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Olhos podem ser afetados por alterações na tireoide

Última atualização 22/09/2021 | 20:33

“A consequência mais grave do acometimento ocular na doença tireoidiana é a perda da visão por compressão do nervo óptico ou por dano corneano, podendo até chegar à perfuração ocular. Neste caso, está indicada a cirurgia de urgência”

Alterações na tireoide causam diversos problemas de saúde. O que muitas pessoas não sabem é que os olhos podem ser afetados. A oftalmopatia de graves, por exemplo, é uma doença causada por descontroles na glândula tireoide, principalmente o hipertireoidismo. “A doença ocular pode aparecer antes, durante ou após as manifestações sistêmicas da doença tireoidiana, ou seja, pode ocorrer com hipertireoidismo (aumento da dosagem de hormônios tireoidianos no sangue), mas também com dosagem hormonal normal ou até com hipotireoidismo (diminuição da dosagem)”, explica o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica Ocular (SBCPO), dr. Roberto Limongi.

Segundo o oftalmologista, os sinais e os sintomas que aparecem nas etapas mais precoces são muito inespecíficos. “Os pacientes percebem edema periocular, lacrimejamento, sensação de areia nos olhos, intolerância ao vento e ao sol – como se tivessem um quadro de conjuntivite. Com o passar do tempo, passam a notar dificuldade para focar objetos, especialmente na leitura, e podem notar também a presença de inchaço nas pálpebras e bolsões nos olhos. Todos esses sintomas se acentuam, pela manhã, e vão melhorando no transcorrer do dia. Se a doença progride, os pacientes passam a perceber que o olho está mais aberto, mais exposto, mais ‘saltado’. Nos casos mais avançados, essas pessoas têm dificuldade e dor ao mover os olhos e também visão dupla (estrabismo)”, detalha o médico.

Segundo dados da Sociedade Brasileira de Oftalmologia (SOB), a oftalmopatia de graves acomete de 25 a 50% dos pacientes portadores da doença, e é mais frequente no sexo feminino, entre a segunda e a quinta década de vida. “A consequência mais grave do acometimento ocular na doença tireoidiana é a perda da visão por compressão do nervo óptico ou por dano corneano, podendo até chegar à perfuração ocular. Neste caso, está indicada a cirurgia de urgência”, alerta.

A doença

O oftalmologista e cirurgião plástico ocular explica o que é a doença ocular tireoidiana ou oftalmopatia de graves: “É uma doença autoimune em que os linfócitos, células encarregadas de nos defender contra as infecções e de regular as inflamações, atuam incorretamente e atacam diferentes órgãos do corpo. Na glândula tireoide, se desencadeia uma inflamação por mecanismos desconhecidos, que ativam a produção de hormônios de maneira não controlada, criando hipertireoidismo”.

De acordo com o dr. Limongi, na órbita são encontradas células que têm a mesma proteína que a glândula tireoide. “Assim, os linfócitos atacam essas células, causando grande inflamação nos músculos, na gordura e na área periocular palpebral”, explica ele, que completa: “A inflamação e o edema (acúmulo de líquido) produzidos nesses tecidos fazem com que aumente o volume da gordura e os músculos engrossem. Assim, o globo ocular é movido para frente, promovendo protusão do globo ocular (exoftalmia ou proptose). O aumento dos tecidos frouxos das pálpebras e das sobrancelhas produzem um aspecto de ‘olhos saltados’”.

De acordo com o médico, o fumo piora o prognóstico: “Os fumantes têm uma doença de duração mais longa e respondem pior ao tratamento”, diz o médico, que complementa: “Nos pacientes em que detectamos precocemente a doença, obtemos uma melhor resposta com o tratamento com corticoides. É de grande importância que, nas primeiras semanas de diagnóstico da doença, os pacientes sejam examinados por um oftalmologista especialista em órbita e pelo endocrinologista para tratar a doença tireoidiana, pois a dosagem hormonal pode ser normal nos primeiros meses”.

Tratamento

Segundo o presidente da SBCPO, é fundamental para o tratamento da doença orbitária um controle adequado dos níveis sanguíneos de hormônios tireoidianos, daí a importância do acompanhamento rigoroso pelo endocrinologista. “Inicialmente, fazemos o tratamento clínico com anti-inflamatórios hormonais (corticoide). Porém, quando a doença está inativa e sem inflamação, o tratamento é cirúrgico para reabilitar os pacientes das mudanças causadas pela doença, seja pelo estrabismo (visão dupla), por retração palpebral (‘olhos assustados’), pelo exoftalmo (‘olhos saltados’) ou por bolsões ao redor dos olhos”, finaliza.

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