Nova era no Reino Unido: Rei Charles III é coroado após 70 anos de espera

O rei Charles III foi coroado neste sábado, 6, após 70 anos de espera, iniciando uma nova era no Reino Unido. A cerimônia aconteceu na Abadia de Westminster, em Londres, e começou pontualmente às 7h (horário de Brasília). Durante duas horas, 2,2 mil convidados acompanharam os ritos milenares da monarquia britânica.

O serviço na abadia foi seguido de um desfile militar, o maior do país em 70 anos. Cerca de 4 mil pessoas marcharam em homenagem ao novo rei, inclusive, membros da família real britânica também participaram da homenagem.

Na frente de uma multidão, o rei e a rainha apareceram na bancada do Palácio de Buckingham. O público aplaudiu e gritou o nome do antigo príncipe. Os membros da família real que trabalham para a Coroa também acompanharam Charles e Camilla. Aviões militares fizeram um desfile em homenagem à investidura de Charles.

A primeira-dama dos Estados Unidos, Jill Biden, e o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), foram algumas das pessoas presentes na abadia. Entre os famosos, estavam os cantores Lionel Richie e Katy Perry. O editor-chefe da Vogue Britânica, Edward Enninful, também prestigiou o evento.

O filho caçula do rei, príncipe Harry, estava entre os convidados, mas não teve nenhum papel oficial no evento. Meghan Markle não acompanhou o marido, que participou apenas da cerimônia dentro da Abadia de Westminster. Nos últimos meses, o duque de Sussex lançou um livro e um documentário, além de ter dado uma série de entrevistas criticando o pai, Charles, a madrasta, Camilla, o irmão, William e a cunhada, Catherine.

O evento, que durou quatro horas, foi mais curto e menor que o da rainha Elizabeth II, em 1953. Comparado com a coroação da mãe de Charles, o Palácio de Buckinham diminuiu pela metade o número de convidados.

Em nome da sustentabilidade e dos “novos tempos”, o monarca e a rainha Camilla optaram ainda por usar joias, roupas e móveis confeccionados para a investidura dos seus antecessores com o objetivo de economizar e preservar o meio ambiente.

Além disso, o rei tentou mostrar durante a cerimônia uma monarquia mais diversa. Pela primeira vez na história, por exemplo, participaram da coroação bispas e membros de outras religiões. O público presente também pode fazer um juramento, antes dito apenas pelos duques. Alguns momentos considerados sagrados, como a unção da rainha consorte, foram televisionados de maneira inédita.

O monarca pediu ainda que a cerimônia fosse realizada em outras línguas, não apenas em inglês. Passagens religiosas da cerimônia foram lidas em galês, gaélico escocês e gaélico irlandês. Charles enfrenta um crescente movimento republicano dentro do Reino Unido, principalmente na Irlanda do Norte.

A cerimônia

Charles e a rainha Camilla entraram na Abadia de Westminster pontualmente às 7h. O percurso entre o Palácio de Buckingham e a igreja demorou 40 minutos. O casal completou o trajeto dentro da Carruagem de Estado do Jubileu de Diamante.

Após a Procissão do Rei e da Rainha pelas ruas de Londres, começou um novo cortejo até o altar da abadia. Líderes e representantes religiosos entraram na frente e, depois, os primeiros-ministros ou governadores-gerais dos reinos de Charles III. O primeiro-ministro inglês, Rishi Sunak, fez o cortejo ao lado de sua esposa, Akshata Murty.

Eles foram seguidos pela procissão composta por duques, marqueses e condes. O grupo carregou os símbolos importantes para os reinos e também as regalias usadas na cerimônia: coroas, cetros, hastes, orbe, espadas, esporas e anéis. Os itens simbolizam o serviço e as responsabilidades do monarca. O general Gordon Messenger entrou na Abadia de Westminster segurando a coroa St Edward, a mais importante da cerimônia.

Charles e Camilla cruzaram a abadia usando capas de Estado. O atual monarca escolheu a mesma peça confeccionada para o coroação de seu avô, o rei George VI, em 1937. O item usado por Camilla foi originalmente criado para a coroação da rainha Elizabeth II, em 1953. A capa precisou de alguns leves ajustes e consertos para ser desfilada novamente.

O casal escolheu seus respectivos netos para segurarem a capa na entrada da abadia. O príncipe George, terceiro na linha de sucessão, entrou na igreja atrás do rei. É a primeira vez que um herdeiro do trono britânico que ainda é criança teve um papel tão importante em uma coroação. Charles tinha apenas 4 anos, em 1953, quando a mãe ascendeu ao trono, mas não assistiu à cerimônia completa na Abadia de Westminster, e Elizabeth, que tinha 11 anos em 1937, participou apenas como ouvinte da investidura do pai.

O rei e a rainha começaram a cerimônia sentados nos Tronos de Estado. As peças foram confeccionadas para a coroação da rainha Elizabeth, em 1953. Artesãos restauraram os móveis para serem usados por Charles e Camilla: eles retiraram a madeira na base com as iniciais de Elizabeth e bordaram o brasão do atual monarca no veludo do encosto.

Após o casal se sentar, o arcebispo de Canterbury anunciou a presença do rei para a congregação. Depois de orações e cantos, Charles leu um juramento para os presentes e prometeu servir ao povo do Reino Unido.

A parte mais importante da cerimônia é chamada de “A Unção”. O deão de Westminster derramou na Colher da Coroação o óleo sagrado guardado na Ampola Real. A unção de Charles foi reservada. Esse é considerado o momento sagrado entre o monarca e Deus, por isso, um dossel escondeu o soberano dos presentes e das câmeras para preservar a santidade do gesto. No momento secreto, o arcebispo passou o líquido nas mãos, peitos e cabeça do monarca enquanto fez uma oração.

O painel escolhido para proteger Charles durante o ato foi criado pelo artista Aidan Hart. O desenho central é uma árvore e cada folha representa os 56 países que fazem parte do Commonwealth. O cifrão do rei está posicionado no pé do tronco e simboliza o papel do monarca em servir o seu povo. O design escolhido pelo rei é inspirado nos vitrais da Capela Real do Palácio de St James.

Durante a cerimônia, os três lados do dossel foram segurados por militares que fazem parte da segurança do rei Charles e por membros das guardas dos países do Reino Unido.

Depois da unção, aconteceu a cerimônia de investidura. O arcebispo de Canterbury ofereceu as regalias ao monarca que, em seguida, foram posicionadas em cima do altar. Antes de começar o rito, Charles vestiu o Colobium Sindonis, uma túnica de linho branca. O rei escolheu a mesma peça do seu avô materno, o rei George VI. Por cima da camisola, o monarca colocou a Supertúnica Dourada, criada em 1911 para a coroação do rei George V.

Para adornar as vestes, Charles escolheu o Cinto da Coroação – também usado pelo seu avô materno – para guardar a Espada do Monarca, que representa a proteção dos bons e a punição do mal.

Em um momento esperado da cerimônia, William, o príncipe de Gales, ajudou o pai a se vestir com o Manto Imperial, costurado em 1821 para a coroção do rei George IV. Por fim, o rei vestiu a Luva da Coração na mão direita, a mesma usada por seu avô.

Durante a unção e a investidura, Charles vai sentou-se no Trono de St. Edward. A cadeira de 700 anos foi usada pela primeira vez na coroação do rei Edward II. A peça foi criada para guardar a Pedra da Coroação, que foi retirada da Escócia em 1296 e utilizada em 38 cerimônias do tipo.

O arcebispo, então, faz uma oração e coloca a coroa de St Edward na cabeça do rei. A joia pesa 2,07 kg e foi confeccionada para a coroação do rei Charles I, em 1661. Após o momento, todos gritaram: “Deus, salve o rei”. Os sinos da igreja tocaram por dois minutos e depois escutou-se uma saudação de tiros de diversos regimentos militares diferentes.

Após a coroação, o príncipe William se ajoelhou em frente ao pai e disse: “Eu, William, príncipe de Gales, juro a minha lealdade a você”. O momento é chamado de Homenagem do Sangue Real e imita o mesmo gesto feito pelo príncipe Phillip à rainha Elizabeth na coroação dela. O herdeiro beijou a bochecha do pai, assim como o avô dele fez em 1953 com a monarca. Charles prontamente respondeu: “Obrigada, William”

Charles fez uma modificação significativa na parte seguinte da cerimônia. Nas coroações anteriores, os duques do Reino Unido se juntavam para representar o povo e prometiam fidelidade ao rei. Agora, os presentes e as pessoas assistindo pela televisão foram convidados a fazer o juramento. Especula-se que o rei mudou o rito porque está brigado com o filho caçula, Harry, que é o duque de Sussex; e o irmão Andrew, o duque de York, acusado de pedofilia.

Em seguida, Camilla foi coroada. O arcebispo realizou a unção de Camilla na frente de todos os presentes na congregação. Esse momento nunca havia sido televisionado. “Isso mostra como a cerimônia evoluiu e foi simplificada sem perder a magia e a majestade”, informou o Palácio de Buckingham em nota.

A rainha recebeu ainda um anel que representa o compromisso dela como consorte do rei e com a população do Reino Unido. Por fim, a rainha foi coroada com a joia criada para a investidura da rainha Mary, em 1911. Ela foi reformada e os joalheiros reais colocaram diamantes que fazem parte do acervo da rainha Elizabeth. É a primeira vez que uma consorte não ganha uma peça confeccionada com exclusividade.

Após a cerimônia de Camilla, uma série de orações e cantos foram entoados pelos presentes e por corais. O rei e a rainha comungaram.

Para sair da abadia, Charles e Camilla vestiram a Capa de Propriedade. O atual monarca escolheu a mesma peça confeccionada para o coroação de seu avô materno, o rei George VI, em 1937. Camilla, entretanto, participou do cortejo final com uma peça nova bordada com seu brasão e as flores favoritas de Charles.

Charles colocou a Coroa de Estado Imperial, confeccionada para George VI com o objetivo de substituir a coroa da rainha Victoria. Ele segurou com as mãos o Cetro com a Cruz e o Orbe, que representam boa governança e o poder do rei.

Depois da cerimônia, o cortejo voltou até o Palácio de Buckingham e seguiu o mesmo trajeto de ida, mas em uma escala muito maior. Essa parte da cerimônia é chamada de Procissão da Coroação e durou meia hora. Se juntaram ao grupo membros da família real e militares das Forças Armadas do Reino Unido; de países do Commonwealth; e de outros territórios britânicos.

O rei Charles III e a rainha Camilla completaram o trajeto na Carruagem de Estado de Ouro. O veículo foi visto pela última vez no Jubileu de Platina da rainha Elizabeth II, em junho de 2022. A peça foi encomendada em 1760 e usada pela primeira vez pelo rei George III para a abertura do Parlamento, em 1762. A carruagem participou de todas as coroações desde William IV, em 1831.

A carruagem foi puxada por oito cavalos da raça Windsor Grey. O veículo pesa 4 toneladas e, por isso, o cortejo andou em um ritmo de caminhada. Quando chegar ao Palácio de Buckingham, o rei recebeu a Saudação Real das Forças Armadas do Reino Unido e dos países da Commonwealth. O momento foi seguido de três “vivas” do cortejo.

As cerimônias oficiais vão ser encerradas com a aparição do rei e da rainha acompanhados de alguns membros da família real na varanda do Palácio de Buckingham. Às 14h30 horário local (10h horário de Brasília), as Forças Armadas da Coroação vão passar de avião em cima do Palácio de Buckingham. A execução dessa última parte da cerimônia depende da previsão do tempo.

O que está em jogo

O rei Charles III é coroado em meio a muita desconfiança, principalmente pela geração mais jovem. O monarca está sendo cobrado a reconhecer o papel da família real britânica na escravização de africanos e na colonização de centenas de países ao redor do mundo.

Ele também vai precisar se esforçar para manter os países da Commonwealth em seu reinado. Representantes da Jamaica, Austrália e Nova Zelândia já manifestaram interesse em retirar Charles do posto de chefe de Estado de seus países, e alguns primeiros-ministros e governadores-gerais devem convocar referendos sobre o assunto nos próximos anos.

Apesar das pressões, Charles está conseguindo espalhar o espírito monarquista pelo país durante a semana de coroação. As cidades do Reino Unido estão decoradas com bandeiras para a data, e as ruas de Londres estão tomadas de pessoas querendo ver o rei e a rainha durante as procissões. Com o objetivo de preparar os ingleses, o Palácio de Buckingham já divulgou a maioria dos detalhes da coroação do rei Charles III, que tem como base ritos milenares.

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BYD cancela contrato com empreiteira após polêmica por trabalho escravo

Na noite de segunda-feira, 23, a filial brasileira da montadora BYD anunciou a rescisão do contrato com a empresa terceirizada Jinjiang Construction Brazil Ltda., responsável pela construção da fábrica de carros elétricos em Camaçari, na Bahia. A decisão veio após o resgate de 163 operários chineses que trabalhavam em condições análogas à escravidão.

As obras, que incluem a construção da maior fábrica de carros elétricos da BYD fora da Ásia, foram parcialmente suspensas por determinação do Ministério Público do Trabalho (MPT) da Bahia. Desde novembro, o MPT, juntamente com outras agências governamentais, realizou verificações que identificaram as graves irregularidades na empresa terceirizada Jinjiang.

Força-tarefa

Uma força-tarefa composta pelo MPT, Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Defensoria Pública da União (DPU) e Polícia Rodoviária Federal (PRF), além do Ministério Público Federal (MPF) e Polícia Federal (PF), resgatou os 163 trabalhadores e interditou os trechos da obra sob responsabilidade da Jinjiang.

A BYD Auto do Brasil afirmou que “não tolera o desrespeito à dignidade humana” e transferiu os 163 trabalhadores para hotéis da região. A empresa reiterou seu compromisso com o cumprimento integral da legislação brasileira, especialmente no que se refere à proteção dos direitos dos trabalhadores.

Uma audiência foi marcada para esta quinta-feira, 26, para que a BYD e a Jinjiang apresentem as providências necessárias à garantia das condições mínimas de alojamento e negociem as condições para a regularização geral do que já foi detectado.

O Ministério das Relações Exteriores da China afirmou que sua embaixada e consulados no Brasil estão em contato com as autoridades brasileiras para verificar a situação e administrá-la da maneira adequada. A porta-voz da diplomacia chinesa, Mao Ning, em Pequim, destacou que o governo chinês sempre deu a maior importância à proteção dos direitos legítimos e aos interesses dos trabalhadores, pedindo às empresas chinesas que cumpram a lei e as normas.

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