP Luiz Armando Bagolin, responsável por trazer novamente a obra de Matisse a São Paulo, contou sobre o episódio emblemático envolvendo “Jazz”. Ele diz que, assim que assumiu a gestão da biblioteca, foi informado sobre o desaparecimento das gravuras e da apreensão feita pela polícia.
RETORNO DAS OBRAS PARA SÃO PAULO
Após negociações judiciais, o álbum original voltou à Biblioteca Mário de Andrade em 2015. “Eu fui ao Rio e retornei com o álbum. Tem matéria que mostra eu com as obras. Elas estavam seguras, e ficaram seguras até agora, por dez anos”, afirmou.
Sobre o roubo recente, Bagolin diz ter ficado em choque. “Tive que tomar um remédio extra para a pressão. Minha primeira reação foi achar que era fake news. Mas depois caiu a ficha”, relatou.
Para ele, o caso expõe falhas de segurança que vão além da biblioteca. “Eu acredito no serviço público. É possível fazer um trabalho de alto nível. Mas uma pessoa entrar armada na biblioteca e não ter ninguém do lado de fora é um absurdo. Não é o roubo em si do Matisse: é terem profanado um local que é a Mário de Andrade, na Rua da Consolação, a 200 metros da prefeitura. Ninguém saiu atrás dos ladrões. Tem alguma coisa muito errada”, ressaltou.
Procurada, a Secretaria da Cultura informou que “o furto de gravuras de Henri Matisse foi investigado pelas autoridades de segurança competentes, resultando na recuperação das obras em 2011. O funcionário citado, que atuava como estagiário na instituição à época, foi desligado”.
A Secretaria acrescentou ainda que, “atualmente, a Biblioteca Mário de Andrade conta com um sistema de segurança estruturado e permanentemente monitorado, com 84 vigilantes distribuídos entre o prédio-sede e a Hemeroteca, além de 24 câmeras operantes”.
No caso da exposição “Do livro ao museu: MAM São Paulo e a Biblioteca Mário de Andrade”, a pasta disse que ela “estava integralmente coberta por seguro do tipo ‘All Risks’, modalidade que representa o nível máximo de proteção disponível no mercado, concedida após criteriosa análise de segurança do local expositivo”.
Quanto ao roubo das obras de arte de Candido Portinari e Henri Matisse, a Interpol foi acionada para auxiliar nas investigações.
QUEM SÃO OS ARTISTAS DAS OBRAS ROUBADAS?
Candido Portinari foi um artista plástico brasileiro, considerado um dos mais importantes pintores brasileiros de todos os tempos, sendo o que mais alcançou projeção internacional. Henri Matisse foi pintor, escultor, desenhista e gravurista, considerado um dos maiores nomes da arte moderna, conhecido por liderar o Fauvismo. Ambos os artistas tiveram suas obras roubadas da Biblioteca Mário de Andrade em São Paulo.




