Os homens ainda são a ampla maioria dos empreendedores goianos, tanto entre os que geram empregos, quanto em relação aos que trabalham por conta própria. No estado, apenas 35% dos negócios são de mulheres contra 65% geridos por eles. Na pandemia, o número de mulheres que empregam outras pessoas caiu 30,5% e o de homens teve queda menor: 12,4%. Os dados comparam os anos de 2019 e 2020 e são do estudo Perfil da empreendedora goiana: o empreendedorismo por mulheres, divulgado recentemente, feito pelo Sebrae Goiás em parceria com a Universidade Federal de Goiás (UFG).
Por outro lado, o empreendedorismo feminino vem mantendo crescimento constante em Goiás, desde a década de 1980. Entre as mais de 330 mil empreendedoras goianas, está a estilista Naya Violeta, que criou o ateliê com seu próprio nome, há sete anos. Ela tem 32 anos de idade, nasceu em Goiânia e foi criada em Goianira. Como afro-empreendedora, sua proposta é criar peças que representem a cultura negra, com inspirações no Candomblé, por exemplo.
“A essência e a história do povo negro vêm sendo socialmente apagadas. Fomos ensinados, nos livros de história, sobre o sofrimento e a escravidão, mas tem muito da cultura negra que não ensinaram pra gente. Fiz a marca porque não via corpos negros sendo representados no mercado. O vestir está atrelado ao político, a contar a narrativa negra na estética, beleza e construção visual”, explica.
Ano passado, Naya Violeta foi a primeira marca goiana a desfilar na passarela da São Paulo Fashion Week e, agora, se prepara para participar pela terceira vez. Peças que estiveram no maior evento de moda da América Latina chegam a ser comercializadas por R$ 600,00, mas Naya se preocupa também em oferecer produtos mais acessíveis, como cadernos, a partir de R$ 30,00. Com a pandemia, se viu diante do desafio de transformar seu atendimento, tipicamente feito com café e boa conversa com clientes, em um processo digital, sem perder o aconchego. Encontrou este caminho ao criar um site para a marca.
No ateliê, Naya emprega formalmente uma pessoa e outras dez de maneira informal. Em Goiás, apenas 3,2% das mulheres que empreendem e empregam outras pessoas se consideram pretas. Do total, 43,1% são pardas e 49,3% brancas, segundo a pesquisa do Sebrae com a UFG.
Negócios que surgiram na pandemia
Apesar do recuo no número de empreendedoras que empregam outras pessoas, mais mulheres passaram a trabalhar por conta própria na pandemia. Ainda assim, o aumento foi tímido: 0,87%. Suellen Ramos Gouveia, 39 anos, nascida em Jataí, é uma das faces deste número. Nesta semana, comemora um ano da Audera Conecta, sua agência de comunicação e marketing, que conecta marcas a seus públicos, por meio de branding e experiência de marca, em Goiânia. Ano passado, pediu demissão na empresa onde trabalhava como gerente e decidiu tirar do papel a vontade de empreender.
“Os desafios do empreendedorismo feminino são inúmeros. Ser mulher, por si só, já nos traz carga maior de pressão e responsabilidade. Mas tenho um pensamento comigo de que se esperarmos as condições ideais e tudo estar fluindo, nunca vamos fazer”, comenta.
Um ano depois de abrir o negócio, Suellen percebe o mercado mais aquecido e receptivo, com sinais de recuperação do período complexo da pandemia. “A retomada de fato está vindo, as pessoas estão mais confiantes. Até o ano passado, o processo era mais tímido. O Sebrae ajudou muito nessa caminhada também”, relata.
Hoje, a empreendedora conta estar feliz com a escolha e garante que não há momento ideal para tomar esta decisão. “Vai e faz, é o que eu diria para a mulher que quer empreender. Precisa ir com cautela, com pezinho no chão, mas precisa fazer, com confiança. Temos que confiar na nossa história”, afirma.
Empreendedoras lucram menos do que empreendedores
Apesar de seguirem estudando mais e do crescimento historicamente constante, as mulheres empreendedoras ainda têm rendimentos menores que os dos homens. A pesquisa indica que entre os empreendedores que empregam outros funcionários, em média, as mulheres lucram R$ 4,3 mil enquanto os homens ganham R$ 5,9 mil. Entre os que trabalham por contra própria, os rendimentos médios são de R$ 1,3 mil para elas e R$ 1,8 mil para eles.
Apesar de percalços como este, a analista técnica e gestora do projeto Sebrae de Empreendedorismo Feminino (Sebrae Delas), Vera Lúcia Elias de Oliveira, aponta que a pesquisa evidenciou mais confiança das mulheres sobre a ideia de empreender.
“No estudo, 75% das mulheres já dizem que não têm receio de que a sociedade não as reconheça como empreendedoras. Isto é muito positivo porque a mulher empreender é algo recente. Só em 1962 elas passaram a ter a possibilidade de abrir seus próprios negócios. Antes disso, havia o Estatuto da Mulher Casada, determinando que a mulher não tinha direito de ter CPF e que só poderia ocupar cargo público com aval do pai ou marido”, pontua.
No projeto Sebrae Delas, as mulheres podem buscar apoio para dar os primeiros passos para se tornarem empreendedoras. “Damos suporte para que tenham sucesso em seus empreendimentos. Também é importante buscar conhecimento e autoconhecimento porque, quanto menos você se conhece, maior é o risco de empreender”, conclui a analista do Sebrae.