O Brasil da informalidade cresce a cada dia

Cidades lotadas de desempregados, sem estudo, pouco capacitados e vivendo de biscates e pequenos serviços, alguns vendendo algo para sobreviver e, uns tantos dependendo da mulher para sustentar. Esse um quadro comum na maioria das cidades brasileiras. Pequenas ou grande, capitais e ou distritos. Não importa onde, não importa se tem um representante político que saiu dali e está em uma Assembleia Legislativa ou Congresso Nacional.

O Brasil tem mais pessoas na informalidade, longe dos poucos postos de trabalho oficiais do que se pensa.

A legião de invisíveis é enorme e aumenta a cada dia. No entanto, ainda é possível contar com mãos bondosas que sempre se estendem a quem precisa. Isso contando com as igrejas evangélicas, grupos espíritas, clubes de Lions e Rotary, os vicentinos e, em cada cidade, as secretarias de Ação Social (ou Desenvolvimento Social). Todas com suas campanhas de arrecadação e distribuição de Cestas Básicas aos necessitados.

Isso renderia até uma tese acadêmica de quantas famílias sobrevivem de ajuda. O número assustaria. Mas isso não é só para os desempregados. Os assalariados, aqueles que ganham um salário mínimo não conseguem cumprir o que prevê a Constituição Federal, de viver dignamente comprando alimentos, roupas e calçados, pagando os estudos dos filhos e o transporte, investindo em medicamento e no lazer.

Agora vem o ministro da Economia, Paulo Guedes, dizendo que lançará um programa social voltado aos trabalhadores informais afetados pela pandemia da Covid-19, o BIP (Bônus de Inclusão Produtiva), indicando que vai ajudar os cerca de 40 milhões de brasileiros considerados “invisíveis”, número (sub)estimado de trabalhadores informais no País.

Para o ministro, esses trabalhadores foram excluídos do mercado de trabalho formal por causa de uma legislação “obsoleta”, que ao mesmo tempo onera os empresários e remunera mal os empregados. Mas, na realidade, muitos abandonaram as escolas, migraram para a informalidade, contraíram famílias ainda jovens. Muitas mães, não têm, sequer, 17 anos de idade.

Mas este Brasil de invisíveis tem uma grande legião de pessoas subnutridas que não têm a iniciativa de criar uma horta no terreno baldio ao lado de sua casa, mas que vive reclamando que a prefeitura deixa o mato crescer. Afinal, este é o Brasil que queremos? Mais pessoas reclamando do que produzindo, ou dos que arregaçam as mangas e partem para o trabalho?

Gregório José
Jornalista/Radialista/Filósofo
Pós Graduado em Gestão Escolar

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A crise moral da nova geração de médicos

Médico com máscara.

Por: SARA ANDRADE

Uma jornalista jovem de classe média tem livre circulação nos ambientes frequentados por pessoas com histórias relativamente parecidas: vivendo dentro dos seus vinte anos, formando-se na faculdade e começando carreiras no mercado de trabalho. Nesta bolha, destaca-se a quantidade de moças e rapazes que optaram pelo estudo da medicina.

Estão aí para provar as estatísticas: de 2000 para 2020, o número destes profissionais no Brasil mais que dobrou, passando de 230 mil para meio milhão, segundo resultados do estudo “Demografia Médica no Brasil 2020”, liberado pelo Conselho Nacional de Medicina em parceria com a Universidade de São Paulo.

As milhares de entregas de canudo, tão comemoradas, foram responsáveis por alargar a média de médicos a cada mil habitantes no país: de 1,4 para 2,4, colocando o Brasil no mesmo patamar de nações como Japão ou Polônia, e apenas décimos atrás dos Estados Unidos, com média de 2,6. O que os números não podem mostrar, no entanto, são os pormenores deste fenômeno. Aqui vale o ponto de vista de uma jovem jornalista, e o cenário não é tão simples quanto parece.

A medicina sempre carregou consigo seu bocado de nobreza. Curar doenças, tirar a dor das pessoas, aumentar o tempo e a qualidade de vida: de fato, o jaleco branco pode ser uma espécie metafórica de batina, numa profissão quase sacerdotal, sagrada. Não seria falta de noção falar até em “amor ao próximo”. Muitos jovens estudantes parecem ter esta ideia romântica em mente: ajudar as pessoas através do trabalho de suas vidas. Não é só um emprego: torna-se missão e vocação.

Enquanto isso, outros estudantes de medicina parecem perdidos pelo caminho. Atenção: este é um questionamento aos que em breve serão médicos! Você está verdadeiramente preparado para abrir mão de si, dos seus desejos e caprichos, em prol de um desconhecido? Muitas vezes, seus pacientes serão “impacientes”, inoportunos e sem educação (até porque podem estar sob o efeito de grande dor).

Você pode não ser agradecido, nem reconhecido ou elogiado. Quem sabe até injustiçado. Pense consigo, você pode suportar? Você quer suportar? A sua escolha deve ser como em um casamento: o padre sempre avisa da riqueza e da pobreza, da saúde e da doença: quem diz sim, o diz para tudo.

Com o prestígio do ofício, vêm os abutres. Quantos não estão cursando medicina pelo status social, pelo dinheiro prometido, ou ainda apenas pela experiência da vida festeira de universitário? Tudo isso pode estar no pacote, caso o amor também se faça presente. Sem amor primeiro, é tudo vazio neste coração de doutor. Assim, a indagação martela nas mentes: como um universitário interesseiro e exibido, que nunca se doou a nada, nem a ninguém, pode ser um bom médico? De onde tirará o amor que tudo suporta, que persevera? Ninguém pode dar o que não tem.

Seria possível que um estudante qualquer de medicina, na condição de escravo de aprovação, de likes em redes sociais, incapaz de reconhecer o esforço da família para formá-lo, que só se importa em figurar bem para os amigos nos ambientes sociais… seria possível que disso saia altruísmo, doação e abnegação de si? Doar-se não é lá tão impossível e atos como arrumar a própria cama já são ótimos sinais de ordem interior. A disciplina, a sinceridade, a submissão aos superiores, tão necessárias no dia a dia do médico: tudo isso começa pequeno, mostrando-se no dia a dia do estudante.

Se você não sente obrigação nenhuma para com ninguém, se o mundo inteiro (seus amigos, pais) está sempre errado e você certo, ou se a culpa de seus fracassos, ou más ações, nunca é sua, pobre vítima… falta-te o principal para ser um bom médico: o amor. E este só vem com maturidade, com a compreensão de que sua vida não é para você se entupir de si mesmo, mas um presente ao mundo: ao tiozinho da esquina que sofre, à criança resfriada e à fofoqueira insuportável do bairro. Desse modo, seus dias ganharão um sentido maior.

Muitos reduzem o sucesso na vida ao sucesso profissional. Nada mais equivocado! Quantos não são fracassados com contas bancárias gordas? Isso acontece porque sucesso verdadeiro é ter personalidade, maturidade. E isso só se alcança com consciência moral, que diferencia bem e mal, e que gera noção de dever. Mas o que será de uma geração de jovens médicos que tem horror à própria ideia de moralidade? De ordem? Ou com uma dificuldade imensa de compreender a necessidade de regras, de ritos… Serão eles ricos? É possível. E também miseráveis, porque imaturos e sem personalidade. No fim, ninguém é feliz assim, ou cumpre seu chamado no mundo, sua vocação.

Aliás, o que levaria um jovem médico a doar-se por alguém? Sem sombra de dúvidas, a certeza da dignidade da vida humana, e o conhecimento da sua transcendência. Infelizmente, esta geração tem receio até mesmo de dizer que uma vida humana vale mais que a vida de um papagaio, ou de uma lesma. Como amar o humano, se não se sabe o que ele é, ou quanto vale? Ingênuo pensar que um estudante imaturo e incapaz de amar tornaria-se imediatamente amoroso e dedicado pelo toque mágico do diploma em suas mãos.

Essa dinâmica se aplica a todas as profissões, mas o médico deve ser o primeiro da fila a entender a vida. Porque muitas vezes, ela está em suas mãos. Um bom exemplo a guiar os novatos de consultório pode ser São Lucas. Médico, artista e historiador. Com uma vida inteira doada ao conhecimento da verdade humana. Que a paixão pela beleza da existência também inspire você a cada dia, jovem médico, e te leve ao amor maior. Especialmente neste dia 18, dia do médico e de São Lucas, padroeiro da honrosa missão de curar.

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