Odete Roitman e Maria de Fátima: O fascínio pelas vilãs na teledramaturgia

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Por que Odete Roitman e Maria de Fátima são tão adoradas mesmo fazendo tantas atrocidades

Nas redes, posts com elogios às personagens viralizam, e elas ganham até perfis de homenagem.

Não foi à toa que a morte de Odete Roitman paralisou o Brasil — primeiro, em 1988, e agora em 2025. Reviravolta inesperada na trama, o assassinato envolve a maior vilã da nossa teledramaturgia. Ela é a vilã das vilãs: despreza a própria filha doente, humilha pobre, odeia brasileiro e só pensa em si. É odiada dentro e fora da novela. Mas é também amada ao nível de uma superstar.

Outro personagem marcante de “Vale Tudo”, Maria de Fátima busca ascensão social a qualquer custo: vende a casa da própria mãe, seduz um bilionário só por interesse e inventa diversas mentiras. Mas, assim como Odete, ela também tem fãs. Chamados de Fatymores no remake, seus admiradores existem para além da trama.

Tanto Odete quanto Fátima são personagens que o público ama odiar, mas também odeia amar. O remake deixou isso nítido: vários posts com elogios às personagens viralizam. Existem até perfis dedicados a elas.

O IMPACTO DE ODETE ROITMAN

Especialista em teledramaturgia, Nilson Xavier explica que a versão original de “Vale Tudo” mudou inclusive o conceito vilanesco das novelas. “Antes de Odete, as vilãs eram vistas como personagens questionáveis, que davam medo, mas não exerciam esse fascínio”, diz ele em entrevista ao DE.

Os bordões de Odete foram tão marcantes que, depois de “Vale Tudo”, frases de efeito se tornaram um elemento essencial para qualquer vilão carismático, afirma o pesquisador.

A interpretação do ator e o humor do personagem também são fatores essenciais. “Por exemplo, a Carminha era engraçada. O Marco Aurélio, de ‘Vale Tudo’, humilha seus subalternos, mas é cômico”, diz Nilson. “O Marco Aurélio do Alexandre Nero tem uns comportamentos que levam ao riso, e o Marco Aurélio do Reginaldo Faria também era assim.”

Ele também cita o Félix (Mateus Solano), de “Amor à Vida”. Mesmo após jogar uma bebê em uma caçamba de lixo, o vilão acabou conquistando o coração do público por sua faceta surpreendentemente divertida.

A ÍDOLA DOS FATYMORES

Em agosto, Bella disse ao site Omelete que Fátima é batalhadora e “também uma vítima do momento em que vivemos”, marcado por jovens que tentam mudar de vida sendo influenciadores digitais. “É por isso que tanta gente se identifica com ela”, afirmou Bella, ressaltando que reconhece suas atitudes perversas, no entanto.

Nilson, o especialista, afirma que Maria de Fátima flerta bastante com o vilanismo, mas se encaixa melhor no conceito de antagonista. “A premissa de ‘Vale Tudo’ é uma questão moral: vale a pena ser honesto no Brasil? Isso é construído a partir de um conflito entre mãe e filha.” Ou seja, a protagonista Raquel e a antagonista Fátima.

Segundo ele, a Fátima do remake também está “meio à deriva”, devido ao que seria uma diminuição do protagonismo de Raquel.

Já Mauro Alencar, autor de “A Hollywood Brasileira – Panorama da Telenovela no Brasil”, diz que a Fátima atual traduz muito bem a nova geração. Ele também afirma que a personagem de ambas versões é “muito mais vítima” do que vilã, já que não tem nenhum poder para mandar e desmandar como Odete.

O FASCÍNIO PELA VILANIA

Vilã, antagonista ou vítima, Fátima coleciona atrocidades. Mas os fãs dela, assim como os da Odete, não necessariamente defendem suas atitudes. “É uma catarse psicológica”, explica Mauro. Personagens como Fátima e Odete são sedutores. A vilania é, acima de tudo, charmosa.

Mesmo cometendo malvadezas, esse tipo de personagem encanta porque reflete desejos inconscientes de quem os assiste. É como se oferecesse um alívio à repressão de sentimentos.

Isso não quer dizer, necessariamente, que o espectador concorde com a crueldade, mas sim que as ações do personagem dialogam diretamente com “fatores sociológicos e psíquicos profundos”.

Além disso, a vilania promove conflitos importantes para qualquer história. E tanto Odete quanto Fátima têm conflito de sobra.

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