Cada vez mais, o termo “voto útil” vai se tornando comum no linguajar das Eleições 2022. Com utilização principalmente na campanha de Lula (PT) à presidência da República, o termo consiste em algo que sempre existiu, mas se intensificou neste ano. O Diário do Estado conversou com o professor e consultor de marketing político Marcos Marinho, a fim de entender melhor o mecanismo.
O voto útil nas Eleições
Nas Eleições 2022, a disputa presidencial está se polarizando entre Lula (PT) e Bolsonaro (PL), de acordo com as pesquisas. Levando em conta a margem de erro, há a possibilidade do petista vencer ainda no primeiro turno. Para evitar o segundo turno, a campanha do ex-presidente vem investindo na questão do voto útil, a fim de derrotar o adversário o mais rápido possível.
No entanto, o voto útil não é uma novidade das Eleições deste ano. De acordo com Marcos Marinho, ele sempre fez parte do processo de escolha dos eleitores menos politizados, que participam de um “efeito manada” atrás de ganhar o pleito, simbolicamente falando.
“É algo que sempre houve. Ele parte da percepção do leitor em não perder o voto. O eleitor entende que perder o voto é votar em quem ele acha que não vai ganhar, por conta de influência de pesquisa ou de uma percepção dele mesmo. Há uma parcela do eleitorado que entende o processo como um jogo de futebol. Ele quer estar do lado vencedor”, explica o professor.
Nas Eleições 2022, no entanto, o voto útil ganhou um novo significado. Nos últimos anos, criou-se a narrativa da “terceira via”, ou seja, os eleitores que se posicionam contra Lula e também contra Bolsonaro. A maior porcentagem de votos dessa parcela da população concentra-se em Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB).
A mudança de perfil
A estratégia da campanha de Lula é aproveitar a rejeição que os eleitores de Ciro e Tebet possuem em relação a Bolsonaro. O argumento é de que, se esses votantes escolherão Lula em um eventual segundo turno, a lógica diria para aproveitar o primeiro turno a fim de vencer um “mal maior” de uma vez.
“Há de se considerar uma articulação que puxa pelo pragmatismo do voto, e aí existe uma pequena diferença. […] Em 2018, isso foi tentado, mas não tão bem. Neste ano, há a perspectiva de não permitir um segundo turno entre Lula e Bolsonaro. Não está sendo simplesmente deixado para o eleitor achar quem vai ganhar. As forças estão bem massificantes para não votar em quem não tem condições de se eleger”, afirma Marcos Marinho.
Nas Eleições 2018, a estratégia não funcionou. De acordo com as pesquisas daquele ano, Fernando Haddad (PT) era um dos únicos candidatos que perderiam para Jair Bolsonaro em um possível segundo turno. Ciro, por exemplo, venceria o atual presidente naquele cenário.
Porém, por conta da força da campanha petista, que sempre foi poderosa, Ciro não teve força suficiente para superar esses obstáculos. A escolha de Haddad para representar o Partido dos Trabalhadores não foi o suficiente para bater Bolsonaro. Neste ano, por outro lado, segundo Marcos Marinho, há o “fator Lula”, que desde o ano passado vem se postando à frente de Bolsonaro.