A “química” entre Trump e Lula trouxe bons resultados iniciais para ambos. O presidente dos Estados Unidos recuou do tarifaço de 50%, mantendo apenas a “tarifa recíproca” de 10% para a maior parte das commodities exportadas para os EUA pelo Brasil, aliviando a inflação e a falta de produtos que estavam provocando estragos na popularidade. Lula pode comemorar o êxito na política de buscar negociar de cabeça erguida. O recuo de Trump beneficiou especialmente o agronegócio e representou uma derrota para a família Bolsonaro. O Brasil pouco sofreu com o tarifaço e buscou outros mercados, mostrando certo poder e independência. Só que agora é preciso que as negociações avancem. Trump está confortável com suas conquistas, e os EUA vão empilhando superávits em cima de superávits no comércio de bens com o Brasil (noves fora o de serviços). Segundo a FGV, o déficit comercial brasileiro com os Estados Unidos passou de US$ 800 milhões (acumulado em 2024 até novembro) para US$ 7,9 bilhões (acumulado no mesmo período em 2025). Continuam sofrendo com o tarifaço alguns segmentos do setor de alimentos, de produtos básicos e de manufaturados. As perdas de 15 dos 21 setores atingidos pelo tarifaço que não conseguiram ser compensadas com vendas em outros mercados somaram US$ 1,2 bilhão. Química à parte, o presidente Lula precisa ser mais incisivo em sua negociação com Trump. O que deu certo, em um primeiro momento, foi estabelecer uma posição de independência. Até por questão estratégica para as eleições de 2026, é necessário fortalecer este aspecto e, se o acerto não avançar, tomar atitudes mais duras na relação. É certo que o momento, com Trump ameaçando a Venezuela e colocando toda a América Latina na mira dos EUA, é delicado. Mas não será com timidez que a batalha será ganha.




