O câncer colorretal, que afeta o cólon e o reto, representa uma parcela significativa das neoplasias malignas no Brasil, sendo uma das principais causas de morte por câncer no país. Com cerca de 42 mil novos casos anuais, é uma preocupação crescente, especialmente considerando que sua incidência entre os mais jovens tem aumentado.
Estudos indicam que aproximadamente 5% da população enfrentará esse tipo de câncer em algum momento de suas vidas. Gabriel Felipe Santiago, médico oncologista clínico do Centro de Oncologia IHG, destaca que cerca de dois terços dos tumores se desenvolvem no cólon, enquanto um terço tem origem no reto. Além disso, a doença afeta homens e mulheres em proporções semelhantes, geralmente manifestando-se após os 65 anos de idade.
No entanto, houve um aumento significativo de casos entre os jovens, com o câncer colorretal em pessoas com menos de 50 anos dobrando entre 1993 e 2013, um fenômeno que tem chamado a atenção dos especialistas.
Obesidade e câncer colorretal
A obesidade emerge como um relevante fator de risco modificável para o câncer, posicionando-se logo após o tabagismo nesse aspecto. Esse dado tem capturado a atenção dos profissionais de saúde. Gabriel Santiago destaca que a associação entre excesso de peso e obesidade com o surgimento de câncer é estimada em 7,8%.
Segundo o especialista, o acúmulo de gordura corporal desencadeia uma inflamação crônica no organismo, elevando os níveis de hormônios que estimulam o crescimento desregulado de células cancerígenas. Dessa forma, ressalta-se a importância do controle do peso, uma vez que a obesidade amplifica as chances de desenvolvimento de diversos tipos de câncer.
No Brasil, o Instituto Nacional de Câncer (INCA) prevê 704 mil novos casos da doença entre 2023 e 2025, com uma ênfase particular nos tumores de mama, próstata, intestino e pulmão. Gabriel Santiago destaca que os tipos de câncer associados à obesidade incluem tumores de mama (especialmente em mulheres na pós-menopausa), endométrio, próstata e intestino (cólon e reto).
Sabe-se ainda que pacientes que ganham peso após o diagnóstico de câncer apresentam um risco aumentado de recidiva ou persistência da doença. Por outro lado, estudos indicam que a prática de atividade física, a perda de peso e a adoção de dietas adequadas durante e após a quimioterapia contribuem para uma melhor sobrevida livre de doença.
Março Azul Marinho
Uma campanha de alcance nacional, unindo entidades especializadas, profissionais médicos, clínicas de todo o país e a população em geral, dedicou o mês de março à conscientização e prevenção do câncer colorretal.
O propósito dessa iniciativa é promover o diagnóstico precoce e o tratamento eficaz dessa forma de câncer nos estágios iniciais, por meio de estratégias de prevenção primária e secundária. Gabriel Santiago destaca que o câncer colorretal, afetando o intestino grosso e o reto, figura entre os tumores malignos mais comuns e letais globalmente.
Identificar o câncer colorretal em seus estágios iniciais oferece ao paciente uma chance significativa de superar a doença. “O câncer de intestino é um dos poucos que pode ser rastreado e, quando detectado precocemente, tem sobrevida em cinco anos de 95%”, enfatiza Santiago.
Segundo o especialista, os padrões alimentares desempenham um papel crucial no aumento da incidência do câncer colorretal. O consumo excessivo de carne vermelha, gordura animal, alimentos processados como bacon e salsicha, juntamente com o hábito de consumir bebidas alcoólicas, tabagismo e um estilo de vida sedentário, são identificados como fatores de risco para o desenvolvimento dessa doença.
Sintomas e Diagnóstico
O oncologista destaca sinais de alerta, incluindo perda de peso inexplicada, alternância entre diarreia e prisão de ventre, presença de sangue e muco nas fezes, bem como irregularidades intestinais. No entanto, esses sintomas podem ser comuns em condições como infecções intestinais, hemorroidas, intoxicação alimentar e fissuras anais. Gabriel Santiago ressalta que se esses sintomas persistirem por mais de um mês, especialmente acompanhados de anemia e inchaço abdominal, é crucial consultar um gastroenterologista ou clínico geral, especialmente se existirem fatores de risco.
O diagnóstico pode ser realizado por meio de diversos exames, como colonoscopia, que utiliza um dispositivo com câmera para capturar imagens do intestino, retossigmoidoscopia, focada em uma porção específica do intestino, e colonografia ou colonoscopia virtual, indicadas em casos específicos, como dificuldades respiratórias ou problemas de coagulação que impeçam a colonoscopia tradicional. O oncologista também alerta para a possibilidade de detecção da doença através de exames de fezes para sangue oculto positivo.
Tratamento
O tratamento do câncer colorretal, conforme Gabriel Santiago, é determinado pela localização e extensão do tumor, podendo incluir cirurgia, quimioterapia e radioterapia em casos de metástase. A cirurgia geralmente é a primeira opção para o tratamento inicial, sendo essencial um acompanhamento médico para detectar recorrências ou novos tumores. “Prestar atenção aos sinais que o corpo demonstra é crucial, evitando que os tumores malignos se espalhem para outros órgãos”, destaca o especialista.
Existem também opções de quimioterapia antes ou após a cirurgia, além de anticorpos monoclonais, que são usados em combinação com a quimioterapia para aumentar sua eficácia no tratamento de estágios avançados da doença. Recentemente, a imunoterapia também tem sido empregada no tratamento avançado do câncer colorretal.
Fim da Bolsa de Colostomia
O câncer de reto apresenta desafios significativos no tratamento, muitas vezes exigindo a colocação de uma bolsa de colostomia permanente. Isso ocorre porque os tumores localizados no reto baixo frequentemente requerem cirurgia.
No entanto, uma nova abordagem, conhecida como terapia neoadjuvante total (TNT), tem proporcionado taxas mais altas de preservação do reto, reduzindo assim a necessidade da bolsa de colostomia permanente. Gabriel Santiago explica que o tratamento convencional geralmente envolve radioterapia e quimioterapia seguidas de cirurgia e quimioterapia pós-operatória. Com a terapia neoadjuvante total, uma combinação de radioterapia e quimioterapia é administrada, seguida por uma carga mais intensa de quimioterapia. Dependendo da resposta do paciente, a cirurgia para remoção do reto pode não ser necessária.
Essa nova abordagem, segundo Santiago, tem um impacto significativo na qualidade de vida do paciente, pois evita a necessidade da bolsa de colostomia. Ele ressalta que essa técnica já é autorizada pelos planos de saúde e está sendo adotada em diversos centros de tratamento oncológico do SUS, proporcionando uma melhor qualidade de vida ao mesmo tempo em que controla a doença, especialmente nos casos de tumores do reto baixo.